sábado, 9 de fevereiro de 2008

Caiaque de Brasília a Santa Catarina - Parte 3 Rosario (Argentina) a Carmelo (Uruguay)
















Olá amigos, estou há mais de 10 dias em Rosário, pretendo sair na quarta, mas tem muita coisa por fazer.
A barra vai pesar daqui para frente, parece que os caras do Uruguai não vão me deixar passar, então vou entrar de qualquer jeito e evitar a prefectura e tentar chegar no Chuy. Posso ser preso e não sei o que pode suceder, mas é assim que viajo, é tudo ou nada.
Eu não sei se vou conseguir passar pela rebentação, não sei fazer direito o rolamento, eu consigo fazer de uma maneira que não é a mais correta, pois demora muito.
Nunca fiz isto antes. Bueno, agora os meus anjos da guarda terão um trabalho danado, confesso que estou todo borrado, mas tenho que obedecer às ordens do espírito.
Eu não esperava a recepção que tive aqui dos meus amigos, foi incrível.
Ao diário:

30/09/05 Quarta dia 104 Cidade de Paraná
Depois da Internet e voltas pelo bairro retorno ao clube e reencontro Lucas, Marcelo, Javier e Victor. Brinco com eles dizendo que Pelé foi melhor que Maradona, pronto, está armada a confusão, he, he!
Depois chega Eduardo que me leva ao jornal El Diario. Conheço o jornalista Armando Degani, gente finíssima.
Todos na redação ficam impressionados com a sucuri.
Faço um acordo com Degani, aqui na Argentina eu sou Boca e no Brasil ele é Grêmio. Aliás, as cores do clube Campeão aqui no Paraná são as mesmas do Grêmio, assim como a camiseta do Clube de canoagem do Eduardo é idêntica também.
Depois fomos conhecer outro amigo, Chiche e ali comemos uma deliciosa pizza ofertada por ele. Fui conhecer o secretário de esportes e dali fui dormir no clube.
01/10/05 Sábado dia 105
Já é Outubro!
A filmadora está super estranha, liga e desliga sem parar, acho que foi a umidade.
Tiro fotos da viagem de Eduardo e descubro que todas as fotos anteriores sumiram... Evaporou tudo! Mais de 650 fotos...
A filmadora tem um cartão de memória que armazena até 1200 fotos digitais, menos mal que também tenho as fotos da máquina fotográfica (de rolo e à prova de água).
Nunca tive fotos digitais e o grande risco é este, simplesmente pode apagar tudo...
Só não estou louco porque Lucas diz que é assim mesmo, que deve estar em algum lugar do cartão de memória.
Não entendo de nada, espero que em Rosário Daniel Ross encontre todas, era nele que eu tinha esperança que baixasse as fotos para mandar aos meus amigos. Agora elas somem a dois dias de chegar em Rosário, é muita sacanagem.
Chegam os remadores, já estou tomando mate e comendo facturas (pão doce) que o Lucas trouxe de manhã cedo. Todos os alunos da escola de canoagem terão uma avaliação (prova teórica) com a prefectura e por isto não arrumo tudo logo, não quero perturbá-los.
Meus amigos de Rosário estão enlouquecidos, querem saber quando saio, Juan queria vir aqui e me acompanhar, os irmãos Ross querem se encontrar pelo caminho que eu nem sei como é. O pessoal da prefectura naval vem perguntar a que horas saio, pois meus hermanos ligam para eles sem parar.
Juan queria vir para cá, digo que não se incomode. Os irmãos Ross (Diego e Daniel) falam direto e também querem saber quando saio.
Estou apenas a 150 km de Rosário e já planejei que vou fazer estes 150 km em dois dias, pois estou louco de vontade de rever meus amigos. Primeiro eu faço apenas 50 km quero tentar fazer os 100 km restantes em um único dia, é minha última chance de tentar isto, tenho que aproveitar a correnteza e a motivação de rever meus irmãos argentinos.
Eduardo me mostra os mapas, as ilhas onde devo entrar para chegar em Diamante, daqui há 65 km. Eu não tenho como agradecer tanta gentileza e apoio. Ele liga para uma amiga em Diamante, Lídia.
Diz que ela estará me esperando.
Colocamos o barco na água, nunca vi tanta gente vindo se despedir de mim, estou comovido e vou dando adeus a todos.
O oficial da prefectura se despede ficando em posição de sentido e batendo continência...
Aqui eu não sou um louco, o pessoal entende o que estás fazendo e te respeita por isto, show!
Bah, quase me emocionei!
Muito obrigado aos meus queridos amigos de Paraná.
Estou saindo mais tarde do que queria, mas não importa, são 11h40min.
Aqui é o km 600 e não sei se chego, mas sei que meus amigos estão me esperando em algum lugar no caminho.
Eu não os vejo desde sua viagem há dois anos e não acredito que estou chegando em Rosário de caiaque, da mesma forma que os conheci (quando eles passaram na Guarda e na Lagoa da Conceição vindos desde Rosário rumo ao Rio de Janeiro em caiaque), agora papéis invertidos.
Sabendo disto, remo com muita força, aproveitando a correnteza e a falta de vento contra.
Vou remando como um touro furioso que volta para casa correndo ao saber que sua vaca está com outro boi, he, he!
“APAGADÃO”!
É um ritmo forte demais, remo assim até que resolvo fotografar uma bóia de sinalização onde tem a quilometragem.
Bueno, o animal quer tirar uma foto bem perto, de modo que os números apareçam. Então deixo a proa se aproximar bastante, a favor da forte correnteza:
- Não tira agora, deixa chegar mais perto!
Fui deixando chegar mais perto, mais perto... Tiro a foto, baixo a câmera e vejo que vou bater. Tenho que travar o remo, só que ele está flutuando ao lado e eu estou com a máquina fotográfica nas mãos.
O choque na bóia foi inevitável e o caiaque vira. Estou furioso comigo mesmo.
Puxo a alça e venho para a superfície. Desviro o caiaque, a alça da máquina fotográfica bate em minhas pernas e a recupero:
- Seu animal, tunda de relho é pouco para ti.
- Não acredito, conseguistes virar o caiaque em um dia sem vento e sem ondas...
Bueno, o mal já estava feito, monto no caiaque cheio d’água e retorno para a ponte de comando.
Essa “brincadeira” detonou a máquina fotográfica à prova dágua. Sigo ao sabor da correnteza e vou tirando água. Depois aproveito para comer assim mesmo, sem baixar terra. Volto a remar, passando por diversos povoados, mas nem sinal dos amigos.
Depois de 4h diminuo o ritmo, o corpo não responde mais aos desejos do espírito.
Finalmente encontro uma entrada de canal semelhante àquela que Eduardo indicou para chegar a Diamante.
Pergunto ao pessoal que está pescando por ali e o senhor diz que não é por ali. Tenho que voltar um trecho contra a correnteza para retornar ao rio.
Volto ao canal e sigo bem longe da margem, vou passar batido pelo povoado que vejo ao final da ilha, por minhas contas deveria ser ali...
Melhor sair da rota e confirmar com um pescador que vejo ao longe.
Ele confirma que ali é Diamante (km 533). Rosário está no km 425, serão 108 km para fazer em um dia. Ou eu faço ou não me chamo João Cardoso...
É cedo, daria para seguir em frente, mas resolvo dormir em Diamante com o intuito de fazer os 100 km no dia seguinte. Se continuar, serão menos de 100 km no dia seguinte e isto eu não quero.
Tenho que voltar contra a correnteza para chegar na city. O boludo na entrada do canal informou errado, teria chegado bem antes...
Às 17h20min chego ao Clube Náutico Diamante e Lídia faz sinais para que eu chegue ao local certo.
Ela é super legal, filha de brasileiro e fala bem o português.
Deixamos o caiaque no galpão do clube e dali seguimos em seu carro para sua casa. Ela tem três filhos pequenos super ativos e divertidos. Lídia preparou uma feijoada e seu marido (Manoel) chega mais tarde. Deixamos o caiaque no abrigo de barcos do clube e seguimos para a casa dela juntamente com seus três filhos que fazem tremenda algazarra no banco de trás e que me fazem rir sem parar.
Ela conta que seu marido é guarda-parque e que ele era colega do guarda-parque de Foz do Iguazu que perdeu o filho de uns quatro anos. Ele foi atacado por uma onça, mas não foi devorado como falavam. As onças levam para um esconderijo e comem mais tarde.
Eles mataram duas onças, mas não foram encontrados vestígios de carne humana nelas; a onça que matou a criança não foi encontrada.
O “SEQUESTRO”

Enquanto ela dá banho nas crianças, a campainha toca.
Não acredito! Não sei como me encontraram aqui na casa de Lídia.
São meus amigos, os Ross (Roberto, Diego, Daniel, Agostín), Aldo e Damian . Meus irmãos de Rosário.
Os malucos querem que eu vá a Rosário com eles e retornaremos amanhã de manhã com os caiaques deles para que me acompanhem até Rosário por água...
Fico super constrangido, pois acabei de chegar e Lídia fez a feijoada só por minha causa.
Lídia é muito gente fina, aceitou o seqüestro muito bem, mas disse que eu deveria levar a feijoada comigo, simulando estar braba.
Realmente fiquei constrangido, mas estou fazendo esta viagem justamente para reencontrar meus amigos depois de 2 anos...
No total, eles farão 400 km por terra para ir e vir de Rosário duas vezes, fora os 100 km por água até Rosário para me acompanhar.
Todos trabalham e cancelaram seus compromissos só para isto...
Lídia percebeu isto e me perdoou.
E assim seguimos todos juntos no Golf de Roberto, a 160 km/h, para Rosário.
Seguimos para a casa de Roberto onde reencontro Laura, sua esposa e conheço os outros filhos, Toa e Francisco.
Tchê! Que loucura!
Cheguei em Rosário antes de chegar. A ficha não caiu ainda é uma mudança brusca e as coisas estão acontecendo rápido demais.
Aquela rotina de solidão foi substituída de repente por mudanças que meus hermanos estão fazendo acontecer.
... E VAI ROLAR A FESTA
Depois da janta sigo com eles (com roupas emprestadas) para uma danceteria (boliche) onde conheço outros amigos, Lionel, Guilhermo, Roberto e Paulo “Oso” (urso em português).
Chicas hermosas, muito som, o bar se chama Luna.
Outra festa, reencontro Juan La Bianca, Ariel e Romina, namorada de Diego.
Ao amanhecer vamos dormir.

2/10/05 Domingo dia 106
Que entrada de sola em Outubro! Acabei dormindo na ¨Tapera”, uma República onde vivem Ariel, Diego e Lionel, em três apartamentos conjugados. É altíssimo astral, há um pátio comum, vasos com plantas exóticas e um mate para despertar.
Seguimos para a casa de Roberto onde almoçamos com toda a turma.

Conheço o pai de Laura (Roberto), que escreveu o livro “Buscando Rumbos”, narrando a viagem dos hermanos até o Rio de Janeiro.
Casa cheia, comida deliciosa e vinho, falta eu chegar de verdade, de caiaque.
Seguimos na van de Roberto até a guarderia onde estão os caiaques deles.
Fico impressionado com a quantidade de caiaques, deve ter mais de 400 aqui, e há várias guarderias como esta, é impressionante!
Colocamos os caiaques de Paco, Ariel, Aldo, Diego e Daniel e seguimos de volta a Diamante, onde ficou o meu. Olha só o trabalho que estou dando!
Passamos pela linda ponte de dois arcos, com imensos cabos de sustentação rumo a Victoria.
Por volta de 17 h chegamos em Diamante e fomos para a casa de Lídia, que não estava. Dali seguimos para o clube e conheci a senhora Alicia Garcia, da diretoria.
Agradeço a hospitalidade, ela fica contente de saber que meus companheiros são os que fizeram a viagem até o Rio de caiaque, eles são famosos na Argentina e muita gente já ouviu falar deles.
A saída de Diamante escoltado por meus amigos
Daniel Ross e o caiaque que aparece na capa do livro
Já é tarde, são 18 h, vamos seguir só por uma hora e acampar. Seguimos em frente, os seis caiaques lado a lado.Eu começo a rir sozinho, depois de três meses e meio sozinho agora sigo ao lado de meus irmãos que tanto queria rever, não parece ser real.
Chegarei a Rosário (depois de 3.600 km) da mesma forma que eles chegaram na Guarda do Embaú, de caiaque...
É tudo muito louco! Ontem eu cheguei de caiaque em Diamante e hoje sigo normalmente, só que neste tempo, viajei 200 km por terra, jantei e almocei com os amigos, passei toda a noite numa danceteria em Rosário e agora estou de volta ao rio Paraná (em Diamante) rumo a Rosário por água e acompanhado de cinco caiaques que fizeram a viagem de Rosário ao Rio de Janeiro...
Embaralha os neurônios de qualquer vivente!
Após uma hora, paramos no km 523 e montamos acampamento entre um bosque de salgueiros.Local lindíssimo!
Logo quatro barracas estão montadas ao redor de uma enorme fogueira...
Eu nunca fiz uma fogueira a viagem toda!
Uma chaleira aquece a água para o mate enquanto comemos empanadas deliciosas. Depois eles colocam uma velha panela, toda amassada e preta de fuligem, para fritar milanezas de pescado. Essa panela é guerreira, fez suas refeições até o Rio de Janeiro.Bueno, nunca comi tanto. Quando penso que vai parar, eles colocam carne em espetos e um churrasco está a caminho...
Depois o mate ao redor do fogo e a conversa segue o rumo de muitas aventuras.
Era mais do que eu queria: estar ao redor de um fogo de chão tomando mate e conversando com meus amigos.
Depois fico olhando as brasa e o crepitar da lenha...
Brother, é assim que eu “viajo”, não preciso de mais nada!

3/10/05 Segunda dia 107
Acordamos cedo, fogo mate, comida, comida, comida! Comemos deliciosas facturas.
Os caras são fortes e comem na mesma medida. Fico pensando como seria se eles tivessem só um pedacinho de queijo, salamito e uma barrinha de chocolate para remar o dia inteiro...
Acho que eu seria esquartejado pelo pelotão!
Descubro o nome das árvores plantadas às margens, são Alizos, iguais no Rio Paraguay.
Partimos às 09h20min e vamos seguindo pelo meio, onde a correnteza é mais forte.
Duas horas depois estamos parando para descansar. Mal chegamos e uma fumacinha surge entre os galhos. Eles dizem que a fogueira é o símbolo de um kayakista, ela aquece água para o mate, faz as refeições e os aquece em noites frias, fora o fato de expulsar os infernais hehenes (ou jejenes), uma espécie de maruim. Comemos as milanezas de pescado que sobraram de ontem, facturas, bolachas e pão. Eles dizem que eu tenho que comer muito para ter forças e remar no mar. Entra um forte vento contra, vou ficando para trás, pois o meu caiaque está muito carregado e as ondas passam por cima e trancam ao bater no colete que está na proa.
Mesmo que eu fique para trás, sempre tem um deles remando a meu lado para não me deixar sozinho. O grupo da frente espera um pouco e assim vamos em frente.
Fico constrangido, mas não tenho forças para seguir mais rápido.
Para piorar, o maldito vento Sul aumenta cada vez mais e ali pelo meio fica difícil para mim, pois as ondas vão travando meu caiaque.

O dia passa, eles perguntam se quero parar, digo que não, que quero seguir.
Morro seco, mas não me entrego!
Pausa para o mate Bosque de Sauces (Salgueiros) Centenas de ninhos
O vento ficou tão furioso que eles decidem parar entre um bosque de salgueiros. O local está cheio de ninhos de pássaros e o chão tem muitos filhotes mortos. Ofereço as facturas que tenho, estão meio verdes e eles refugam. Falo da lei de Lavoisier e como uma.
Não adiantou. Joguei fora as outras para manter as aparências, estivesse sozinho, comeria todas, he, he!
Está frio, tomamos mate para aquecer e seguimos às 17h30min. Entrou um SW que tornou o meu avanço uma tristeza. Sou obrigado a viajar como fazia sozinho, buscando abrigo junto a margem, onde a correnteza e as ondas são mais fracas, mas onde consigo avançar sem me chocar com as ondas.
Está difícil, digo que por mim vamos em frente, acho que não conseguiremos chegar no rancho de Paco.
A intenção era essa, mas o forte vento os faz mudar de idéia, resolvem parar mais cedo na esperança de que amanhã o vento diminua.
Paramos (às 18:30 h) em um local que me parece desabrigado do fortíssimo vento gelado. É um barranco alto, onde eu nunca teria parado, pois tem que erguer o caiaque.
Na hora de levar o meu, eles ficaram impressionados com o peso. Isso que agora ele está leve. Nas represas, quatro pessoas o levavam com muita dificuldade. Quando saí de Brasília então...
Estamos todos encharcados e congelados. Entramos pelo mato buscando um ponto onde não haja vento. Ali Diego abre uma enorme clareira com meu machete (facão) colombiano. Fazemos uma grande fogueira e montamos as barracas ao redor.
Eles compraram bagres e pintados de uns pescadores um pouco antes e os fritam enquanto vamos tomando mate para aquecer.
Depois do peixe, uma deliciosa sopa que todos compartimos da mesma panela.
Ficou muito frio, parece que vem chuva.

4/10/05 Terça dia 108
Amanhece feio, o vento parece pior que ontem e a barra vai pesar para o meu lado. Aldo levará minha barraca e já se foram os seis litros de água que eu levava.
Após o mate e o café, partimos.
Melhorou muito nas ondas, mas o meu segue mais enterrado nas ondas.
Está muito difícil para acompanhá-los. Ainda por cima ficou bem frio, estamos encharcados e congelados, que dureza!
Eles continuam se revezando para me acompanhar, esses são meus hermanos rosarinos. Tenho orgulho de ter amigos assim: Paco, Aldo, Diego, Daniel, Ariel, mais Colo, Juan e Chipy, que não puderam vir.
Este é o símbolo do caiaquista: o fogo, o rio e o por do sol foto: Guillermo
Depois de três horas, eles resolvem parar junto a outro barranco alto, em local desabrigado.
Parecem pingüins remando com força e arremessando os caiaques contra um barranquinho de lama. Eu nunca teria parado ali e me torno um pingüim desengonçado ao tentar imitá-los. Aldo levanta o meu caiaque, comigo dentro, e o puxa.
Ele é odontólogo e faz cirurgias hospitalares, ortodontia, etc. Pobre do paciente se tiver um dente anquilosado (preso ao osso), Aldo extrairá até a mandíbula do vivente.
O pior é que ele dispensou os pacientes por um dia, mas só chegaremos ao final do dia seguinte.
Ali é muito desabrigado, seguimos pelo meio da mata, onde enormes porcos seguem pelas trilhas, até chegar em um banhado, onde o vento não bate. Colocamos roupas secas e ficamos ao redor do fogo para esquentar e tomar um mate. Comemos o que restou de bolachas, mate cozido e café. Depois uma barra de chocolate e o resto de amendoins que eu tinha. Eles lembram das facturas que tive que jogar fora. Agora comeriam todas.
Uma baita aranha sai do tronco que pusemos no fogo.




Pausa para o almoço Quase não tem mais comida Uma baita aranha fugindo do fogo
Retornamos ao rio às 14h20min e seguimos rumo a um canal que protegerá um pouco mais.
As ondas estão detonantes, fico para trás e sozinho, agora não tem testemunhas. Dá um ataque de fúria galopante e remo como um doido contra as ondas até chegar na entrada do canal. Foi muito difícil, estou nas últimas.
Passamos por um longo trecho só de chatas e navios estacionados ao longo da margem. Seguimos pelo canal após um breve descanso e chegamos ao fim da ilha. Dali partimos
Para uma travessia com ondulações grandes por través, o sol pegando de frente.
Passamos por outra ilha e chegamos na margem direita.
Fomos nos aproximando e encontramos Juan la Bianca nos esperando na margem. Desço para cumprimentar o amigo e depois seguimos para a ponte.
Pude ver a ponte de Rosário e ali tiramos uma foto erguendo os remos com a ponte de fundo.
É uma emoção muito grande estar chegando aqui, depois de mais de 2500 km por terra, mais de 3600 km remando e quase três meses e meio de viagem.
Valeu a pena!
Passamos pela ponte e um pouco adiante chegamos na guarderia Costa Norte, a mesma onde eles tiraram os caiaques. Romina está esperando, aparece outro hermano, é o Gerardo Weir, o Colo( colorado , foguinho, ruivo) e sua filha Juanita, construtor dos caiaques que utilizamos.
Nem parece que faz 2 anos que nos vimos.Estamos encharcados e congelados. Vamos comer umas milanezas até que chega Jorgelina, noiva do Paco e que nos leva em seu Ford Ka até a Tapera.
5/10/05 Quarta dia 109
Fui ao shoping com os amigos, depois fiquei girando pela city com Paco e descobrimos com um cunhado dele que realmente as fotos sumiram, agora está confirmado.
Ele diz que conhece um cara que tem um programa de recuperação que talvez possa recuperar...
Fiquei chocado, baixou o astral...
Depois passamos no veleiros para encontrar um amigo dele e que construiu seu próprio barco, um veleiro de 36 pés e que tem um lindíssimo cão, um terra nova. Ele é todo preto, igual a um São Bernardo.
Dali vamos à guarderia pegar minhas roupas molhadas e conheço Angel e sua esposa, ele me presenteia um colete igual a estes de aviação e depois conheço Gisele, uma santista simpática que vive há muito em Rosário.
Fomos na loja de Paco (La Proa) muito bonita por sinal.
Ele me deixa na tapera e dali sigo com Ariel, conhecemos Fernando, um cara super legal, pode ser que recupere as fotos, pois ele possui um programa específico de recuperação de imagens.
Depois seguimos para a casa de Marcelo, pai de Romina e que também esteve na pousada ano passado.
Reencontro Nora, sua esposa, Marcela, Juanita, Marco (acabou de retornar de uma competição), ele é vice-campeão sul americano de caiaque K 2, aliás, Romina é campeã pan-americana de k1, êta família macanuda!
Depois chega Paco e Jorgelina, Aldo e Antonela, Juan, os irmãos Ross e Ariel.
Fernando liga para Ariel, ele diz que recuperou 660 fotos, todos fazem um brinde, pois minha alegria contagiou a todos.
Esse trabalho de recuperar fotos apagadas somente um profissional do ramo como Fernando. Além do mais, tem que ter esse programa de recuperação que só ele tem.
Marcelo é outro grande amigo e adoro sua família, a gente se divertiu muito na Guarda e aqui está muito bom. Ele assa frango e temperos em uma roda de arado. Ficou delicioso e a noite termina regada a vinho e a cerveja.
6/10/05 Quinta dia 110
Acordo tarde, depois chega La Bianca e vou com ele fazer um passeio de veleiro pelo rio, até isla Verde.
Dia de sol, calor e sem vento... O boludo só aparece quando estou viajando.
Passamos pela ponte de Rosário e vou manejando o veleiro contra a correnteza.
Ficamos na ilha, tomando mate, vendo o final de dia e olhando no mapa os lugares onde terei de passar. Juan fala de seus planos, talvez de veleiro, dá para perceber seu fascínio e não fica difícil adivinhar o futuro...
De noite ele preparou uma janta, revejo sua irmã, Julieta, Martim, Camilo e Daniela, que estiveram na pousada ano passado. Depois chega Fernando e Fabiana, gente finíssima. Seus pais, Osvaldo e Norma, além de Damian, outro amigo.
Outra noite maravilhosa entre amigos.
Já é 1 h da manhã quando todos se vão e aproveito a calmaria para escrever o diário até às 3 h da manhã.
7/10/05 Sexta dia 111
Pela parte da manhã fomos à guarderia buscar o meu caiaque. Passei vergonha ao tirar quilos e quilos de porcarias do interior dele. Juancho balançava a cabeça em sinal de reprovação. Também pudera, até um tubo com bombinhas levava para espantar onças, ridículo!
Fomos para a loja de Colo e lá encontro Fernando, que conheci ontem.
Colo Weir eu conheci quando foi para Floripa buscar o caiaque de Paco (que havia deslocado o ombro e retornara para Rosario). Levei ele e o caiaque até Peruíbe, em São Paulo para encontrar-se com os outros que tinham seguido em frente. Descobrimos eles alojados no corpo de bombeiros.
A loja de Colo é lindíssima, caiaques pendurados, artigos de remo e roupas.
Dali seguimos para a fábrica de Colo, onde nasceu o meu matungo, o Maktub.
Meu cavalo velho chora de alegria ao rever o local onde nasceu.
Colo vê o que será necessário arrumar, o casco está que é um risco só, mas tem fraturas e fissuras que merecem mais atenção. Ele vai trocar a tampa traseira por uma de borracha, que veda melhor que esta. Vou ganhar um leme novo e o sistema de timão será modificado. Colo não vai cobrar nada, apenas coisas que eu comprar da loja (uma capa mais forte e um casaco de neoprene mais fino, próprio para remar) e a preço de custo.É brody não tenho razão em dizer que são meus irmãos?
Colo mostra sua linda casa e depois nos vamos. Os Ross estão me esperando na casa de Juancho para uma pequena viagem de 1000 km ida e volta até a cidade de Villa General. Belgrano, em Córdoba. Nós estamos partindo para a maior Oktoberfest da Argentina.
De repente estou na estrada com os Ross, Paco e Ariel. Não consigo colocar os pés no chão, é uma roda louca, conhecendo gente de rodo e o carinho e a hospitalidade de meus irmãos e familiares.
Não querem que eu gaste nada, eles pagam tudo, fico meio chateado, às vezes, pois quero pagar algo e não deixam. Eles se revezam para me hospedar, almoços e jantas.
Juancho falou que ficou emocionado ao saber que dei o nome Hermanos de Rosário ao raid.
Mas tchê, essa acolhida foi muito além do que eu esperava, ainda não consegui dormir antes das 3 h da manhã, escrever, telefonar, Internet... quase não deu tempo!
O diário está atrasado, não respondi e-mails e muito menos transcrever o diário para o computador.
Quero me ver voltar ao ritmo antigo.
Parece que terei problemas no Uruguay, que a prefectura de lá é muito rigorosa e que não me deixarão passar. Então só me resta entrar clandestino, evitando as autoridades que vigiam tudo e param qualquer um, saco!
Oficialmente, vou informar a prefectura Argentina que minha viagem encerra no bairro San Fernando, na Capital. Dai seguirei atravessando o rio de La Plata rumo ao Uruguai sem avisar ninguém, caso contrário a prefectura Argentina avisará a uruguaya de que estou indo. Tenho que chegar em alguma aduana a pé, dar entrada como turista e seguir no caiaque. Como farei isto eu não sei ainda.
Se eles me pegarem, não sei o que vai acontecer. Não basta eu ter que me preocupar com as rebentações, o mar e as correntes e já tem mais esta...
Juan fala que quando as ondas forem estourar sobre mim, tenho que virar o caiaque para que estourem no casco, desvirar rápido e remar com tudo antes que venham outras.
Até a parte de virar o caiaque eu sei, quero ver o resto, acho que estou futz!
Bueno, estou aqui na estrada com eles, mas quando dá tempo eu me vejo no mar...
Daqui para frente será uma viagem completamente diferente, vou ter que me adaptar rapidamente, como foi nas corredeiras...
Está numas tipo assim:
- Decifra-me ou te devoro!
Tudo o que já fiz ficou para trás, como as folhas de um diário: corredeiras, afogamento, hospital, lesões, sucuris, barragens, onças, traficantes...
Quase tudo que imaginei antes aconteceu e o que imaginei para o mar era que ali estaria o meu destino... E eu estou fazendo de tudo para ir de encontro a ele, super estranho!
Bueno, na verdade eu acho que não vou conseguir não me julgo competente para atravessar a rebentação, tenho um pavor interior pelo mar que nem uma viagem de windsurfe e duas de caiaque foram capazes de tirar, pelo contrário. Elas me deixaram mais consciente dos perigos que vou enfrentar. Quase me dei mal em várias oportunidades, mas isto talvez me ajude na hora do sufoco que certamente vou passar.
Parodiando os caminhoneiros:
- Minha vida é a rede que o destino balança!
- Senhor!
- Fale soldado!
- Alguns estão com medo de morrer...
- Bueno, eu acho que morrer é só uma questão de tempo, o importante é como se morre.
- Tenho orgulho de todos aqueles que chegaram até aqui e daqueles que tombaram pelo caminho.
- Eu quero que todos sintam orgulho de vocês, não importa perder ou ganhar, o importante é lutar até o fim.
- O campo de batalha assusta até a mim, estamos cada vez mais fracos, o inimigo nos supera em número e o rugir dos canhões (rompentes, rebentação) apavora.
- Pior é seguir na direção deles, esperar que estourem no peito e seguir em frente.
- Mas, soldados, nos representamos um povo que não se entrega e quero sentir mais orgulho ainda de vocês.
- Se alguém der um último suspiro no campo de batalha, tentem direcionar um último olhar na direção do Rio Grande do Sul.
- Eu só quero que no fim de tudo isto vocês possam dizer:
- Fiz o que pude!
Estou girando no meio deste vendaval de emoções e o real parece ser irreal.
Estou apavorado, eu confesso. Vamos em frente e ver no que tudo isto vai dar!
Volto ao corpo e aqui no carro vamos passando por várias povoações e cidades como Hernando, capital do Mani (amendoim) onde compramos alguns para minha viagem e para beliscar pelo caminho.
Seguimos pela noite até que chegamos em Villa Belgrano. A cidade está em festa, é parecida com gramado, construções em estilo germânico, muita gente alegre e chicas...
Ficamos instalados num camping e seguimos a pé para o centro. Vamos no bar de um amigo de Paco, Norberto. Fazemos um pré-aquecimento com cerveja negra e dali vamos para três boliches que estão cheios de borrachos.
Entramos em três deles, ao final da noite, participo indiretamente, de uma briga e tomo um banho de cerveja.
Uma longa caminhada pela noite fria e quase clareando vamos dormir.
08/10/05 Sábado dia 112
O sono não durou muito, pois uns boludos chegaram ao amanhecer e acordaram todo mundo.
Um mate e depois seguimos em dois carros para um local fora da city, chamado Los Reartes. Um rio de águas cristalinas serpenteando entre as rochas. Lindíssimo. Paramos ao lado de um quiosque com teto de palha e fazemos fogueira ao lado. Logo a carne está assando ao lado das brasas enquanto bebemos cerveja e vinho. Na casa em frente há cinco amigas deles: Soledad, Veronica, Georgina, Lorena e Eleonora. Elas são super simpáticas e se unem ao grupo. Lionel e Diego se foram pelas montanhas com André em duas Suzuki 350 calcadas com pneus cross enquanto Lionel, seu irmão Lizandro, Paulo “Oso” (urso), Estanislao (Lao) e Veron, o último participante da viagem deles e que eu não conhecia. Tomo um banho de riacho para tirar a cerveja de ontem do cabelo.
Está muito legal. Ao cair do sol retornamos para o camping para outra noite de farra. Ao lado de nossas barracas três gurias de Córdoba tomam mate com a gente e vamos todos juntos. Hoje entramos no parque cervejeiro, assistimos vários grupos de danças, muito lindo!
A turma está meio avariada, André é o mais ferido, Paco e Ariel estão à meia boca. O importante é que ninguém caiu e todos conseguiram voltar ao camping com suas próprias pernas.
09/10/05 Domingo dia 113
Liguei pro brother Paulo, hoje ele está de aniversário e foi muito legal falar com ele. Difícil foi explicar que estou perto da Cordilheira dos Andes participando de uma Oktoberfest há mais de 500 km de Rosário...
Vamos para Los Reartes de novo, lá é legal. Chegam umas Colombianas com uns doidos de Kombi. Os caras estão borrachos e vão para a cidade comprar carne e deixam quatro pedaços de filet mignon com a gente...
Invitamos as colombianas para comer com a gente. Tiramos fotos com elas e com as gurias de ontem, está muito legal. Vamos comendo o assado e quando os caras voltam sigo com Daniel para fazer trilha com as duas DR 350.
Aprendendo a fazer o “rolamento” tengo que volver a Colômbia...
Carolina y Romina
As motos são muito boas e enchi os dedos do pé com espinhos, pois a vegetação é toda assim, com espinhos e eu estava de chinelo de dedo.
Bueno, antes que eu caísse retornamos para o rio.
A tarde passa, retornamos para o camping e dali para o parque cervejeiro. Eu quase choro de tanto rir ao ver o Veron agarrando as gurias que passam no muque. Ele é engraçadíssimo, pois tem uma espessa barba negra e faz umas caretas de louco que tu não consegues ficar sem rir. Ele é muito forte e baixinho, quase gordo, mas é um baita amigo. Tiramos muitas fotos e todos estão meio altos. A festa termina em confusão porque a banda não quis tocar uma ultima música Chique-chaque e aí voaram cadeiras de plástico por tudo.
Dali seguimos para os boliches e depois para o camping. Estou quase dormindo quando escuto um estrondo, parece uma colisão, Diego diz que não ouviu nada, devo estar sonhando.
10/10/05 Segunda dia 114
Realmente um cara se esborrachou contra uma árvore. Estava bêbado e atravessou uma ponte sobre duas rodas. Foi um pouco depois de chegarmos a pé, pela ponte que ele passou...
Bueno, a vida segue, estamos quase demolidos por não dormir. Seguimos em caravana (três carros e duas motos no reboque) para a cidade de Santa Rosa de Calamuchita. Ficamos ao lado de um riacho parecido com Reartes, só que com mais gente. Uns loucos chamaram a atenção de todos ao se atirarem do alto de uma rocha. Comemos morcilha com salamito, pão e queijo e depois fizemos uma siesta ao lado do rio. Seguimos pela estrada passando por Rio Tercero e Embalse (onde tem um lindo lago e uma represa) localizada entre as montanhas.
A camionete da frente, dirigida por Ariel, segue com Veron na cabine e quatro na caçamba: Chipy, Lao, Oso e Roberto. Eles improvisam um teatro com bonecos feitos com as meias de Ariel e fitas adesivas como boca e olhos.
Rimos de chorar. Depois eles fazem uma cortina e quando baixam, estamos de cara com a bunda pelada de Oso à mostra. As pessoas que passam nos carros não entendem nada. Eles transformaram um retorno modorrento em algo divertido, esse é o espírito da turma.
Chegamos a Rosário já de madrugada, fomos dormir já passando das 04h30min. Nessa brincadeira já fiz mais de 1200 km de carro com mis hermanos.
11/10/05 Terça dia 115
Acordo mais tarde, chega Aldo com um programa de computador em que tu viajas pelo mundo em três dimensões por qualquer parte do mundo (google Earth). Estou fascinado, dá para ver até a ponte de onde saí no rio S Bartolomeu...
Dá para medir o percurso que eu fiz.
Daniel desmontou a filmadora, mas ela só funciona depois de ficar um tempo no sol. Conseguimos acessá-la ao computador e descobrimos que foram recuperadas 660 fotos, mas as últimas 70 foram apagadas.
Juan vem me buscar, vamos até a ilha em frente para ele me ensinar a fazer o rolamento. Ele tenta me ensinar a fazer o rolamento, mas não fui muito bem. Esse será o meu problema, pois no mar, o caiaque rola direto. Ou aprendo e sigo viagem ou vou me dar muito mal.
O pouco que eu sei foi o Alexey que ensinou (da Open Winds, de Floripa), um mês antes de partir. Alexey é amigo do Paulo Aires e do Damian (Paco) e foi muito gente boa.
Praticamente não poderei prosseguir. Por enquanto estou com nota três. Tenho que tirar 10, mas o tempo é curto.
Depois vamos a sua casa e comemos uma deliciosa massa.
Leio livros de aventura e durmo pelas 2h. É cedo, se comparado aos outros dias.
12/10/05 Quarta dia 116
Hoje retornei para as ilhas com Juan, Aldo e Paco. Fizemos uma fogueira, mate e pão com morcilha e salamito. Levanta um vento forte e frio, perdi o ânimo de treinar.
O vento é tão forte que quando retornamos tem muita gente andando de kite surf e windsurf.
Aldo e Paco retornam para o trabalho e eu fico na praia, esperando Juan voltar. Aqui a praia está sempre cheia de gente tomando sol e mate. Eles estão sempre por aqui, mesmo com tempo feio. Todos curtem muito o rio.
Vamos para a fábrica de arames de juancho. Eles recebem o rolo bruto da usina e fazem o tratamento químico e eletrostático para livrá-lo das impurezas e fazer a zincagem.
Ligo para meu sobrinho, o Luigi. Ele está de aniversário
De noite vamos para a casa de Aldo. Sua esposa Antonela, prepara uma deliciosa pasta (massa) que comemos em companhia de Paco y Jorgelina.
Dali retornamos e vamos dormir depois das 2 h da manhã.
13/10/05 Quinta dia 117
Passei a manhã toda organizando o que segue no caiaque e o que fica, tenho que aliviar peso.
Depois Diego vem me buscar e vamos almoçar em sua casa. Dali seguimos para a fabrica deles, onde fabricam enormes barcos de fibra, fazem reparos em navios de todo tipo além de isolantes para eletricidade.
Sigo com Roberto para a Tapera e dali vou com Ariel e Veron comer pizza e assistir um show de música chaqueña num barzinho chamado Aserradero.
Depois vamos a outro e seguimos para a Tapera. Na volta, atravesso toda a noite no computador traçando rotas para enviar os mapas aos meus amigos. Descubro que até B. Aires terei percorrido 4 130 km, um pouco a mais do que tinha calculado. Pude ver o R São Bartolomeu de cima, todas as represas onde passei, é só salvar a imagem e o que quiser estará gravado no computador. Às 06h45min da manhã estou detonado, vou confirmar o que fiz e tudo se foi... PQP! Gravei como arquivo e deveria ter gravado como imagem...
Foi como se não tivesse feito nada.

14/10/05 Sexta dia 118
Aldo chega de tarde, assistimos a um vídeo e eu fico por ali com eles. Como gravei errado as imagens, atravesso outra noite no computador fazendo tudo de novo, ficou bem legal. Vou dormir às 6:40 h.
!5/10/05 Sábado dia 119
Assistimos outro vídeo e depois vamos de bicicleta até a guarderia, meu caiaque ficou pronto e Colo o deixou ali. Depois vamos tomar um sorvete e eles resolvem fazer uma fiesta na Tapera. Resolvem fazer um assado e logo está cheio de gente. Rola muita carne, vinho e cerveja. Oso (Urso) começa a tocar violão e eu vou ao espaço quando ele toca Redemption Song, de Bob Marley e Wish you Were Here, de Pink Floyd.
Tchê, não sei se estava borracho, mas eu percebo o quanto eles estão fazendo por mim e fiquei emocionado.
Lionel é outro baita amigão, sempre me ajudou no computador, aturando os erros e ensinando como deveria fazer.
É numas tipo assim: inimigo deles é inimigo meu e vice-versa!
Eu quero muito bem a todos e essas coisas marcam a ferro, é difícil segurar a barra, ainda mais por tudo que passei para chegar até aqui e o que vou passar para voltar.
E aí brody, eu não digo sempre que essas merdas de fronteiras existem apenas em nossas cabeças?
Mis hermanos de Rosário, les quiero mucho!
16/10/05 Domingo dia 120
Hoje é dia das mães aqui na Argentina. O interessante é que é dia das mães católicas... O dia das outras mães eu não sei quando é, coisas do nosso mundo!
Vou com Diego, de moto, almoçar na casa de seus pais. Mesa cheia de familiares. Dali seguimos para a guarderia para mais uma sessão de tortura, quero dizer, rolamento.
Diego, Daniel, Ariel e mais tarde Veron. Depois chega Georgina e Valéria de barco. Parece que todo mundo vem assistir minha desgraça.
Até que consigo fazer, mas não é de uma maneira prática, não sei se serve nas ondas. Eles dizem:
- Já está!
Acho que fui aprovado com nota 5! E sem colar...
Como estou muito magro, fico tremendo sem parar, nem está tão frio. Já anoitecendo, retornamos para o outro lado.
Chega Juan acompanhado de Ernesto, que veio de B Aires de veleiro e que queria me conhecer por causa dos diários que Juan enviou a ele.
Vamos todos conhecer seu veleiro. O nome é Torroba, em homenagem a um argentino que cruzou o oceano de várias formas, com barcos que ele mesmo fez. Um destes era um tronco escavado com mastro rudimentar e ele cruzou o Pacífico... Ernesto o encontrou na Bahia e ficou impressionado pela forma de seus barcos rudimentares e quase nada de segurança.
Dali, sigo com Diego para a casa de Marcelo. O fresco deu o maior pau na moto, disse que era vingança, pois quando eles chegaram a Floripa fomos a uma festa e eu fui fazendo um pega com outro carro e eles quase foram a loucura...
Marcelo é outro baita amigo, assim como Roberto. Eles falam em ir à despedida, peço a eles para não irem, pois aí o coração do gaúcho velho não vai agüentar a barra e posso chorar. É melhor que eu me vá sozinho rumo ao meu destino!
17/10/05 Segunda dia 121
Acordo tarde, todos se foram e finalmente eu me animo a escrever o diário, passei todo o dia fazendo isto, fiquei meio vesgo, mas será um dos últimos que mandarei. Não sei como será daqui pra frente então é melhor que escreva agora.
Já noite, Juan vem me buscar para uma janta de despedida em sua casa, Ernesto, do Torroba estará retornando para B Aires. Paco e Pepe também aparecem. Foi muito agradável estar ali conversando com um experiente velejador, ele já viajou por muitos paises de veleiro, não gosta dos IANQUES por sua maneira de policiar o mundo, como se o mundo fosse deles. Acho que este é um pensamento universal, só os americanos que não se deram conta. Volto com Paco e Jorgelina e todas minhas coisas para a Tapera.
Resolvo responder aos e-mails enquanto Ariel dorme. Termino pelas 4 h.
18/10/05 Terça dia 121
Agora são 10:47 h, estou terminando este diário e vou tentar arrumar tudo para sair amanhã, acho que não vai dar. Eu queria dizer que estou com saudades de todos vocês e o destino só a Deus pertence. Então, de repente, além de terras e através do sempre, haveremos de nos encontrar. Um baita abraço do amigo André.
. .
ROSÁRIO A BUENOS AIRES
Olá meus amigos, que loucura tudo isto!
As voltas que o mundo dá... Eu estou cada vez mais com os pés fora do chão, conhecendo gente de rodo, outros mundos, modos de vida...
O mais difícil nisto tudo é saber diferenciar a fantasia da realidade, o momento em que cessa uma coisa e inicia a outra.
Depois de chegar, sair e voltar de B Aires, zilhões de coisas e sensações se passaram, não posso dizer que estou triste ou contente, o futuro da viagem é altamente incerto por causa da burocracia, mas eu só vou saber o que realmente é ao chegar no Uruguai.
Estou muito contente de ter chegado aqui, mas já é uma página virada. Estou curtindo os novos amigos aqui em Ezeiza, ao lado de Buenos Aires.
Acho que sigo na terça para o Uruguai, como sempre, é tudo muito louco e eu deixo o destino me levar para ver o que vai acontecer.
Na hora é ruim, mas por ser assim, tão difícil e inesperado, acho que estou fazendo uma das viagens mais emocionantes entre tantas outras.
Que Deus me ajude a seguir em frente, porque, se depender dos meus amigos, eu chegarei.
Sem eles, talvez as barreiras tivessem sido intransponíveis. Meu muito obrigado a todos, inclusive aos que me ajudam em pensamentos e orações. A seguir vai a continuação do diário:


Rosário - Argentina 18/10/05 Terça-feira dia 121
Terminei de por o diário em dia na internet e de noite fomos assistir ao filme “Iluminados por el Fuego”!
Há muito queria assistir a um filme que narrasse o que realmente aconteceu aos soldados argentinos nas ilhas Malvinas. O que assisti me impressionou, pois mostra a guerra pelo lado dos soldados que penaram nas gélidas trincheiras, da expectativa de um ataque, da fome e do frio que passaram.
As imagens de guerra são impressionantes, os soldados nunca sabiam o que estava acontecendo, apenas tinham que tentar se manter vivos sob intenso bombardeio e uma tecnologia e poder de fogo infinitamente superior.
Foi um verdadeiro massacre e o mais impressionante foi saber que o número de soldados que cometeram suicídio após a guerra está igual ao número de mortos nas ilhas durante os combates.
Fosse hoje, o massacre seria muito maior; é triste saber que seremos bem tratados apenas se estivermos de acordo com a política do “Eixo do bem”, como se auto intitula esse projeto de Hitler que se chama Bush e seu ator coadjuvante, Tony Blair.
Eles armam o palco, escrevem e dirigem a peça e a nós só cabe aplaudir ou assistir, atônitos, o rumo para onde eles direcionam o nosso planeta.
A dúvida é se os palhaços estão dentro ou fora do palco.
Veron, Aldo, Diego, Daniel e Ariel eram crianças de 2 anos ou menos quando tudo aconteceu, eu já havia feito duas viagens de bicicleta pela Argentina e quis me alistar para pelear por eles, mas a guerra durou apenas 3 meses.
O que o filme passa é uma sensação de impotência, o sofrimento dos soldados que nem sabiam o que estava acontecendo e as conseqüências de tudo isto em suas vidas.
Depois fomos comer umas pizzas.
E-mails:
Oi Rodrigo, estou há uns 12 dias em Rosário e talvez parta na quarta ou quinta. A barra vai pesar pro meu lado, tanto pela burocracia uruguaia como pela minha falta de capacidade de fazer rolamento, no mar será pior ainda.
Talvez eu seja preso, não sei o que vai acontecer, mas vou entrar na moita no Uruguai. Oficialmente minha viagem encerra em B Aires para que eles não passem rádio dizendo que estou seguindo.
Entrei no google earth e agora ficou tudo bem, mandei alguns mapas pro Danilo e acho que ficou mais fácil de entender o que já fiz. A viagem é bem maior do que pensava mas tudo bem, 200 ou 300 km a mais não será tão ruim assim.
Mais uma vez muito obrigado pela força, eu não te conheço, mas já te considero um amigo, assim como o Danilo.
Se conseguir chegar em Porto, quem sabe a gente não toma um mate junto?
Um baita abraço do amigo
André!
Grande garoto!
Vc tá indo super rápido. Mais rápido q eu consiga te mandar os mapas... hehe.
Sei q eles não tem te servido muito, mas vai q alguma informação ajude.
Ia ser muito bom se tu conseguisse uma carta náutica do delta do Paraná, q é um verdadeiro emaranhado de canais.
Infelizmente não tenho comigo. Vê se tem sobrando num dos postos da Prefectura q parar. Te antecipa. Te faz de loco e pede... se não tiver, pede no próximo. Acho importante esse mapa.
Te mando o que posso daqui.
Já perguntei ao Danilo Ribeiro se ele tem um mapa digitalizado dessa região. Acho q conseguiremos os costeiros, incluindo o do Prata, mas não dou garantias por enquanto. Conseguindo, te enviamos.
TORCEMOS MUITO POR VC.
NÃO TE ENTREGA, INDIO VÉIO!
Mas q fotos, heim?! Deu para ver q nem tudo nessa viagem é ralação... a foto do “treino de rolamento” (colombianas) mostra o quanto fácil é se perder por essas “águas”.... hehehe! Una buena estada ai! Estive anteontem em Paso de Los Libres (Corrientes)/Uruguaiana. Se tivesse pego o rio Uruguai teríamos nos encontrado. Mas quando vier a Porto Alegre certamente nos conheceremos. O Danilo me comentou q talvez apareça por aqui. Tb te considero um amigo desde já pq leva em ti parte de um sonho meu. Assim me identifico contigo e leva contigo algo meu. Agora, leva tb minha amizade.
Un abrazo!
Saludo, compañero!
Fuerza! Vais conseguir passar por essa prova marinha, tenho certeza!

Asterix~~~~~~Rodrigo Beheregaray

19/10/05 Quarta dia 122
Termino de arrumar e ordenar minhas coisas e depois vamos à guarderia verificar as mudanças que Colo Weir fez no caiaque.
Ele consertou rachaduras estruturais e colocou gel nas trincas maiores. Fora isto, trocou a tampa traseira, colocou um novo leme e cabos novos. Faltou trocar o timão por um sistema em “T”, muito mais confortável para os pés. Colo foi obrigado a retirar a bomba de porão, instalada por Henrique, do ICVI, de Florianópolis, no finca-pé. Na verdade eu nunca a utilizei de verdade, seria usada quando chegasse no mar...
Bueno queria partir hoje, mas fica para amanhã.
Vamos para a loja de Colo, ele me conseguiu dois sinalizadores que a prefectura uruguaia exige, uma tampa de borracha de reserva, fora o casaco de neoprene, próprio para remar, e uma capa de cintura emborrachada, a preço de custo.
Obrigado Colo, ficou 10!
Mis hermanos no queriam me deixar pagar, mas desta vez finquei o pé, pois isto era uma coisa pessoal.
Diego me leva um rádio VHF, outra exigência uruguaia, foi emprestado por Roberto Ross.
Da loja, vamos para a casa de Roberto, ele faz um churrasco de despedida.
Ali estão: Ariel, Veron y Vanessa, Diego y Romina, Lionel y Carolina, Lizandro, irmão de Lionel, Chipy y Carolina, Aldo y Antonela, Paco, Laura, Daniel, Toa, Agostín y Francisco Ross.
Eles têm dois Pitt Bulls que não são grandes, mas pesam em torno de 60 kg cada um. São fortíssimos. Estou acariciando um, quando o outro, enciumado (zeloso), ataca.
Dou um salto pro lado enquanto eles se grudam em uma briga feia. Muita água e puxados pelos irmãos Ross, a briga termina com eles feridos. Estão cheios de cicatrizes de brigas anteriores, orelhas faltando alguns pedaços.
20/10/05 Quinta dia 123
Arrumo tudo pela manhã, almoço com Aldo, Ariel, Lionel e Guilhermo. Na parte da tarde Juan La Bianca havia ido se despedir de mim na Tapera e diz que deixou os mapas do percurso dentro do caiaque.
É brother, estes são meus irmãos de Rosário. Fiquei aqui por 15 dias e sair não é fácil, ainda mais sabendo o que tenho pela frente...
Aldo acha que eu estou louco pra partir, digo que não, o que eu mais queria era encontrar meus amigos e agora seja o que Deus quiser.
Menos triste é saber que vou reencontrá-los em Floripa; devolvi a visita em caiaque e agora é a vez de eles irem, he, he!
Já se passaram 4 meses, 3 700 km por água, 3500 km por terra e ainda tenho mais 2.300 km pela frente...
Descobri a distância real pelo google earth, mais preciso impossível.
Até minha casa na Lagoa, em Florianópolis, serão mais de 6.000 km por água desde Brasília, fora a parte terrestre. É muito mais do que calculei inicialmente, agora vou em frente, azar!
A latitude de Brasília é quase igual à de Salvador, desço até B Aires e depois subo. É como sair do Chui e ir até Fortaleza, no Ceará. Não tenho certeza, é quase isto.
Sigo com Ariel para a guarderia onde Diego, Daniel, Lao, Roberto, Lizandro e Romina já estão me esperando. Diego faz os ajustes finais, colocamos tudo no caiaque e atravessamos a avenida em frente para a praia. Aparece Gisele, a simpática santista.
A praia está cheia de gente, é um dia de sol.
Eles tornam as coisas mais fáceis para mim e consigo sair sem “mariconadas” (frescuras). Entro no caiaque, olho para meus irmãos na praia e desvio o olhar rapidamente.
Um gaúcho que se preza não pode se emocionar e eu tenho que manter a moral da tropa.
A despedida dos Hermanos na Guarda do Embaú e a minha em Rosário... As voltas que a vida dá!

São 15h35min (km 425), começo a remar para o sul... Tchê, que troço mais louco, estou sozinho de novo e chegando cada vez mais próximo do mar.
Começo a remar para o centro do rio, olho pros meus amigos uma última vez e sigo em frente.
Ariel, Lionel, Lao e Lizandro me acompanham um pedaço e depois desviam em direção a ilha em frente, onde irão fazer um passeio.
Vou olhando a cidade que aprendi a gostar, onde vivi dias estonteantes. É um dia de sol, sem vento.
Palavras nunca irão dimensionar o que eles fizeram por mim, eu os tenho todos no coração.
Muito obrigado hermanos, que todos vocês fiquem com Deus e que a gente possa se reencontrar um dia.
Sigo em frente, vendo os diversos lugares que visitei, não vi o monumento da bandeira, um imenso bloco em homenagem a bandeira nacional que foi elaborada (cunhada) em Rosário, aliás, foi em Rosário que nasceu Ernesto “CHE” Guevara.
Remei direto por 03h30min até que o sol se pôs, às 19h10min.
Parei na ilha do Paraguaio às 19h15min, km 392.
Há um barranquinho entre um bosque de sauces. Forro o chão com algas e monto a barraca depois de muito tempo.
Há um inferno de mosquitos zumbindo na tela da barraca. Fico olhando através deles, para um ponto ao longe, ainda tenho a imagem de meus amigos na praia cheia de gente...
Tenho que voltar a me situar no tempo e no espaço
21/10/05 Sexta dia 124
Agora são 07h46min, esta noite passou muito navio bem rente ao barranco, pelo canal que passa ao lado. Escuto os sons de uma fábrica em frente, desmonto acampamento e vou treinar rolamento antes de iniciar.
Bueno descobri que o remo reserva não permite rolamento se estiver por dentro do cockpit (é um remo de fibra de carbono que ganhei de Paulo Aires, fabricante dos caiaques Akula, os melhores do Brasil), como vinha até agora.
Prendo as duas partes na coberta de popa e sigo em frente às 09h20min.
O tempo continua bom, fico maravilhado com a mudança de comportamento do caiaque; com o leme é outro barco!
Agora ele mantém uma linha reta, foram 3700 km sem leme...
Sigo em frente até o km 377 onde entro em um canal para cortar caminho. Paro um pouco adiante para descansar (11h40min – 12h20min) e ao levantar sinto um “puxão” na coluna.
Cara, que dor! Foi muito forte, parece que saiu do lugar. Acho que foi por causa do treinamento de rolido hoje de manhã. É uma dor lancinante, bateu o pavor de não poder continuar. O treinamento de rolamento força muito a coluna e como tenho uma hérnia de disco...
Se quero seguir, não devo mais treinar rolamento, vamos deixar para quando realmente precisar.
Passei por Villa Constitución onde enormes navios de ultramar estão sendo carregados.
Depois sigo até o km 360, ao lado de uma bóia, onde há outro canal que corta caminho para San Nicolás.
Paro na 1ª bifurcação deste estreito canal para descansar (13h40min – 14h30min) na sombra e escrever um pouco. São 14h18min, a dor diminuiu um pouco, mas está brabo. Há um gramadinho entre os salgueiros onde deito a sombra das árvores enquanto passam algumas lanchas. Há uma estradinha que segue paralela ao rio.
Sigo em frente e vejo muita gente tomando banho de rio, andando de jet e lanchas.
Chegando perto da city, as margens são mais bem cuidadas, parece um parque.
San Nicolás é muito bucólica e bonita. Paro na prefectura, pego água com Gringo e sigo em frente. Passo pelo porto e lembro de cenas do filme Mad Max ao cruzar com uma usina de carvão, navios gigantescos, poluição sonora e visual.
Devido às fortes dores, sou obrigado a parar de novo, já em outro canal. Depois retorno ao rio, atravesso o canal para buscar local de acampamento já na ilha La Espera, km 332, às 18h45min.
É outro barranquinho, canal passando ao lado, mas há abrigo do vento, um lindo banhado e um salgueiro para colocar a barraca abrigada.
Sons de bichos do banhado, muita dor e medo de não poder prosseguir. Tomo um antiinflamatório, escuto um pouco o rádio e vou dormir.

22/10/05 Sábado dia 125
Acordo só às 8 h, ainda estou com muito sono, estou me recuperando da loucura de Rosário. Ameaça chover, por isto arrumo tudo muito rápido. Faço muita massa, não consigo comer tudo e guardo para o almoço. Quando saí, às 09h20min, o rio ainda estava espelhado, ameaçava chover. Em 10 min tudo mudou, entrou um forte vento sul, encheu de ondas e fui obrigado a atravessar para buscar abrigo do vento mais forte.
Sigo até Villa Ramallo, pego água num bar próximo da beira e sigo por uma praia poluída até parar para almoçar entre outro bosque de sauces (12h45min – 13h35min).
Sigo em frente, passando por diversos cágados (tortugas) que estão sobre os troncos. Cheguei a contar dezoito sobre um mesmo tronco...
Depois vi cegonhas, um casal de cisnes de pescoço negro e Tarrãs.
Sigo protegido pela margem até que esta vira de frente para o sul.
Tchê, que ondas grandes e que força de vento...
- Tenente Issi!
- Sim Senhor!
- O que estás fazendo?
- Buscando abrigo junto à margem, senhor!
- Que porcaria é essa? Quero o pelotão pronto para o combate e desloque esse barco agora mesmo para o meio do rio!
- Senhor, estou meio ferido, a filmadora e a máquina fotográfica estão à meia boca....
- Bueno, então desiste dessa coisa toda agora mesmo.
- Nem pensar, senhor!
- Pelotão, todos aos postos de combate!

E assim ficou registrada mais uma peleia bruta e feia nas ondas do furioso Paraná, tocado pelo traiçoeiro inimigo das forças Farroupilhas, o famigerado vento sul de rajadas.
Ondulações grandes, várias pranchas de Windsurf voavam como doidas ao longe enquanto o caiaque mergulhava e perfurava as forças inimigas.
Mais um tempo e eu estava passando onde singravam as pranchas, já numa parte mais abrigada. Um deles, Diego, pára para conversar e me deseja sorte enquanto sigo a peleia, passando direto pelo povoado de Obligado, km 299. Dali sigo até o km 293 onde tem outro canal, que corta caminho para o povoado de San Pedro. Descanso um pouco e sigo em frente, até um pouco antes de chegar ao povoado, junto a uns salgueiros, pois prefiro acampar e sair cedo no dia seguinte (18h30min). Estou próximo da city, km 284. Escuto sabiás, gente, carros e vejo navios passarem quase a meu lado. Estou bem abrigado, a previsão é de chuva e vento mais forte para amanhã.
Agora são 19h30min, já comi e descanso. Desde Rosário já percorri cerca de 150 km, nada mal, visto o forte vento contra hoje e a dor na coluna ontem. Parece que está melhor.
23/10/05 Domingo dia 126
Arrumei tudo e parti às 08h22min até passar por San Pedro e chegar num terminal. Ali encontro três caminhoneiros de Uruguaiana, fico muito contente e depois sigo em frente.
Mal saio de um canal, entro no Paraná e já entro por trás de uma ilha, já no canal Baradero.
Ali é super estreito, bem abrigado do vento. O canal atravessa terras baixas, pequenos barrancos sem árvores e banhados. Sinto o cheiro de lama no ar, parece o canal de S Gonçalo, no RS.
Quase não tem local abrigado para proteger de um possível temporal.
Há muitos Tarrãs e gaivotas de vários tipos, o mar se aproxima...
Inúmeras palafitas, algumas abandonadas. Passo por uma propriedade privada onde há um verdadeiro castelo, localizado no alto de um cerro. Um lindo e imenso gramado segue até a encosta do morro onde há um bosque de matas nativas. Lá no alto fica o prédio imponente, cercado por enormes muros e com três enormes arcos envidraçados que tomam conta da fachada voltada para o rio.
Cercas eletrificadas, placas de proibido entrar, proibido nadar, pescar, navegar...
Vão se ferrar!
Basta encontrar um barranquinho mais alto ou com árvores que protejam do vento e ali já tem placas proibindo alguma coisa! Bueno, como estou de passo...
Vou remando quase sem parar, o céu está nublado e mais adiante está meio roxo, meio azulado. Coisa boa não é, mas não chove ainda.
Sou obrigado a parar adiante, vejo uma palafita junto à margem, com paus fincados ao longo do canal. Cada pau tem um ou mais crânios de bichos no topo.
Tem crânio de capivara, cavalo, porco, vaca, cabrito, casco de tartaruga, etc.
Converso com Diego, o dono, tiro fotos e sigo em frente.
Diego diz que o porco tinha perto de 150 kg e que há porcos nas ilhas com 250 kg...
Eles ficam soltos pelas ilhas e são enormes. Vi um tão grande que parecia uma vaca, inclusive havia 2 pássaros pousados em seu lombo.
Vou me aproximando da cidade de Baradero, centenas de pessoas ao longo dos gramados que margeiam o rio. São verdadeiros parques muito bem cuidados, áreas de camping, gente pescando, fazendo pic-nic ou só curtindo o visual.
Às 12h10min chego à rampa de um camping, falo com o Senhor Pereira e sigo a pé pela city até a prefectura. Hoje é dia de eleições e mesmo assim sou muito bem recebido por eles. Anotam meus dados e sigo em frente. Quero comer algo, ligo pra mãe, como uma milaneza, tomo 1 litro de leite achocolatado, frutas, facturas e volto pro barco. Seu Pereira quer tirar fotos, outro senhor me invita para um “asado”, estou emocionado com o respeito que eles sentem pelo que estou fazendo e pelo que tenho pela frente.
Parto às 14h15min, seguindo só pelos banhados e me dando conta que estou chegando em Buenos Aires. As emoções estão à flor da pele, mas não posso deixar a peteca cair, ainda falta muito.
Os olhos estão úmidos deve ser o vento frio...
Perto das 18 h já estou preocupado, pois o céu arroxeado não mente, vem porcaria e não demora. Pior, não acho lugar abrigado! Os poucos que existem são tomados pelas palafitas com cercas em redor.
Quase chegando ao fim do canal, encontro um bosque de sauces bem altos, desembarco com dificuldade (é muito profundo) num local que me parece muito bem abrigado de uma tempestade que possa vir do sul.
São 18h45min, remei mais de 8 h, saí do km 284 e estou praticamente no km 140. É que este canal é um baita atalho, mas mesmo assim andei por volta de 80 km. Armo a barraca, como minha granola e às 19h30min começa a chuviscar.
24/10/05 Segunda dia 127
A chuva apertou durante a noite. As copas das árvores balançaram como loucas e assim seguiu e amanheceu. Como vou desarmar acampamento sob intenso temporal? Vai molhar tudo, é melhor esperar uma estiada e seguir. Ainda por cima a temperatura está 13º C!
Nunca amanheci assim, com chuva.
Pois é, são 14h05min, continua frio e chove muito. Fui ficando, ficando...
Bueno, quem sabe amanhã melhora!
Fiquei deitado, comendo, escutando rádio e espantando os porcos que vieram fuçar ao lado da barraca. São enormes! Agora a chuva apertou de novo; não entra uma gota aqui, abriguei bem a barraca, sorte minha. Está frio e o vento é terrível, tu o escutas se aproximando (as rajadas) e afastando pelo som na copa das árvores. Quando dá uma estiada, os pássaros e as galinhas se põem a cantar. Aproveito, vou ao caiaque e pego um pacote de sopa para fazer a noite. Durmo o dia inteiro e escuto um pouco de rádio.
Vejo o rio pelas duas janelas da barraca, vi barcos e navios passando durante a noite por este estreito canal.
- Senhor!
- Fale soldado!
- São 18h35min, o inimigo nos bombardeia sem parar, estamos enfiados dentro desta trincheira fria e escura (saco de dormir) há mais de 24 h. Estamos congelando!
- Soldado, huevos!
- Hay que tener cojones!
- Eu sei que estamos no fim de nossas forças, mas apesar de tudo já passamos de 4000 km.
- Se vamos ganhar ou perder eu não sei, mas todos já tem orgulho daquilo que conseguiram realizar.
- Eu quero que vocês tenham em mente os seus ideais, não se deixem assustar pelo fogo cerrado do inimigo. Como estamos fracos, temos que esperar o melhor momento para atacar.
- AGUENTEM!
É brody, a chuva castiga e deprime muito, felizmente a barraca está 10. Vou fazer uma sopa para esquentar um pouco. O dia está se indo e amanhã eu parto de qualquer jeito.
Eu sempre digo para os soldados:
Aferráte a tus ilusiones
Porque si ellas mueren
La vida es como una gaviota herida,
Con las alas quebradas,
Que no puede mas volar...

Eu sinto que estou perdendo a fantasia e não posso deixar isto acontecer. Se eu conseguir chegar no Chui, estarei em casa.
Até lá sofreremos muito; espero que Deus me dê as forças que eu já não mais tenho e que minha coluna agüente a força que terei que fazer para vencer a rebentação, ventos e correnteza.
Essa espera antes da batalha final, a expectativa que crio na minha cabeça antes que chegue a hora derradeira é que vai me detonando.
- A primeira derrota é sempre a interior!
- Minha grande batalha começa agora!

25/10/05 Terça dia 127
Acordo cedo e não está chovendo. Arrumo tudo rapidamente, nem fiz comida porque se foi mais um bujão de gás. Coloquei o casaco que comprei de Colo (neoprene 2 mm), o casaco impermeável por cima e parti às 07h50min. Descobri que acampei bem na boca do canal, já retornando ao rio Paraná de Las Palmas, km 140.
Cruzo com um senhor que atravessa o canal em seu barquinho junto com seus três cães. Ele é super simpático. Um pouco mais adiante estou vendo uma usina nuclear (Atucha) próxima da margem direita. Há uma lancha da guarda costeira da prefectura atracada no terminal da usina. Estou cruzando pela outra margem quando vejo sinais de luz vindos da lancha.
Atravesso em sua direção, ele diz que estão me procurando e se espanta quando digo que avisei em Baradero. Sigo em frente até às 10 h, quando encosto junto a uma palafita abandonada. Sigo até ela, há uma parede de latas que protegem do vento gelado, resolvo comer por ali, sempre tendo o cuidado de olhar em volta, pois é região de jararacas, já fui avisado mais de uma vez. Escrevo o diário ali na mesinha rústica, aqui é o km 126, há uma curva acentuada do rio. Sigo às 10h35min h e resolvo tocar direto. As horas passam e às 13h30min estou passando pela ponte Záraté-Brazo Largo que estava em construção quando passei há 28 anos na 1º viagem de bici para Uruguai e Argentina. Foi o ponto de retorno para Porto Alegre, em 1977. Argentina em tempo de regime militar.
O porto apresenta enormes navios descarregando carros e contêineres, em especial um imenso, todo branco, da Itália.

Logo depois da ponte, ao lado de uma torre de boreste (verde), no km 103, paro na margem para descansar às 13h50min.
Parto às 14h30min e vou seguindo até que passo na prefectura logo depois de tirar uma foto no km 100.
Sou interceptado por outra lancha da prefectura, pedem meus dados, eu peço água. Eles querem testar o VHF que levo comigo. Digo que tenho que seguir, mas mudo de idéia ao rever o Campana Boat Club, onde fiquei hospedado em 77 na viagem de bicicleta).
Desço no clube, converso com Gustavo, Ricardo e Hector.
Bueno, descobri uma coisa: nunca mais eu vou parar em locais onde me hospedei em 77. Esqueci que sou High Lander, as pessoas que conheci já se foram...
O pessoal da prefectura ajusta o rádio que possuo; agora posso me comunicar com eles em uma emergência.
Perdi muito tempo ali, numa visita inútil ao meu passado e retorno à viagem só às 16h50min. O vento diminui um pouco e eu vou seguindo. Palafitas no lado esquerdo e propriedades privadas no direito.
Há muitas árvores que abrigam bem, mas tudo parece ser muito úmido, ruim para dormir. Além de tudo os barrancos são altos e há muitos barcos. Às 18h35min, já no km 80 pergunto a um garoto se posso dormir em uma construção que esta abandonada a beira do rio.
É Manoel, um menino simpático que diz não haver problema.
Há um canal lateral, era um colégio que foi abandonado exatamente por estar por desabar. As ondas formadas pelos barcos comeram o pátio que havia na frente da escola e agora é a escola que está condenada.
Arrasto o caiaque para cima, pelo canal lateral e vou inspecionar. Resta uma parte de assoalho onde resolvo colocar a barraca. Deixei cair o fogareiro e algo estragou, pois perdi 2 bujões por vazamento. Não posso fazer comida quente. Saco!
A filmadora não funciona, queria registrar o local, a máquina fotográfica não rebobina o filme e só posso trocá-lo manualmente quando estiver bem escuro...
Bueno, está tudo se estragando, acho que é motim!
Ao escurecer Manoel vem me visitar, compro dois nº de rifa para ajudá-lo e dou para ele mesmo concorrer.
Dormi sob um teto e em local seco. Bom!
26/10/05 Quarta dia 128
Amanheceu com neblina, sem vento e o dia parece ser bonito. Parto às 08h20min e logo depois sou interceptado por outra lancha da prefectura, eles me procuraram por toda a madrugada...
Bueno, acho que é excesso de zelo, pois avisei a outra lancha que iria me quedar por camino, antes de chegar ao canal Arias, no km 63.8.
Devo encostar na prefectura de Escobar, km 74 para dar os meus dados pela milésima vez. O Sr. La Torre e os outros são muy amables, perguntam se não preciso de nada, comida, água, etc.
As embarcações e navios passam em quantidade tal que isto mais parece uma avenida movimentada e tenho que olhar sempre para os dois lados antes de atravessar.
Há muitos navios afundados, sinalizados por bóias com dois círculos negros um sobre o outro. Agora está repleto de lindas casas e sítios lindíssimos, bosques de ciprestes, áreas gramadas, casas em estilo chaimel (alemão), e muita proteção de barranco. Passo por uma linda casa de telhado azul e às 10h50min chego ao canal Árias e entro à direita. Movimento intenso de lanchas e barcos atopetados de lenha de reflorestamento.
Bueno é uma casa colada na outra, atracadouros “particulares” e praias “privadas”.
Há praias entre os barrancos e nem todas as casas estão ocupadas. Por isto paro em uma praia para descansar às 11h. Aproveito para comer e deixar a filmadora ao sol.
Canal Arias
O sol aparece entre as nuvens e a filmadora volta a funcionar. Parto às12:05 h e sigo até o final do canal, que termina no rio Luján onde tem outra prefectura. Desço no trapiche, eles colocam um carimbo no meu diário (dizem que é para confirmar minha passagem), tiro uma foto e sigo em frente. A maré está vazante e por isto tenho que aproveitar.
Agora vou cruzando com inúmeras lanchas de transporte de passageiros que funcionam como verdadeiros coletivos com paradas e tudo. É transporte de escolares e muito mais. Virou uma loucura de lanchas, barcos de transporte de lenha, coletivos e pequenos navios. Os “ônibus” que transportam desde escolares até habitantes

Enormes galpões de lanchas, cada galpão contém duas fileiras de cinco andares de lanchas, deve haver mais de 400 em cada galpão e eles são inúmeros ao longo do canal.
Isto só de lanchas. Há marinas onde os canais secundários estão repletos de veleiros, é algo imensurável.
Chego a Tigre, mas não vou procurar mais ninguém. Agora se sucedem os clubes de remo e canoagem. É outra coisa impressionante a infra-estrutura, a quantidade de remadores campeões mundiais em cada clube que visito. A Argentina tem uma tradição forte no remo e em esportes que no Brasil nem ouvimos falar, como Rugby, por exemplo.
Passo por Tigre às 14h30min, é aqui onde há mais ônibus aquáticos, o pessoal passa perto, alguns respeitam e diminuem a velocidade, alguns boludos de lanchas não querem nem saber, passam quase encostado com velocidade e formando ondas que rebatem de um lado a outro do estreito canal. Tenho que seguir com a capa, caso contrário o caiaque estaria cheio de água.
Há uma sucessão de casas lindíssimas em estilo europeu, às vezes, parece que estou em um canal da lindíssima cidade de Brujes, na Bélgica.
É claro que o movimento aqui é infernal, mas pela beleza dos canais e das casas eu me recordo de Brujes. Outras vidas...
Sigo em direção a San Fernando, buscando o clube náutico onde está o veleiro “Torroba”, de Ernesto Betbeze, que conheci em Rosário, na Casa de La Bianca e que visitamos no atracadouro onde estava sua simpática família. Vou a um clube, depois entro em outro, o Club Náutico San Fernando (km 28). Não conseguimos localizá-lo, ligam para Juan em Rosário, era no clube onde fui antes, mas já passa das 4h e já fechou.
Agora não sei o que faço. Converso com o Sr. Araña, uma pessoa simpaticíssima que me dá uma série de orientações para cruzar para o Uruguai. Estou para fazer uma meia loucura, mas depois de ouvir mais dois velejadores resolvo ir até B Aires, voltar por San Fernando e cruzar para o Uruguai por dentro dos canais do delta, bem mais abrigado e seguro. Ele explica que a travessia para Colônia é perigosa pelas mudanças climáticas, ventos carpinteiros e o “Pampeiro”. Este Pampeiro deve ser o nosso Minuano, lá no Rio Grande. Seria uma travessia de 50 km, poderiam durar oito horas remadas ou muito mais se levantasse um vento contra durante a travessia. Fora a questão do movimento dos Ferry Boats, navios de ultramar, lanchas e veleiros. No escuro ninguém irá me ver, talvez nem de dia...
O nosso pelotão está nas últimas, temos que guardar forças para enfrentar o mar. A principal batalha está por vir, é melhor adiar o embate das tropas.
Achava que San Fernando já seria a Capital Federal, mas ainda faltam cerca de 30 km. Não vim de tão longe para deixar um boludo depreciar minha viagem dizendo que não cheguei à capital.
O pelotão Farroupilha irá até Buenos Aires dar uma “rapidinha” com a Evita e volta aqui, contra a correnteza para seguir na luta.
Araña me oferta mapas do delta que me serão utilíssimos, pois é um emaranhado de canais.
Aviso ao oficial da prefectura que vou seguir viagem até San Isidro, uns sete km abajo, já no rio de La Plata.
Ele confirma que vão me alojar por lá e parto às 18 h. Remo por 15 min e uma lancha da prefectura me encontra no meio do caminho. Eles vieram de S Isidro para me escoltar... Fico constrangido, digo que não precisa, eles dizem que é o seu trabalho. Então eu remo com força por 50 min até que chegue ao delta.
O horizonte se abre diante de mim, fico maravilhado ao ver o meu destino final. Paro de remar e meu olhar percorre tudo, vai se perdendo na distância.
É brody, segura peão! O coração balança, sinto um nó na garganta e minhas luvas rotas puxam o remo com força na direção do infinito...
É uma emoção, quatro meses e mais de 4110 km depois, continuo perseguindo horizontes.
O oficial percebe e comenta:
- Hermoso!
Hay olas, pero no tantas que no las pueda superar.
Vamos seguindo em frente até que chegamos à entrada de uma marina já em San Isidro (18h50min). Vou seguindo entre uma fileira interminável de veleiros até que chego à sede da prefectura. O caiaque fica amarrado no trapiche deles. Tomo meu primeiro banho quente desde que saí de Rosário, faço a barba e depois sigo a pé até um ciber. Estou muito cansado, remei mais de 8 h hoje.
O ciber fechou às 23 h, mal deu tempo de ler os e-mails recebidos e mandar notícias para meus amigos. Esqueci que não comi, procuro e acho um quiosque aberto. Peço dois panchos e café com leite, comi quase nada hoje, o dia foi muito atípico. Agora estou no quiosque escrevendo e tomando café. Agora já passa de meia noite, ainda tenho que voltar a prefectura e preparar a operação B Aires.
Tenho que ir até a capital, tiro umas fotos e retorno para San Fernando para cruzar para o Uruguai pelos canais.
É uma volta de mais de 150 km, mas é o mais racional dentro do irracional.
Chego à prefectura e um boludo me tira de onde estava instalado e me coloca num salão para que eu durma num sofá. Diz que volta para trazer um colchão e não retorna. Juro que ia sair da prefectura àquela hora mesmo pra ferrar com o cara, pois ele teria que se explicar a seus superiores, mas a minha viagem é mais importante que ele e resolvi dormir no sofá, já passando de 01h30min da manhã.
27/10/05 Quinta dia 129 BUENOS AIRES
Estou agoniado e desperto às 5 h, arrumo minhas coisas e me mando pro caiaque depois de avisar a sentinela de que estava partindo.
Às 06h15min já estou saindo da marina e o dia amanhece calmo e ensolarado.
Sem ter muita certeza, sou beneficiado pela maré vazante que dura até às 9 h. Remo com vontade, pois se levantar vento contra, a barra vai pesar. Tenho que ir até a capital e voltar um pouco mais acima de San Isidro, onde passei esta noite.
Vou cortando baías, vendo aviões saindo do aeroparque. O sol bate nos edifícios ao longe, uns 30 km.
Não tenho certeza onde é o limite de B Aires, quero só chegar à capital federal e retornar. Passo por lindas sedes de clubes de pesca, entradas de marinas e sigo uma linha reta, afastado da costa.
Vejo um estádio de futebol (do River Plate) e sigo em frente. Na minha cabeça, a city fica depois de um pontal que vejo ao longe, o último. Depois dele é a capital. Não comi nada, estou centrado em passar aquele pontal, talvez 3 h bem remadas... Tem de ser antes das 9 h, antes que inicie a maré enchente.
Após duas horas, uma lancha se aproxima, é da prefectura. Eles já estavam me esperando, avisados por San Isidro.
São 8 h, tenho que dar meus dados e eles dizem que vão me acompanhar. Retorno a remar com vontade, não passa 20 min eles me param de novo, pois não anotaram meu destino do dia.
- Es San Fernando...
Bueno, recomeço a remar, uma nuvem em forma de cogumelo se aproxima, é incrivelmente linda, parece uma tempestade.
Ela tapa o sol nascente!
- PQP! Só faltava essa! Remo com mais força ainda, tenho medo que eles me parem por causa da tempestade.
Não tenho medo da tempestade, em 20 min eu passo a ponta, com ou sem ela.
Eles se aproximam e fazem sinais para que eu vá à direção da costa...
Ai, ai, ai...
Bueno, já está me enervando, as coisas estão acontecendo justo quando eu estou chegando.
Estou com pressa, remando como um louco e eles me param a cada instante, roubando preciosos minutos.
Aproximo da costa, mas sem tirar o pontal como alvo de proa.
Passo pela entrada de um porto e falta só uns 2 km para o pontal.
O cara da lancha faz sinais para que eu vá para a beira. Finjo que não entendo e sigo em frente, ele cruza os braços sinalizando que acabou e aponta a entrada do porto que eu já passei.
Abro os braços em sinal de protesto e não remo merda nenhuma na direção que mandam.
Vão se ralar, será que eles não têm noção de tudo que passei para chegar até aqui e me impedem de chegar em B Aires?
A menos de 2 km...
- Maktub, preparar para funcionar como torpedo, vou entrar de bico e afundar esses caras.
Eles continuam gesticulando , mas o pelotão não se move, terão que me afundar!
Eles se aproximam, junto as mãos e depois abro. O oficial bate no próprio ombro dizendo que es el Jefe. Estan cargando navios de ultramar e não posso passar, devo seguir para o porto. Digo que não, que vou chegar em B Aires.
- Pero ya estas en B Aires.
- Estoy en la Província, quiero llegar en la Capital Federal.
- Pero acá es la Capital...
- En serio, no me están engañando?
Bueno, se é verdade então tudo bem, eu só queria chegar na city, não necessita colocar o caiaque no Obelisco da Avenida 9 de Julio... (Na verdade, cheguei há apenas três quilômetros do obelisco).
Assim eu sigo para o porto, mas ainda acho que eles disseram isto para que eu viesse. Olho para trás, acho que vou voltar, mas eles estão bem na popa, apontam em frente e dizem que estão me esperando em terra.
Cara deu um ódio que eu remei com tanta força que eles tiveram que acelerar para me acompanhar.
Vou gritando palavrões (sem que eles vejam ou escutem) enquanto remo com raiva na direção do trapiche ao fundo. Estou possesso da fisionomia, acho que meu bico está maior do que o bico do caiaque.
- Cara, eu não acredito que isto está acontecendo!
Após o cerco, o pelotão desembarca em Buenos Aires Maktub totalmente cercado pela esquadra Argentina
Tem uns 4 caras me esperando no trapiche, resolvo mudar de tática:
- Buenas, que lindo dia no?
- Assim posso matá-los antes que tenham tempo de reação.
Eles dizem que estou no coração de Buenos Aires, muito mais do que eu queria chegar (descobri depois que cheguei ao km 4). No km 18 eu já estaria em la capital federal.
O mais chato é que os caras são todos gente fina.
Só de raiva, digo que Pelé foi melhor que Maradona e, para torturá-los ainda mais, tiro uma foto de todos com a bandeira do Grêmio, he, he!
Eles riem um monte, mas aceitam a brincadeira e assim fica registrada minha chegada na city.
Coloco uma roupa e vou num posto de gasolina telefonar pra Porto Alegre e para os amigos.
Pergunto a um passante se aqui é mesmo B Aires ou se estou em alguma city da periferia, ainda não acredito muito que cheguei!
Tiro uma foto da placa no porto:
PUERTO BUENOS AIRES DARSENA NORTE
Acho que eu cheguei mesmo!
Chego ao posto de gasolina. Muitos telefones estavam sem sinal, mas falei com minha irmã, minha mãe, Rojas e Aldo Speck. Foi legal!
Como algo por ali e retorno para o porto, sei que a maré sobe a partir do meio dia e vai me ajudar a retornar.
Agora estou mais calmo, realmente eu cheguei!
Que merda, tinha que ser com todo este stress?

Os caras da lancha me invitam a almoçar com eles, agora os considero meus amigos. Almoço no interior da lancha que me escoltou.
Como um filé de peixe e massa com Javier e Aquino. Tomo uma deliciosa cerveja gelada.
Eles dizem que terei vento contra e por isto desisto de usar a vela pela 1ª vez.
Eu tinha combinado comigo mesmo que só iria usá-la depois que chegasse em B Aires, 4130 km desde que saí de Brasília.
Às 13 h, volto para o rio de La Plata e rumo para San Fernando (km 28) onde passei ontem à tarde.
Tchê desabou o maior temporal que diminuiu a visibilidade a 50 m. Coloco o impermeável e o fecho estragou... Que saco, é a quinta coisa que estraga, tenho que consertar tudo antes de seguir viagem. Onde vou dormir esta noite?
Em San Isidro não, não quero nem olhar a cara do boludo de ontem.
Vou ver se tem lugar na prefectura de San Fernando. Tenho que ver papéis, arrumar o que estragou. Pena que não encontrei o Ernesto.
Vejo a costanera, o aeroparque, o estádio do River e ali Aquino e Javier dão meia volta, acabou sua jurisdição. Eles fazem meia volta e outra lancha vem da costa, pedem meus dados(de novo) e vão me escoltar...
Digo que não precisa que vou demorar. Eles dizem que é seu serviço.
Nem tudo está ruim, o vento sul me ajuda a subir o rio e a maré também. Seria um trecho dificílimo em condições desfavoráveis. Desde S Isidro a B Aires levei 02h30min para ir e consegui retornar em 3h. Nada mal, acontece que não descanso, os caras estão me escoltando então sigo direto até chegar ao Rio Luján de novo. Ultrapasso um veleiro que sobe o rio a motor. É que eles me avisaram que tem gente me esperando no club San Fernando e eu remo com um louco.
Dizem que um tal de Benitez está me esperando. Com a lancha da prefectura na popa, todas as lanchas diminuem a velocidade quando se aproximam. Fico macho, sigo bem pelo meio, a bugrada que desvie... E todos desviam, prefiro pensar que é pelo medo do pelotão farroupilha e não pela lancha dos “homens”.
Estou podre, remei sem parar, já se passaram 4 h, o cara da lancha percebe e fala pelo alto-falante que só faltam 200m.
Finalmente vejo o Club San Fernando, há um casal na beira que faz sinais... É Ernesto Betbeze e Graziela, sua esposa. Que alegria!
Foi ele e sua família que foram até Rosário no veleiro Torroba e que conheci através de Juan La Bianca, um dos Hermanos.
Entro no clube, há carrinhos para levar os barcos de remo para o imenso galpão do clube. Eles correm sobre trilhos. Que alegria reencontrar meus amigos. Estou muito feliz e aliviado por ter ido e retornado para B Aires, agora posso cruzar pelos canais do delta rumo ao Uruguai. Parece que tirei um peso dos ombros.
Para essa estória de capitais do Mercosul só falta Montevidéu.
Tomo um mate com Ernesto e Graziela, depois um delicioso banho quente. Seguimos na van de Ernesto que diz que eu sou um personagem de Fellini por estar no centro de B Aires e ter perguntado a um pedestre se realmente estava em Buenos Aires...
Ele se ri às gargalhadas e eu junto, agora me parece ridículo o que fiz, mas eu estava cego pela fixação de chegar.
Seguimos na van para os mesmos lugares onde estive, parece que de carro demora mais para chegar do que de caiaque.
Realmente eu estive no coração de B Aires e não sabia.
Ele se impressiona com a prefectura, a escolta, outros(da prefectura) de San Isidro vieram perguntar o que houve e outro que pede que eu deixe dito onde vou ficar até que resolva seguir.
Ernesto tem que deixar seu telefone com eles para que saibam onde estou!
Ontem Ernesto assistiu a uma charla (palestra) de Torroba, o famoso navegante Argentino a quem Ernesto homenageou colocando o nome em seu barco.
Torroba vive na Patagônia e já retornou, deixei de conhecê-lo por um dia...
Depois seguimos para Ezeiza, uma city da grande B Aires. Revejo Nahuel, Frederico e Aimé, os filhos deles.
Que dia mais louco!
28/10/05 Sexta dia 130
Na parte da manhã vamos ao centro tentar arrumar a filmadora, a máquina, fotográfica, fogareiro, plata, etc.
A cidade é linda, não é sufocante como S Paulo. Ernesto e Graziela são de uma gentileza e hospitalidade que chego a ficar constrangido, caminhar a manhã toda pelo centro é muito cansativo. Ernesto tem uma válvula no coração e está muito bem, nem parece que este ano passou por uma cirurgia tão delicada.
Voltamos a sua casa e fico muito feliz. Paco, Diego e Francisco chegaram de Rosário e almoçamos todos juntos. Depois do mate eles seguem viagem. Depois chega Marcela, outra filha de Ernesto, com sua filha, Abril.
Ernesto e Guilherme arrumam o fogareiro, limpam a máquina fotográfica e a filmadora.
Atravesso o resto da noite escrevendo o diário no computador e vou dormir só às 05h30min.
29/10/05 Sábado dia 131
Na parte da manhã vamos assistir ao jogo de Rugby do filho mais novo, Frederico. É no clube Monte Grande, lindos gramados, um frio de repartir o bigode. Que impressionante é a quantidade de campos de Rugby e a força física despendida pelos atletas.
Conheço diversos amigos de Ernesto, inclusive um uruguaio, Javier. Parece que não vão me deixar passar no Uruguay. Bueno, acho que vou cruzar direto para Montevidéu, Ernesto fala em me acompanhar de barco, de repente fazer pressão através da imprensa...
A moral baixa, isto é muito cansativo. A barreira burocrática detona!
Estou muito cansado por não ter dormido esta noite, vou deixar para quando chegar à hora.
Esta noite fomos a San Isidro assistir a uma palestra de Eduardo, um uruguaio que ficou velejando por 24 anos ao redor do mundo.
Chiche me apresenta aos presentes, o pessoal bate palmas e eu fico agradecido. É um grande clube de velejadores, um mundo novo para mim e as janelas se abrem mais ainda ao escutar a palestra de Eduardo, que resume sua vida através dos oceanos, novas culturas, amores e costumes dos diferentes povos que conheceu. Tu escuta falar dos bosquímanos na África, Europa, Ásia, as Américas, ilhas no Pacífico...
Tchê pirei totalmente. É alucinante!
Eu e Ernesto compramos um exemplar do livro “ Hasta donde el viento me llevar” que narra as façanhas deste homem que foi o primeiro uruguaio a cruzar o Atlântico em solitário.
Ernesto. Frederico, Selesia Chiche, Ernesto, Luis O palestrante Eduardo
Ele é super simpático e Luis, Chiche e outros velejadores prometem me ajudar na questão de poder seguir viagem pelo Uruguai. Conheci grandes navegadores como Selesia que está preparando seu barco para uma longa viagem mundo afora.
Tenho medo de toda essa gente me ajudar e eu não conseguir ir em frente, mas eu quero a chance de pelo menos tentar. Se não der, paciência!
Talvez o percurso aumente muito, mas se eles me deixarem ir em frente eu não me importo! Faço qualquer negócio para prosseguir remando!
Vamos dormir de madrugada.
30/10/05 Domingo dia 132
Hoje fomos assistir ao campeonato de rugby de Nahuel, o filho mais velho e foi muito legal.
Outro clube lindo, mais amigos do Ernesto e algumas fotos. Retornamos para a casa, descansamos um pouco e agora todos foram dormir e eu estou terminando de escrever. São 3 h da manhã, já é segunda-feira e hoje vou comprar o que falta e amanhã pretendo seguir meu caminho. O Ernesto é um velejador experiente, já subiu a costa brasileira de veleiro e foi até o Caribe. É gente finíssima e tem uma família maravilhosa. Não fosse ele, talvez nem pudesse mais registrar fotograficamente a viagem e nem poderia prosseguir, sonhando em voltar ao Brasil.
Ele me hospedou em sua casa e eu não tenho como agradecer a tanta gentileza e amizade espontânea. Bueno eu só posso esperar que eles me visitem no futuro e que a gente possa rir e relembrar tudo o que está se passando.
Certamente terei emoções fortes pela frente e espero poder seguir.
Um grande abraço a todos meus amigos e até a próxima!

E-mails:
navemundo <navemundo@ciudad.com.ar> escribió:
Necesito hablar con vos para pasarte los datos de André!!!!
O te los paso por aqui?
Luis

Pasalos por aqui. André esta aca conmigo...Ernesto
Un abrazo para ambos!!!!
Acabo de dejar de Chatear con mi amigo Pablo, 2° Jefe de Punta del Este, él hoy aviso a un amigo de Carmelo de la llegada de André, pero me pidió que haga una nota y la entregue apenas llega.
La nota debe ir dirigida a
Prefecto Nacional Naval
En ella debe contar en resumen lo navegado hasta Bs As y lo que debe hacer de allí en más, si tiene los puntos a tocar mejor.
Hay buena onda pero llevando la nota ya hecha y entregándola con una sonrisa todo va a andar bien.
Lleva elementos de seguridad?, si los tiene que los detalle.
Con esa nota la gente lo ploteara y lo acompaña en su navegación, como hicieron con los chicos de Rosario-Río, ellos también lo solicitaron por nota.
En un rato les paso los nombres de la gente amiga del Grupo de PNN (Prefectura Naval Nacional) del Uruguay.......
Luis Monsonis
Olá grande amigão!
Estou acompanhando passo a passo sua história da travessia, estou super feliz por estar acontecendo tudo certo em sua viagem.
Nós te desejamos tudo de bom, que aconteça tudo de melhor contigo, e que seja super feliz e abençoado em seu termino de viagem.
Um abraço, HOMEM NATUREZA!!!
ALLAN

Querido amigo André!!!!!!!!!!!Lembro destas fotos, tu nos mostrou lá na tua pousada lembra???Nossa quanta aventura e adrenalina.Temos acompanhado tua aventura, sempre lemos teus e-mail (eu e o Paulo). Na verdade eu abro os e-mails e depois leio para o Paulo, pois ele sempre chega exausto do trabalho e não tem tempo pra nada.Fizemos um arquivo no computador com as tuas fotos e a tua história. Quando voltares tem que escrever um livro.Cada vez que abro os e-mails fico admirada com a tua coragem e perseverança.Um abração...Cilene&Paulo Aires
E ai Brodinho, como vai essa vida de aventureiro, tudo bem? Aqui a gente segue na mesma rotina, de casa para o trabalho, do trabalho para casa e vice-versa. Fiquei extremamente emocionado e feliz por ter conversado contigo ontem (quando ligou avisando que recém chegara a Buenos Aires) quando tu me telefonou, eu estava no plantão e nem consegui trabalhar direito depois, a saudade é muito grande, gostaria de te ver carinha. Fico extasiado com as tuas aventuras e com as coisas que tu relata nas tuas andanças, os teus amigos Hermanos fantásticos, que gente maravilhosa , que são pelas coisas que tu conta deles. É isso aí Brodinho, muito cuidado no mar, se a coisa estiver preta cai fora, espera melhorar e segue teu rumo, aguardo teu próximo comunicado, um grande abraço, Paulo Rojas

31/10/05 Segunda dia 133 Ezeiza
Passei a noite escrevendo e pela manhã recebemos e-mail do Luis, do Clube Sarandi. Ele está agitando as coisas para mim, tomara que dê certo.
De tarde fomos a San Isidro, onde recebi do oficial Brites o trajeto que devo seguir pelo Delta.
De B Aires a Colônia, direto, teria só 40 km e pelo trajeto que vou fazer, dá mais de 180 km, fora o fato que vou ter que ir a Carmelo, onde o prefecto tem a fama de não deixar ninguém passar...
Bueno, hoje Maradona está de aniversário e em seu programa de TV, haverá uma entrevista com Fidel Castro, justo às vésperas do encontro das Américas, em Mar Del Plata.
Assisti ao programa, foi muito legal. Maradona irá participar de uma marcha até Mar Del Plata, para repudiar a presença de Bush no encontro aqui na Argentina...
Ele é um cara de opinião.
O mais incrível é que os argentinos realmente acreditam que ele seja melhor que Pelé... Pensei que era broma(piada)!
Chamam a isto de alucinação coletiva! He, he...
Acham que o ilusório é real!
Tirando esta parte, do ilusório, eu os considero como irmãos e tenho muito apreço por este lindo país que aprendi a amar.
1º/ 11/05 Terça dia 134
Ernesto corrige a carta que devo enviar ao comandante da prefectura uruguaya e depois vamos embora. Arrumo minhas coisas e sigo com Ernesto, Graziela e Guillermo para San Fernando. No caminho compramos outro colete, bujões de gás, uma bússola Ritchie (igual àquela do caiaque antigo) e uma capa de chuva.
Chegando ao clube San Fernando, vamos arrumando tudo e fica difícil despedir-me de Ernesto, Graziela e Guilherme. Eu me apeguei a eles de tal forma que parecem velhos conhecidos, como se fossem minha família é assim que eu os quero. Muito obrigado Ernesto, tu és uma pessoa especial e tens uma família a tua altura.
Os caras da prefectura ali no clube estão perguntando a que horas saio e pedem para avisar quando eu estiver pronto.
Juan La Bianca liga, ele é outro baita amigo e diz para ligar para ele se eu precisar de qualquer coisa que seja... Valeu brody!
Tenho que despedir-me rápido para não haver “mariconadas”. A gente ri muito dessa palavra, eles não estavam acostumados.
Aparecem algumas pessoas do clube, entre elas o Sr. Irineu.
Acabo saindo só às 16 h. Dou um último adeus a meus amigos e tento me recompor. De repente tu fica sozinho de novo, seguindo para sei lá aonde...
Atravesso o Rio Luján e penetro no canal Vinculación. Sigo contra a correnteza e o vento fraco. A maré está vazante e isto piora minha situação.
Depois de 1 h aparece minha “escolta”. É incrível, mas San Isidro é uma prefectura que não dá folga. Eles me seguem “discretamente”, quase chocando com a popa do caiaque. Eu não posso nem tentar me suicidar, eles não deixariam.
O dia está lindo, então vamos seguindo por mais duas horas até chegar num lugar chamado de El Fundeadoro (19 h). O oficial Rubio fala com o Sr. Agostín e eles me deixam acampar em sua praia, ao lado da pousada. Há um trapiche e a lancha fica por ali... Eles estão esperando outra que virá substituí-los.
Tchê, se eu conto ninguém acredita! Eles vão passar a noite ali para me acompanhar assim que eu partir de manhã.
É incrível!
Chega outra lancha, eu já estava dormindo, o oficial da nova lancha vem na barraca para perguntar a que horas que eu saio amanhã... Como se eu tivesse uma agenda de horários!
Tenho que morder o lábio com força para não rir... Isso não está acontecendo, acho que é um sonho. Viro para o lado e volto a dormir.

02/11/05 Quarta dia 135 DIA DE CACHORRO
Acordo às 6 h, acabou não chovendo e há uma lancha no trapiche, achei que era pesadelo, mas é real...
Vou tomar um café na pousada antes de partir e vou subindo as escadas.
Como que do nada, um cachorro branco, cabeça de pitbul aparece no alto da escada e quase me acerta uma mordida na cara.
Dei um soco nos beiços do corno que chegou a doer minha mão. Ele sentiu o golpe e voltou a vir para cima, mas não o suficiente para que eu lhe acertasse outro murro. Sorte dele é que seu dono chegou!
Bicho que me ataca eu fico assassino. Se tenho meu punhal em mãos ele ia ver só... Corno!
A maré me impressionou, quase um metro de altura!
Pô, o lugar é lindo demais e eu tenho que viajar com lancha do lado, não adiantou pedir para que eu seguisse sozinho. Não dá nem de pensar em parar para fotografar a paisagem, algum bicho ou mesmo tirar uma água do joelho... Os caras estão ali ao lado e não adianta insistir para me deixarem seguir sozinho.
Rubio fala que a responsabilidade é toda deles, que se algo me acontecer eles terão que se explicar com o nosso consulado.
Então só me resta adaptar para viajar assim. Parti às 07h50min e segui até o final do canal Honda. A lancha segue atrás, uns 50 m distante. Os caras que passam de barco ficam olhando a cena do bebê caiaque e sua mãe, dona lancha da prefectura.
Quando chego ao rio Paraná de Las Palmas, chega outra lancha para substituir a que ficou de plantão de noite. Tiro uma foto das duas antes que uma delas retorne.
Lancha vai, lancha vem Nova bússola, igual a do caiaque antigo

É claro que a nova lancha faz eu parar, pede meu nome, meu destino...Como se eles já não tivessem anotado meus dados dezenas de vezes!
Trajeto Buenos Aires - Carmelo (Uruguay)
Atravesso o rio e passo ao lado das Ilha Lucha e Nutria (lontra) e penetro nos Bajos Del Temor, uma região rasa. Eles são obrigados a dar uma volta grande e fico um pouco livre deles. Eu sei que estão fazendo seu trabalho e que estão preocupados.
Que eu gostei de andar no raso e deixá-los longe, gostei.
Penetro em outro canal, o Arroio Chaná e eles avisam que se vão e que outra lancha virá. Aproveito para descansar na margem (09h40min - 10h30min) e como alguma coisa. A rota varia de NW a W, sempre contra a correnteza. Por isto, sou obrigado a seguir bem junto da margem, é muito cansativo!
A outra lancha não veio, aproveito e sigo em frente, estreando a nova bússola.
Uma hora depois chega a outra lancha, oficial Borro diz que estou perto da prefectura e que estarão me esperando lá.
Legal (posso seguir sozinho), saí da jurisdição de San Isidro, o excesso de zelo era deles.
Bueno, mais adiante um pastor alemão (ovellero) surge na margem. Não parece hostil; aproximo dele e lhe faço um carinho. Ele me segue pela margem, através da vegetação. Dali a pouco ele se atira no rio e vem nadando contra a correnteza. Eu me afasto e ele atravessa o rio, segue mais um pouco pela vegetação e depois segue nadando, tenho medo que canse e se afogue.
Bueno, oficial Borro está me esperando na linda sede da prefectura de Chana Mini. Do outro lado da margem tem uma linda igreja de madeira pintada de branco e vermelha, lindíssima. Almoço com eles, Mario ajusta o VHF, coloco a filmadora no sol e volta a funcionar. Troco o filme, pois a máquina não está rebobinando. Tenho medo de ter velado o rolo, pois a sala onde troquei o filme não estava bem isolada da luz. Almoço com eles, são uns caras bem legais!
Os cachorros deles roubaram o queijo e o salamito que eu tinha. PQP!
Parti às 15h45min depois de ouvir Borro responder as milhões de recomendações do jefe pelo rádio quanto ao que eu poderia fazer, por onde seguir, etc... Por isto que não largam do meu pé!
O cara do outro lado do rádio quase gritava e Borro só respondia: Si señor, si!
Ficou combinado que dormirei num posto policial adiante. Como eles não vão me seguir, vou ajudá-los também.
Desço o Paraná Mirim, vejo o delta (de novo) e depois dobro à esquerda, entrando no canal Arroyo Largo.
Ele é lindíssimo, cheio de ciprestes com folhas verdes escuras e um outro tipo de árvore com folhas verde-claro que formam um túnel verde sobre as águas onde o caiaque segue deslizando entre luzes s sombras. Há um cheiro de perfume no ar, são muitas flores e há muitas abelhas também.
O labirinto Esquerda ou direita? Errei! Seguindo a trilha da luz

Eu queria cruzar direto de B Aires para Colônia, mas esse passeio pelo delta foi uma agradabilíssima surpresa, é um patrimônio natural da Argentina (mais um). São centenas de ilhas, um verdadeiro labirinto de canais, de cores fauna flora e olores. É maravilhoso!
Agradeço a Aldo e Lionel, eles disseram que seria lindíssimo... Obrigado hermanos!
O rio se despede de mim com essa maravilhosa exuberância de vegetação, musgos recobrindo as raízes e as margens. Fazem essa floresta parecer uma floresta de gnomos, duendes e fadas...
Aliado a tudo isto, está o fator maré, que torna tudo diferente depois de mais de 4200 km... Nunca foi igual!
Vou me despedindo dos rios, agradecido por tanta beleza e contentamento nestes últimos 4 meses. Estou cansado, tiro fotos, filmo e vou em frente.
É um verdadeiro labirinto de canais. Entrei no canal errado, volto uns 20 min e sigo no correto, o Cruz del Sauce.
Já são mais de 18 h quando chego ao Arroyo La Barquita. Ficou bem mais largo e a correnteza mais forte ainda. Estou há mais de 4 h remando, anoitece e eu começo a ficar raivoso porque não chego nunca.
Como não havia prefectura, fui orientado a seguir para a sede da polícia Esta é a entrada do canal Vico
vico
Finalmente, às 20 h alcanço a comissaria e sou bem recebido por Raul. Ele está pescando, depois tomo um banho e janto arroz com milaneza. Ele é super legal. Tomamos mate com açúcar, já às 23h30min. Saí e fui atacado por outro cachorro que chegou a cair quando reagi e levantei o braço para agredi-lo. Eu tomei um cagaço, mas o dele foi maior, corno!
Hoje foi um dia de cachorro!
Acabo dormindo numa cama com lençóis.
3/11/05 Quinta dia 136
Acordo cedo, tomo um mate com Raul e parto só às 10h10min.
Vou seguindo neste belo dia de sol pelos canais daqui. É incrível como as árvores se debruçam sobre o rio e formam túneis verdes. Há muitos pés de amora e uma infinidade de pássaros comendo os frutos, entre eles aracuãs e sabiás. Encontro o canal Camacho e por ali vou seguindo, vejo muitas casas abandonadas, talvez pela antiguidade ou pela ameaça de desabar (o rio vai comendo as margens e as construções). Quase todas são tipo palafitas. Às 12 h paro em uma destas para descansar e comer uns punhados de amendoins, já que os cães comeram minha comida.
Os caras das lanchas inter-isleñas disseram que o canal Vico está sem “paso” (por causa dos camalotes) então sigo pelo canal Camacho que é super estreito e lindo.
As horas passam e descanso às 14h sob as árvores de outro túnel verde.
Estou cansado de remar contra a correnteza e detonado por tantas horas remadas.
Não é que encontro um baita galho de amoreira debruçado sobre o rio e carregadíssimo de frutos?
Bah tchê, virei criança! Achei uma “mina” de amoras e não tem outra criança por perto para ter que dividir os frutos, sorte minha!
Comi até arrotar, fiquei com os beiços de prosti, roxos de amora.
Segui em frente e às 15 h finalmente cheguei ao rio Paraná Guazú, no km 130. Essa quilometragem indica a distância daqui até B Aires, bem mais do que eu havia calculado. Então de B Aires a Carmelo dá-lhe uns 150 km por este labirinto de canais que eu fiz. De Carmelo a Colônia são mais 77 km...
Tivesse atravessado direto para Colônia seriam só 40 km.
Bueno, por outro lado não teria conhecido o delta do rio Paraná que é uma coisa incrível de linda. Perdi vários dias de viagem dando esta volta de quase 230 km, mas na verdade eu ganhei, porque meu objetivo não é economizar dias, isto não dá para guardar no bolso!
Eu ganhei imagens, aventuras, sons e emoções, o lucro foi enorme!
Remo por mais uma hora, descendo o Paraná até chegar a prefectura de Guazú Guazucito (aqui eu me despeço da Argentina), num pontal entre os juncos.
Ela é flutuante, sou muito bem recebido por todos após desembarcar na lama da margem. Ruben Vallejos serve um refrigerante, faz os documentos de saída e escreve no diário:
El Sr. Issi Dos Santos André paso por este posto fronterizo, perteneciente a la Prefectura Naval Argentina el dia 03/11/2005 a las 16 horas, le deceamos un buen viaje de regreso a su patria.
Isto resume a hospitalidade e o profissionalismo que recebi por parte da Prefectura Naval Argentina.Nem falo dos amigos e das noites frias e chuvosas onde sempre tive um mate amigo a minha disposição. Despeço-me de todos meio emocionado por deixar a Argentina mais uma vez. Foram mais de 2 meses por aqui.
Essa é a sexta vez que visito a Argentina, sendo 2 em viagem de moto, duas em viagem de bicicleta e essa, de caiaque.
Houve uma “normal”, quando fui a Bariloche com meus pais.
Gracias Argentina! Te considero como minha segunda pátria!
Estou podre e sem comer o dia todo, a não ser o punhado de amendoins e as amoras. Acontece que há previsão de mau tempo para amanhã e talvez eu não possa cruzar.
Melhor fazer a travessia para o Uruguai de uma vez!
- Senhor, estamos com medo!
- Soldado, deixa de ser cagão, isso aqui não é nada diante do que teremos pela frente!
Sigo em frente para fazer a travessia para o Uruguay e a bússola marca o rumo Este. Vejo uma ilha à esquerda, é a foz do rio Uruguai.

Saindo de Guazú Guazucito Cruzando para o Uruguay Os molhes de Carmelo

Sigo em direção de uma antena, tenho que achar os molhes da cidade de Carmelo.
Chegando à metade do trajeto, dou um berro de alegria por estar cruzando outra fronteira mais uma vez. É muito bom ser assim!

Às 18 horas passo entre os molhes e as bóias de sinalização e penetro no rio. Vejo a prefectura, mas não tem como descer, ali tem um barco da prefectura, mas não vejo ninguém.
Subo o rio até chegar num clube de remo, é o Carmelo Rowing Club, o mesmo onde meus hermanos passaram o Ano Novo em sua viagem de 2003-2004. O clube está localizado ao lado de uma ponte que tem o vão central giratório, essa é nova para mim.
Que legal estar fazendo o mesmo caminho que eles fizeram. Todos se lembram deles e tem suas fotos no clube.
O Sr. Julio me ajuda a tirar o caiaque d’água, tomo um banho, fico em um alojamento no ginásio do clube e depois vou para a internet.
Agora são 09h38min do dia 4.11.05, choveu intensamente. Meu astral baixou muito ao confirmar que o prefecto daqui é muito rigoroso e não deixa ninguém passar.
Vim até o centro terminar de escrever, comprar um envelope para enviar a carta ao prefecto nacional naval nacional (aquela que redigi com o Ernesto Betbeze por orientação do Luis Monsonis) e daqui sigo para a prefectura para saber o que vai acontecer.
Se tudo der certo, parto assim que ficarem prontos os papéis.
É detonante tu remar como um condenado e ficar a mercê de um louco que talvez não te deixe seguir adiante.
Bueno amigos, é isso aí. Que Deus me ajude!
Um baita abraço
André!

CARMELO A CHUY
Pois é meus amigos. Isso é o que os caras do Uruguai estão exigindo (enviei os documentos da prefectura e a lista de exigências para continuar a viagem) para me deixar passar, querem lancha de apoio, só falta exigirem que Nossa Senhora mãe de Jesus vá junto.
Sem ela, não poderei prosseguir, como se houvesse uma lancha me esperando na esquina...
Isso são exigências para um evento, uma competição. Talvez ainda me despachem na segunda feira, até lá tenho que esperar e o tempo passa...
Na quarta feira estarei preso ou navegando. O problema será deles, já dei entrada no Uruguai e não podem mais “confiscar” minhas coisas caso tivesse entrado clandestino como queria.
É brody, jodido, no?
Estou extenuado, isto exaure o que me resta de forças, enche o saco!
Sei que se não autorizarem não irei longe, mas eles terão que vir atrás.
Que me muera peleando!
Um abrazo!
CARTAS QUE ENVIEI A AMIGOS:
Ernesto/;
Hola amigo, recién volvi de la prefectura. No me dejan seguir, tengo que esperar el despacho de aquela carta que hicimos. Acontece que tengo que esperar todo el fin de semana y lunes o mas... No me dió una previsión!
Estoy muy cansado esto todo llena las pelotas. Voy esperar hasta lunes si no me dan resposta sigo por la madrugada de martes. Talvez sea preso, pero será problema de ellos. Estoy enviando una cópia a Luis y otra a la Bianca para que miren todo que me están exigiendo....
Estas son exigencias para una competencia, eso es ridículo.
Vamos a ver si me despacham a lunes, sino...
Un fuerte abrazo!

Bueno meus amigos, hoje é dia 6-11-05, ainda estou em Carmelo, é um lindo dia de sol. Esta noite o rio estava um espelho e não saí não sei como. É que na verdade eu quero ir até o mar e se sair escondido eles vão me achar mais cedo ou mais tarde. Acho que também estou me segurando por causa dos conselhos dos amigos, porque aqui no campo de batalha é difícil manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Bueno eu queria agradecer a força de todos e queria mostrar um pouco dos e-mails referentes ao assunto, como que me dizendo que não estou só. Eu queria agradecer de coração ao apoio que chega a me comover e me dá forças para não desistir por este tipo de problema. Muito obrigado!
E-mails RECEBIDOS :

HOLA HERMANO como estas espero que muy bien ,leii todo tu relato y enpartes me rei como loco y en algunas se me cayeron lagrimas porconocerte y saber lo que sos como persona y amigo ,y ahora que teconozco en persona espero que sigas adelante con tu viaje hasta el fin yse que te va ir muy bien y que aca nos acordamos de vos a acada rato ysegui escibiendo asi no nos preocupamos cuando desapareces como en estosdias que no sabiamos donde andabas bueno un abrazo hermano .... nosvemos pronto .......Juan Manuel Veron 31·10·05

Oi querido,
Estou encantada com tudo que esta acontecendo nessa sua experiência doida, e te confesso, que fico morrendo de vontade de estar ai com vc e carregar essas experiências para o resto da minha vida... heheheh cunhadinho querido, estou morrendo de saudades de você, e te esperando aqui heim... to louca pra ir pra guarda, mas sem você não vai ter graça nenhuma, e nem sei como fazer para pegar as chaves, então estou aqui te esperando..... esse mês é meu aniversario 27/11, vê se não esquece..
Te adoro viu, e toda noite rezo pro papai do Céu cuidar do meu amigo querido...
beijão da Fê 01·11·05


Oi André!!!!Bom, eu nem sei o que te dizer. Estou torcendo pra que tudo dê certo. Te cuida e não dê sorte pro azar, como tu dizes. Mas tu deves saber o que estás fazendo. Mas se não der pra passar no Uruguai, tem o Brasil bem perto pra continuar, não vais perder muita coisa. Não vale a pena se estressar por pouca coisa.Beijos, Marlene. 6·11·05

Boa sorte meu amigo, que Deus esteja com vc, tenha fé, tudo vai dar certoestou torcendo por vc, admiro a sua coragem, um grande abraço de seu amigoHenrique. 7·11·05
Parabéns André!!!
VC é um dos caras mais loucos que eu já conheci na vida. Bota na mídia. Faz um salseiro geral. Qualquer coisa a gente faz virar uma questão diplomática. Hahahaha.
Está muito boa a sua história. Louco de carteirinha.
É isso aí brodinho. Saudades. Tem que aparecer logo pra gente trocar umas idéias. Um abração meu amigo, Mário 11·11·05
Vamos te esperar!
Vai com Deus.
Estamos na torcida.

André, fuerza y ao mare, avante! Hay que endurecer si, pero perder la ternura jamás! Grande abrazo e inté Frank.

Bom companheiro, se não der certo é porque não era pra dar mesmo. Também eles não tem condições de diferenciar caras do calibre do Amir Klink que nem tu (gostou dessa?) do resto...nivelam por baixo. Um grande abraço, Osmar

Hermano querido, tené paciencia... calma...esperá los dias que hagan falta con serenidad...Si despues de todo...nada conseguis...sabé que estoy para ayudarte en lo que sea. Ernesto...

Olá Meu Irmao André!!! Que bom que já fica em Carmelo. Tens que conhecer as Canteras do lugar. São como umas panelas de pedra onde tem acua cristalina. Com os da Prefectura só tem que esperar, vc ja verá que o cosmos conspirará pra teu favor. Mais, como só no cosmos não da pra confiar, eu volte a ligar, a traves de uma operadora, pra o ex-Jefe da marinha, mais seu telefone não corresponde mais. Tambien envie um email pra um amigo que mora em Montevideo (o mesmo cara que te faló Diego), ele tem muitos contatos, mais ainda não me respondió, eu acho que pra segunda fera ja vou ter sua resposta. Irmao, só espera um poquinho mais. Pensa que si vc chegó até lá, e tudo aconteció ótimo, neste segundo percurso acontecerá o mesmo. Um forte abrazo, Juancho.- (La Bianca)

Georgina Espinosa HOLA ANDRE!!!! COMO ESTAS Y POR DONDE??, SIEMPRE NOS ACORDAMOS DE VOS, TU VIAJE Y LA FIESTA DE LA CERVEZA... JAJAJAJAJAJA, ESTUVE CHARLANDO CON EL POIO (FRANGO) Y DICE QUE TE ESTAN BUSCANDO... PONETE EN CONTACTO Y CUANDO PUEDAS ESCRIBINOS. MANDO-TE UN FUERTE ABRAZO, QUE ESTES MUY BIEN!! FICA COM DEUS, CARA!!

Oi Geo, que alegria recibir e-mail tuyo, Recien llegue a Carmelo y no estoy de buena onda pués sufro amenaza de no poder continuar por la prefectura uruguaya. Creo que seré arrestado pués voy a golpear el prefecto. Vamos a ver que pasa. Un beso y un fuerte abrazo André!

VC NÃO TEM QUE DEIXAR A CALMA... CALMA AMIGO!!, VC E UM PASSARO LIVRE, FALA COM ELES O PORQUÊ NOA DEIXAM QUE VC SIGA EMBORA!!, NÃO DEIXE QUE ARRESTEM VC... FICA TRANQUILO, TODO VAI ESTAR BEM, MAS TEM CALMA, DORMI, COMI Y RELAXA... SEM VC TEM NECESIDADE DE CHEGAR A UMA DATA ESPECIFICA, PEGA ONIBUS; MAS NÃO DEIXE QUE ARRESTEM VC. SOAMENTE, E é MUITO PARA VC, ELES VAN DEMORAR SEU VIAGEM... MAS SEMPRE TEM CALMA. NÃO GOLPEE. AS MELHORES DAS SORTES E EXITOS PRA VC, MUITO BRIGADA PELA SUA RESPOSTA. UN FORTE ABRAÇO E TUDAS A BENDIÇOES, SIGA SEMPRE PARA DIANTE... E ANTE TUDO... ((MUITA CALMA:))BJAO!! MUUUUUAAKK

Carmelo, 05-11-05
Oi Danilo, tudo bem?
Aqui vai muito mal, os caras do Uruguay praticamente me impediram de continuar e eu estou muito chateado. Agora faz um sol belíssimo e é muito duro tu saberes que podes continuar e não te deixam prosseguir. Tenho que esperar um despacho do comandante geral da prefectura naval, mas eles não dão previsão de quando virá o tal despacho. Então eu vou esperar até segunda e se não vier nada pretendo me arrancar de madrugada até onde possa sem que eles me peguem. É isso aí, um abraço, André



Oi André,
Segue cópia da msg recebida pelo grupo. O Carlos é um velejador uruguaio e amigo nosso no grupo. Creio que poderá te ajudar.
O Rodrigo Beheregaray denunciou o problema ao grupo.
Fuerza!

Abraço,Danilo.
Subject: Re: [POPACOMBR]: Burocracia no Uruguai

Rodrigo,
Acabo de ligar para um amigo que tenho na Prefectura de Carmelo para esclarecer a situação do André Issi, e esclarecer também aos amigos do Popa algumas imprecisões na informação contida na tua mensagem. É certo que esta em vigor a regulamentação mencionada nos anexos, e a maior (e talvez a única) dificuldade pode estar na falta de uma embarcação de apoio. Os outros itens são artigos relacionados com a segurança e o mais possível é que o André tenha-os no caiaque. Passa para ele o nome do meu amigo, Alférez de Navío Miguel Franggi, que ele vai se interessar para ver a forma de resolver o assunto dentro da regulamentação em vigor. Ele me ligou de novo, e disse que, se ainda está na Argentina uma solução pode ser apresentar na Prefectura Argentina um documento com o roteiro planejado e assumindo a responsabilidade de sua segurança. Se já esta em Carmelo, que fale com meu amigo.
O problema e que o André deveria ter feito uma pesquisa respeito a esses detalhes antes de fazer sua viagem, já que as regulamentações mudam de um país para outro, e a travessia que ele quer fazer por águas uruguaias é costeira pelo Rio de la Plata e Oceano Atlântico (em Argentina andou por águas interiores), o que têm uma regulamentação diferente. Uma solução pode ser ele subir pelo rio Uruguay até o rio Negro, e navegar pelo Negro até perto de Jaguarão. Aí são todas as águas interiores e não haverá problemas.
Enquanto ao número de copias, é um erro de interpretação, já que refere a onde devem ser enviadas as copias do documento da Prefectura que põe em conhecimento a nova regulamentação (distribuição do documento). Ou seja, que é um assunto interno da Prefectura.
Desculpem a extensão, mais tento ajudar ao André, e de passada esclarecer que somos burocratas mais não tanto.
Abraços
Carlos
Barbarroja

Oi Danilo, que bom que alguém me está ajudando. É claro que não tenho embarcação de apoio, como alguém iria me seguir por seis meses?
Os lugares por onde passei não passaria barco nenhum, seria de apoio ou um barco naufragado?
Se eu sou obrigado a seguir por águas rasas e rebentação, como um barco vai me seguir? Os caras que fizeram do Rio a Rosário tinham um barco igual ao meu, pararam em Carmelo e seguiram sem barco de apoio.
Tenho todos os equipamentos de segurança, inclusive o rádio VHF (emprestado pelos meus amigos que fizeram a viagem) www.rosario-rio.com


O meu problema é tempo, só poderei seguir em boas condições e queria chegar a Porto Alegre até o Natal.
Por isto estou meio cansado disto tudo, agora eu sei que deveria ter solicitado autorização antes de entrar no Uruguay.
Inclusive, para não ter problemas, não cruzei direto de B Aires para Colonia, seriam só 40 km.
A volta que estou fazendo para chegar a Colonia Del Sacramento, desde B Aires, dá uns 200 km ou mais.
Acontece que eles dão importância demais, no Brasil tu entras e segue por tua conta e risco. Isso é uma aventura. Não um raid ou uma competição que envolva várias pessoas. As exigências são para uma competição.
Eu mandei uma carta ao prefecto nacional naval e tenho que esperar uma resposta, só que não dão uma previsão e é altamente difícil ter que ficar parado agora que estou tão perto...
Bueno, eu anotei o nome do amigo do Carlos Barba Roja, não sei como o encontro, vou tentar.
Eu já estive aqui no Uruguai antes, tanto em bicicleta quanto em moto e fui muito, muito mesmo, bem tratado pelo povo uruguaio. Eu os considero como irmãos de origem e costumes.
O problema todo é o excesso de zelo, como foi na Argentina. Apesar de tudo, eles me deixaram passar e eu me adaptei às exigências, desde que me deixassem continuar...
Amigo eu te agradeço a força, toda ajuda é bem vinda. Vou tentar não fazer besteira, mas é difícil não fazer a esta altura do campeonato.
Um baita abraço e muito obrigado
André!


Se não der pra passar o Natal em POA vai ser ruim, claro. Mas muito pior será passar o Natal encarcerado.
Que tu não possas concluir a tua empreitada por problemas técnicos, por dificuldades extras da indiada, tudo bem. Agora, não concluir por estar preso vai ser ruim.
A burocracia é uma merda e cachorro quanto mais magro mais cheio de pulga. Acho que os trâmites são um osso duro de se roer sempre. Não vejo nenhuma justificativa válida que possa tentar inibir a continuação de uma empreitada do tamanho da tua. Mas só tem um ponto que o Carlos abordou que me faz ficar pensando. É a diferença do rio para o mar. Eu sei o quanto isso é diferente. E tu também sabes. Todos lo sabemos. Os caras não querem deixar o deles na estaca em caso de problema.. Esse é o negócio deles... São burocratas. Pra mostrar serviço, o jeito é fazer isso que estão fazendo aí. É essa a missão REAL deles. O resto é inviável.
Impedi-los de fazer o que estão fazendo é tirar-lhes a vida. Mas credo...
Seria bom achar uma maneira de reverter este quadro, dando a eles algum mérito nisso tudo. Fazer-lhes orgulhosos de alguma maneira. Não sei como, mas procuraria saber junto a algum clube de caiaques, alguma organização verde (ecológica). Inventa um objetivo ecológico na tua missão.
Outra forma de resolver é entrar na deles. Atender ao que exigem, pelo menos de alguma forma, e tentar que amoleçam.
Fico a disposição para o que puder ajudar.
Boa sorte,

Danilo, tu me tirou do sério, fiquei rindo sozinho!
Para escrever e definir tudo como definistes é porque passastes por algo semelhante. Foi perfeito, inclusive as vírgulas...
Estou pensando em várias alternativas, eu só queria chegar a Montevidéu navegando; depois até levava por terra ao Chui.
Pensei em subir o R Uruguai, mas não tem ligação próxima com algum rio que chegue a Porto Alegre. Deve ter corredeiras e eu esgotei todos os meus limites naquelas do início.
Bueno vou esperar até segunda, depois...
Tu tens algum conhecido na polícia?
He, he, brincadeirinha!
Se eles me pegarem, sigo por terra até o Chui e ali subo a Mirim.
Seguir em frente não deixa de ser outra aventura nunca fui preso, será uma experiência interessante.
Bueno, não vou colocar a carreta na frente dos bois, vamos ver o que vai acontecer.
Um abraço, André!
Sim, eu já fui preso no Uruguai por algumas horas no tempo da ditadura, e não trocaria uma barranca alagada da Mirim pela cadeia do Uruguai. Meu crime foi usar um rádio PX em Las Piedras e ser cabeludo (peludo). Calla-te peludo! Isso nunca vou esquecer.
A alternativa de subir a Mirim em vez do litoral parece ótima. Imagino que algum dia irás agradecer a los... Essa tua perna pelo mar, pra mim, é fria. Desculpa a sinceridade.
Suerte, Danilo.
Danilo, eu li teu relato do passeio para a Lagoa do Casamento... Deves ter muitas estórias pra contar... Eu sei que é fria pelo mar, mas é por isto que eu vou.
Tenho paura pelo mar, já me escapei de boas por ali, mas se eu quisesse segurança, viajava com uma lancha a meu lado, he, he!
É como eu digo, “queimar até a última ponta”! Que a vida seja bem vivida enquanto for minha, depois sei lá! Um abraço, André!

Carlos, Aí vai mensagem do André Issi, o navegador brasileiro que está fazendo algo que preste...
Não sei pra que servem aquelas viagens caríssimas...
A burocracia é uma merda, e não é “privilégio” uruguaio. Eu aqui volta e meia ando às turras com o governo e suas malditas regras. Já estive preso por algumas horas em Las Piedras, por besteira, mas os uruguaios não são piores que os brasileiros. A viagem do André é mesmo de risco. E se não fosse, certamente não a faria. Vamos ver o que se conseguirá por aí. Obrigado pela ajuda. Danilo.
“ Olá Carlos, queria agradecer tua ajuda, pois não sinto que vão me deixar passar. Eu sei que deveria ter feito muita coisa antes de entrar no Uruguai, mas acontece que minha viagem é atípica, sem previsão de nada. Eu saí de Brasília achando que não passaria de 5 dias, era o que todos meus amigos apostavam.
Acontece que o improvável aconteceu e cheguei a Carmelo, já se passaram quase 5 meses.
Eu já passei pelo Uruguai de moto e em bicicleta e nunca tive que ter um carro de apoio. Não estou questionando as leis do País, mas estou em Carmelo e aqui NINGUÉM usa capacete, vejo adolescentes e famílias com crianças de colo em ciclo motores...
Essa coisa de segurança é muito relativa!
Eu estive em B Aires, acho que é o mesmo que estar em “águas não interiores”.
Essa discussão não levará a nada, eu não sei como encontrar teu amigo, terias o telefone dele?
De qualquer forma eu te agradeço muito mesmo, eu nunca me senti sozinho durante toda a viagem, mesmo nos piores momentos e não sei por que eu me sinto só agora, talvez porque agora as coisas não dependam mais do meu esforço, da minha vontade...
Bueno, le agradesco sinceramente, un fuerte abrazo del amigo
André Issi”
. .

É isso aí, como posso me sentir sozinho se tem tanta gente me dando força?
Dá pra sentir o tamanho que essa coisa está tomando? E nem começou...
Bueno, para terça-feira ainda tem amanhã, estou arrumando o caiaque e saio na calada da noite, comprei mantimentos e vou levar bastante água para não depender de ninguém, já que andarei de noite e acamparei escondido sem chegar à cidade nenhuma (pelo menos até Montevidéu). Não sei até onde consigo ir assim, mas, de certa forma, estou louco para fazê-lo. Será outra aventura: prosseguir como fugitivo.
Em meus sonhos eu sempre conseguia escapar, he, he! Um abrazo,
André!
PS Anexo estou enviando os documentos que comprovam minha entrada legal no Uruguay e saída da Argentina. Se algo me acontecer e alegarem que entrei ilegal (se estes documentos “desaparecerem”), agora meus amigos terão os documentos, de certa forma estou passando a bola para vocês, he, he!
O outro é uma cópia da carta ao prefecto nacional naval do Uruguay
Bueno amigos, as pedras vão rolar, eu comecei a desencadear um processo do vai ou racha e não sei o que pode acontecer, é gozado estar falando isto aqui assim, na paz e daqui a algumas horas estarei em campo de batalha, talvez esteja me precipitando, talvez não.
O que importa não é terminar, é como terminar.
Como termina? Eu não sei!Amanhã é meu último dia em Carmelo, a menos que algo aconteça, então escrevo antes de partir.
Carmelo, 4-11-05 Sexta dia 137
Bueno, depois de transcrever o diário segui até o centro da city, toda de casas térreas e coladas umas as outras, como Rio Grande e Pelotas.
Almoço no restaurante. Picollino, bem na esquina da praça central. Está frio, venta forte e chove. Agora (12h12min) estou preparando o espírito para caminhar até a prefectura. Não sei qual será minha reação se me impedirem de continuar.
Talvez tenha que forçar uma situação, como ser preso, por exemplo.
Vou armar um quilombo. Bueno, de repente não acontece nada!

Bueno, fui na prefectura e tudo parecia bem a princípio... Não foi!
Para resumir: estou preso em Carmelo (não posso sair com meu caiaque), dizem que não estou em águas autorizadas e que tenho que ter uma lancha de apoio entre outras miles de exigências. Entrego a carta que fiz (conjuntamente com o Ernesto) para o prefecto nacional naval. Eles dizem que vão despachá-la para Montevideo, mas não me dão previsão de nada. Havia dito no clube que partiria no dia seguinte.
Hoje é sexta, então não vão despachar nada até segunda.
Caminhei muito, estou cansado e abatido, converso com Cristina (do clube) e explico a situação: a prefectura de Carmelo não permite que eu saia...
Vou para a internet matar o tempo e retorno à noite para meu quarto no ginásio do clube. Júlio, o funcionário que me recebeu, deixou roupas de cama e um bilhete, muito obrigado amigo.
5-11-05 Sábado dia 138
Acordo cedo, fico 4 h na internet e dali venho para o Picollino almoçar. Recebi e-mails do Danilo, Juan, Geo, Osmar e Ernesto. Todos falam em ter paciência!
Danilo faz um resumo tão claro e cristalino referente ao pensamento da prefectura uruguaia que eu saio do meu baixo astral (mala onda) e desato a rir sozinho.
Eu me conheço e sei que esta viagem não vai terminar bem, talvez seja detido, será “el grand finale”.
Já que eu não posso continuar, que tudo termine com uma grande explosão, eu não me importo mesmo.
Já que estamos na iminência de não poder continuar, que seja preso por uma boa causa.
Gozado! Mesmo nos piores momentos como aquele que fiquei “travado” da coluna no meio do mato por dois dias, lá nos confins do R Corumbá, eu não me senti tão só como estou me sentindo agora, em Carmelo.
Estou na esquina do centro, vejo adolescentes manejando motonetas, pais levando seus filhos de colo sobre o tanque das motos, TODOS sem capacete.
Como eu digo, essa coisa de segurança é só uma questão de ponto de vista, pois eles correm riscos de vida infinitamente maior que eu, legislações de cada país...
Na mesma proporção, se eu estivesse viajando de bicicleta deveria ter um carro de apoio. É ridículo!
Depois volto para o clube, vou dormir para que o tempo passe mais rápido.
A cadeira de rodas e o tempo imobilizado (seis meses) numa cama hospitalar, sem poder me mover, ensinaram a esperar... Por três dias, he, he!
Acordo pelas 23 h e vou ao bar do clube. Faço amizade com Daniel, Luis Acuña, que cuida do bar e Hugo. Como algo ali e fico conversando com eles até às 3 h da manhã.
Olho o mapa do Uruguay que ganhei de tarde, olho para o rio que está que é um espelho. Dá vontade de descer e seguir viagem noite afora.
Queria ir dentro da lei e em segurança, paradoxalmente terei que fazer o oposto.
O que acontece é o seguinte: se eu seguir em frente pode dar problemas a eles se algo acontecer a mim, podem perder cargos que custaram muito a alcançar.
Essa conversa de preservar minha segurança é só fachada para que não aconteça nada diferente em suas vidas.
De certa forma, eu sou uma ameaça e talvez não seja bem visto!
Este será meu crime, seguir em frente a qualquer custo.
Pelo menos eu dei entrada oficial no Uruguai, assim não poderão “confiscar meus pertences”.
Para me garantir, vou mandar os documentos por internet para meus amigos, caso ocorra algo, eles estarão sabendo de tudo.
Quero pelo menos chegar a Montevideo.
06-11-05 Domingo dia 139
Acordei cedo, fiz algumas alterações nas coisas do caiaque para enfrentar o mar. A maré subiu mais de 1 m e ele ficou flutuando ao lado da rampa do remo.
Os caras (remadores) saíram para treinar e depois fui tomar café e conversar com Luis e Julio, meus amigos aqui.
Vou carregar o caiaque com 7 litros de água e bastante comida, estou com um plano de viagem que não poderei chegar à cidade nenhuma, terei que andar a noite e me esconder de dia, fora o plano de enganar a prefectura para que eles me procurem em terra. Assim ganho tempo e consigo navegar um pouco mais...
As coisas estão acontecendo, conheci Pedro, amigo de Luis e que tem um caminhão. Ele se dispõe a me levar, mas não quero complicar a vida dele, apenas direi que estarei saindo com ele (no caminhão) para Colônia e parto de madrugada (navegando) daqui mesmo. Se me pegarem, digo que menti, para que Pedro não tenha problemas.
É gozado, estou com alta dosagem de adrenalina no sangue, como se eu fosse um preso que armou um plano de fuga durante meses e que agora chegou o momento.
Estou “enfeitiçado” pela idéia de sair daqui navegando e me sinto como um “Papillon” da vida. Que legal!
Espero que eles não me procurem por água, vou evitar povoados e cidades, não terei mais contato com meus amigos...
Bueno, na casa de Ernesto eu copiei algo alusivo ao Mohamed Ali e serve para o profundo momento de emoção que estou sentindo ao lado deste enorme copo de vinho aqui no bar do Luis:
Imposible es sólo una palabra que usan los hombres débiles para vivir fácilmente en el mundo que se les dió, sin atreverse a explorar el poder que tienen para cambiarlo.
Imposible no es un hecho (fato), es una opinión.
Imposible no es una declaración, es un reto (desafio), imposible es potencial, imposible es temporal.
IMPOSIBLE IS NOTHING!

MEU ÚLTIMO E-mail POR AQUI
Domingo
Sigo para a prefectura, o suboficial vem me atender:
- Quiero decir que me voy en camione sin cobro hacia Colonia, ya que ustedes no me dejan seguir después de 4300 km y casi 5 meses de viaje!
- Eso es por su seguridad...
- Y por su empleo!
- Quiero el nonbre del dueño del camion y su matrícula...
- No necesita el nombre de la madre de él?
Bah, o tempo fechou, acho que estou de saco cheio (eles estão detonando minha viagem) e estou sutil como um elefante branco!
Não sei como, a coisa se ajeitou e ele me deu o carimbo de saída com minha promessa que depois eu telefono dando os dados do motorista e a placa do caminhão que irá me “transportar”.
Menti descaradamente, o 1º passo para a fuga foi dado. Estou gelando.
Entre planejar e executar, é o meu que está na reta e sei que vão ficar muito raivosos quando descobrirem o que vou fazer.
Assim eu ganho tempo e ninguém vai me procurar por água, pensarão que segui de caminhão.
Hoje é Domingo, espero até amanhã e me mando na madrugada.
Iria no caminhão até uma praia, mas vou sozinho (por água), não quero prejudicar o motorista que está vacilando. Apenas preciso do nome dele e da matrícula do caminhão.
Ele está meio receoso, mas eu garanti que vou assumir tudo sozinho, se eu tenho peito pra isso, mais ainda para não prejudicar quem está me ajudando.
Meu plano é chegar remando a Colônia, fingir que cheguei por terra e tentar seguir com aprovação da prefectura de lá. O cara daqui tem fama de durão, pra mim não passa de um cagão com medo de perder seu posto.
Agora já não importa mais se vão autorizar ou não, Alea Jacta Est (a sorte está lançada).
A partir de terça, acho que não entrarei em contato com mais ninguém, então eu queria agradecer de coração a todos que estão torcendo por mim.
Foi maravilhoso dividir estes quase 5 meses de aventuras com vocês e o futuro a Deus pertence ( MAKTUB).
Um grande abraço e muito obrigado a todos que, de alguma forma (física ou mentalmente), me apoiaram.
Haveremos de nos encontrar além de terras e através do sempre!
Até um novo despertar!
André
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Nesta noite (depois que enviei o e-mail e voltei pro clube) o suboficial com quem discuti de tarde foi no bar do Luis e disse a ele que havia parecer favorável e que era só esperar que o documento favorável estava a caminho.
Isto me desarmou, para que arriscar tanto se viria o tal documento me liberando?
Era tudo mentira, Era Domingo e quando fui lá, na segunda, o documento sequer havia saído de Carmelo. Isto fiquei sabendo depois!
Estes foram alguns dos e-mails que recebi durante minha “estada” em Carmelo:

PARABENS PELA ETAPA BSAS-URUGUAI!
Te segura um pouco essa angustia ai, vivente!
Não te precipita... Vai q a coisa se deslinda.
Daqui fazemos o q pudemos. Já se conseguiu um contato q rogo q ajude algo.
Sei q deve estar angustiado, mas espera um pouco mais.
Um abraço.
Estamos com vc!
Asterix~~~~~~Rodrigo Beheregaray

Amigo, como falei ao Danilo, as pedras já começaram a rolar e a peleia será só uma questão de 24 h, a menos que algo aconteça; que me deixem partir.
Pede pro Danilo não colocar nada no grupo de amigos do que estou falando com vocês, pois pode haver “inimigo na trincheira”.
O que restou do pelotão farroupilha vai em frente nesta luta contra moinhos de vento.
Espero que a gente se mantenha digno na hora derradeira e seja o que Deus quiser.
Um baita abraço amigo. Amanhã ainda estarei por aqui e de madrugada, na terça, a gente se manda.
Obrigado por tudo
André!

Oi Andréa, estou com os nervos à flor da pele. Minha fuga será hoje de madrugada, terei de navegar no escuro em um local onde nunca estive antes e dormir, escondido, de dia.
É muita adrenalina, espero não morrer intoxicado, he, he!
A menos que haja algo novo, que me permitam seguir em frente, eu vou entrar nessa fria. Não sou muito religioso, mas acredito em Deus e espero que ele me carregue nestas horas difíceis.
Não sei como vou conseguir chegar ao Brasil assim, mas eu já escapei de coisas bem piores na selva amazônica, fugindo dos caras do Sendero Luminoso. A vida é muito gozada, agora estou no maior sufoco e de repente a gente estará rindo do que passou em algum lugar de Floripa.
Acontece que na hora do sufoco não é nem um pouco engraçado...
Bueno, muito obrigado e um abraço.
André!

Andrea Tobal
Oi Issi, nossa foi transmissão de pensamento... estava lendo teuse-mail quando abri este ultimo...Bom, tenho recebido teus e-mails sempre, vc com certeza deve escreverum livro, além de interessante suas histórias, vc escreve muito bem.Fica bem aí ....muita calma nessa hora . Deus vai te dar forças eajudar vc a vencer todos os desafios. Pode contar sempre comigo e comseus amigos.Te cuida e see you later :))))Abração,Déia

Mário
Aqui eu vou executar o plano M (merda) e o que restou do pelotão Farroupilha vai lutar com unhas e dentes até chegar de volta nos pagos do Rio Grande ou morrer peleando!
Um baita abraço do amigo
André.

Ribeiro Mário escreveu:
E ai rapaz!!!Se vc conseguir ler isso, aí vai o recado, senão, sabe que a gente tá mandando energia e receba direto no coração.
Manda bala e que se f.... esse prefecto de Carmelo. Apronta mais uma e tchau. Eles nunca mais vão te ver.
AGORA, VAI COM CUIDADO E CHEGA aqui com a cabeça em cima do pescoço, certo?
Um abraço gaudério.
Falou meu fio. Fica com Deus

De André a Juancho:
Hermano, si llegar a Brazil depender de su voluntad y amistad ya estaria allá. Muchas gracias por todo lo que estas haciendo por mi.
Estoy todo cagado pero me voy adelante. De aqui me voy a la prefectura y te informaré que pasó, un fuerte abrazo André!
La Bianca <labianca@ciudad.com.ar> escreveu:
André lee este email, de mi amigo de Montevideo.
Un Abrazo,
Juancho
Juancho.-
PD: a continuación te envío el mail que le mandé al Dani
Estimado Daniel,En esta oportunidad le escribo para solicitarle, las gestiones pertinentes para lograr la autorización de navegación por aguas Uruguayas de un amigobrasilero. Paso a contarle un poco de que se trata:André Issi, es un amigo brasilero que hemos conocido en nuestro paso por su país en el marco del “Raid en Kayaks desde Rosario hasta Rio de Janeiro”.Actualmente, André está viajando en kayak con la intención de unir todas las capitales del Mercosur. Ha partido de la ciudad de Brasilia el 18 de Juniodel 2005, y descendiendo por los ríos São Bartolomé, Corumbá, Paranaiba y Paraná, ha pasado por las capitales de Brasil (Brasilia), Paraguay (Asunción) y al día de hoy se encuentra en la capital de la Argentina (Buenos Aires).Su próximo destino es cruzar al Uruguay, para pasar por Montevideo y llegar navegando a Chuí, donde entrará por la barra y continuará su navegación por las lagunas de la zona, con el fin de llegar navegando a Porto Alegre, de donde es oriundo.Cabe aclarar, que André está física y mentalmente preparado para afontar todas las posibles adversidades que se encuentre en su derrotero. En su embarcación posee todos los elementos de seguridad y comunicaciones que son requeridos por las autoridades navales.Como sabemos por experiencias pasadas, lograr la autorización el rol denavegación para un kayak en Aguas Juriccionales Urguayas, a través de lasprefecturas es bastante complicado.Mi intención y a través de Uds., es darle una solución a este amigo que sin dudas está marcando un hito en la historia de la naútica deportiva.Días pasados he intentado comunicarme con Ud. vía telefónica pero me ha sido imposible establecer dicha comunicación.A continuación le paso los números de teléfonos que poseo: Sin más lo saludo atte. y quedo a la espera de sus respuestas.Cordialmente,Juan La Bianca.- From: “La Bianca” Subject: desde Rosario.-Daté: Fri, 4 Nov 2005 18:06:34 -0300Hola Lincoln,
Cómo van tus cosas? Los cata? La Flia?Espero que todo este sucediendo positivamente.Te escribo porque hay un amigo brasilero que está viajando en kayak, desde Brasilia hasta Porto Alegre n kayak. Hoy está en Carmelo (ROU), y como no podía ser de otra manera está teniedo problemas para conseguir el rol de navegación.Yo hace unos días le envié a Daniel Sorribas un mail contandole de mi amigo, pero no me ha contestado Simplemente le pedía que me diga que pasos tenía que seguir o quien se tenía que dirijir. Ya sé que no está más en Dep Naúticos.El tema es si vos a través de alguien, no se quien, poder llegar al jefe de Deportes Nauticos de la Armada, y de esa manera hacer directamente el contacto, porque a través de las Prefecturas lo van a volver loco. (le piden una lancha de apoyo).También lo intenté llamar al Dani, pero el tel no funca: . Vos tenés otro donde comunicarme con él?Bueno, Lincoln te mando un fuerte abrazo. Ojalá que podamos darle una mano a este amigo que ya tendrás la oportunidad de conocer (se llama André Issi).
Juancho!!! te cuento que las cosas aquí van rodando bastanta bien. los catas bien, reparados ya navegué 3 días seguidos a full. estoy muerto de cansado. El asunto del brasilero ya lo puse al tanto de todo a Diego Ross que también me escribió contandome de dicha travesia. A Daniel sorribas le perdí la pisada, el miercoles pasado me encontré con él navegando por la zona de Carrasco y nos saludamos ; pero no existe más la parte de nautica deportiva de la armada que era él el que tenía ese currito; pero las nuevas autoridades no le han dado pelota a nivel de la Armada. Cuando tenga alguna novedad te cuento; pero el Brasuka ya se debe de haber ido para cuando sepa algo jeje...Lincoln Gomez

Danilo - popacombr <info@popa.com.br> escreveu: Só por curiosidade, já viste qual é a corrente marítima predominante, de R Grande a Montevidéu?Sei que por onde andamos, a 5 ou 6 milhas da costa nada tem a ver com a corrente reversa da rebentação. E não tenho experiência com correntes marinhas. A corrente pode ser em torno de 2 nós. Qual é a tua velocidade de cruzeiro?Acho que a Marinha brasileira, se souber de ti, não te deixa passar também, sem um monte de exigências. Vai ser igual ou pior que a do Uruguai.Chegando em Montevideo, na marra, estará de bom tamanho. Se te pegarem pelo caminho, podes dizer que não estás indo pro Brasil. Apenas um passeio a Montevideo. Cosa poca.Abraço,
Danilo
Oi Danilo, eu sou 1º Tenente da marinha, quer dizer, eu fui, como odontólogo, aquele serviço militar obrigatório que podes prorrogar por 4 anos. Não sou de carreira, sou o famoso RNR (reserva não remunerada). Não importa, o posto fica para o resto da vida. A capitania de S Catarina está ciente, tenho até uma carta de ciência da viagem assinada pelo comandante Hugo. Antes de ser transferido para floripa, servi no 5º comando em Rio Grande(1987). É graças à marinha que estou em Floripa, aí não tem rolo.Não sei bulhufas de corrente, apenas sei que ela é de acordo com o vento.Acho que, no mar, farei entre 3 a 5 km/h.Acabei de dar o 1º passo pra minha “fuga” as coisas estão acontecendo.Estou gelando, é uma coisa tu planejares e outra executar.Acabei de retornar da prefectura, disse que iria de caminhão e o suboficial de serviço pediu o nome e a placa do caminhão, perguntei se ele não queria também o nome da mãe do motorista e o tempo fechou.Depois ele falou em segurança e eu falei de manutenção de empregos...Estou sem sutileza nenhuma, mas deu certo, ele concordou que eu desse os dados por telefone e carimbou minha saída...Estou entrando num caminho sem volta, seja o que Deus quiser. Se até o final da noite de amanhã nada tiver se alterado ou se não surgir nada diferente, estarei partindo de madrugada. Menti descaradamente, nunca fiz isto, mas o fim justifica os meios. Eu já passei coisas bem piores nas selvas do Peru, com caras do Sendero e Polícia atrás de mim. Isto não é nada (perto do inferno que eu passei por lá). Que eu estou todo “borrado” estou, mas este espírito aventureiro escraviza o corpo, seja o que Deus quiser.
Um abraço,
André!

Acho que fizeste o que estava escrito que ias fazer. Não concordo com “as coisas do destino”. Apenas acho que a tua atitude foi coerente com o que tenho lido nos teus diários. Era esperado que fizesse isso. Boas correntes marinhas sem vento,
Boa sorte! Abraço,
Bueno meu amigo, eu te agradeço por tudo, amanhã venho aqui no centro acessar a NET e saber se aconteceu um milagre, que eu não acredito. Qualquer coisa, eu te mantenho informado e ainda quero tomar aquele simbólico chimarrão. Daqui isto me parece uma coisa utópica... Acho que vou ter uma reunião com o que restou do “pelotão farroupilha” para que todos se portem bem no campo de batalha e representem bem o Rio Grande. Torça por mim, de repente eu consigo! Um grande abraço, André.

André, hermano mio: Solo te pido que lo que escribas lo hagas por privado, pués se está leyendo en los foros, en “navegando por el mundo”. Ahi está gente de Prefectura Naval Argentina, y es muy probable que esté la Prefectura Naval de Uruguay...creo que debés cuidarte...Te mando un forte abrazo y muita sorte ...Ernesto
Hermano desculpa, estoy jodido! Quien está poniendo esto al foro? Cuanto cuesta un cajón?
Si lo que hablé del prefecto de aqui llega a los ouidos de él, estoy muerto!Ahora si tengo que fugarme, he, he! Este aviso fué demasiado tarde, te acorde que un dia te quedastes amigo de un brasileño que no entendia nadie de diplomacia y por esto se murió. Un fuerte abrazo,Andrés
talhamar <talhamar@ig.com.br> escreveu: Oi André sinto muito não ter como te ajudar nesta dificuldade com as autoridades mas posso te desejar o maior sucesso.Talvez acreditem que foste por terra ,ou que não saiam para te procurar.Realmente o que mais atrapalha são os homens ,se fossem ventos ou correntezas já estarias longe. Muitíssimo obrigado pelos diários, estou com minha esposa doente mas lendo-os me distraio e me animo pois vejo que com persistência tudo se supera .Continuo as tuas ordens para qualquer coisa em que puder te ajudar,é só pedir ou mandar recado.Bons ventos Henri.

Paulo Issi escreveu:
BRODY! Estive consultando pessoas que conhecem o modo de ação da policia e da justiça Uruguaia e eles me disseram que a melhor forma de tu conseguires a autorização é pela diplomacia. Eu acho que uma mão amiga seria interessante e tu deves exercitar a tolerância, pois esse negocio de ficares nervosinho e ofenderes os caras, só será pior para ti pois eles não tem nada a perder . Não sei por que toda esta pressa agora , que pode botar todo teu projeto a perder e não ter o final esperado . Os caras aí são fogo, por isso não adianta quereres dar uma de esperto porque agora eles já sabem da tua intenção (pelos foros de navegação da internet) e irão (por questão de birra) atrás de ti onde estiveres. Como é fácil te ver , alguém poderá te delatar para eles . Portanto , brody , não estraga “ a nossa historia “ ( teus leitores ) , porque, se não, iremos te processar por engano ao consumidor , no PROCON . Pensa bem e deixa de ser cabeça dura , a baixinha tua mãe , também acha isso .
Um abração Paulo

O PROBLEMA É QUE O TEMPO QUEDA POCO E ....
SABES, BRODY, TU TENS TODA A RAZAO!
ÀS VEZES EU TENHO VONTADE DE DAR UMA PORRADA EM MIM MESMO, MAS ESTE CORPO VÉIO TEM QUE ME LEVAR PARA FRENTE, ENTÃO TENHO QUE PRESERVÁ-LO.O CARA DO BAR ONDE ESTOU COMENDO É DA POLÍCIA E CHAMOU UM CARA DA PREFECTURA PARA CONVERSAR.
ERA JUSTO O SUBOFICIAL QUE EU FALEI ONTEM. ELE FALOU PRO LUIS QUE HAVIA PARECER FAVORÁVEL E QUE SÓ FALTAVA O DOCUMENTO CHEGAR AQUI PARA ELES ME LIBERAREM.
ACABEI DE VOLTAR DA PREFECTURA MAS NINGUÉM SABE NADA. VOU LIGAR PARA UM CARA DA PREFECTURA QUE O GRUPO DE VELEJADORES DE POA ME DEU, ELE TALVEZ SAIBA ONDE E COMO ANDA O DOCUMENTO.
EU IRIA SAIR ESTA MADRUGADA E AO SABER QUE PODERIA IR NA BOA, ME DESARMEI.VOU ESPERAR MAIS UM DIA!
FOI MUITO BOM RECEBER CONSELHOS, VALEU BRODY!
TENHO QUE PENSAR QUE NA SELVA PERUANA E COLOMBIANA FOI MUITO PIOR E EU CONSEGUI SAIR DAQUELE INFERNO, AQUI É SÓ UM BANDO DE BUROCRATAS QUE EU TENHO QUE TRATAR COMO GENTE IMPORTANTE, HE, HE.
O PIOR É QUE ACHO QUE BOTARAM MEU DIÁRIO EM UM FÓRUM ARGENTINO E SE O QUE FALEI DO PREFECTO BOLUDO DAQUI CAIR NO OUVIDO DELE, ESTAREI EM MAUS LENCÓIS, SÓ ME RESTA CONFIRMAR TUDO NA CARA DELE.
É ISSO AI MEU IRMAO, VOU TENTAR MANTER A MENTE QUIETA POR MAIS UM DIA. A FODA E QUE SE FORAM 3 DIAS DE SOL, SE FIZER MAU TEMPO ELES NÃO ME DEIXAM SAIR.BUENO, OBRIGADO PELA FORÇA, UM BAITA ABRAÇO ANDRÉ

Issi <ps.issi@terra.com.br> escreveu: E ai! Brody . Estes dias li em algum lugar , que as pessoas que tem sonhos e os perseguem com afinco , sempre terão sucesso mesmo que surjam dificuldades ou barreiras que no momento impeçam a continuidade do projeto . Pois carinha , a tua viagem já é um sucesso mesmo que por problemas burocráticos tenha que ser interrompida temporariamente agora . Tu não tens o direito de te diminuir por isso , porque seria uma avaliação equivocada do todo que tu já fizeste até agora e para nos todos ( mesmo pessoas que tu não conheces ) tu és um vencedor e o que nos queremos mais , é poder te abraçar e curtir juntos os teus causos . Espero que ao leres este e.mail tu já tenhas a autorização para navegar . Um abração bem apertado .Paulo
Cara, eu li o outro e-mail primeiro mas este aqui me detonou...Aquele acidente não foi uma coisa ruim, ele me ensinou a dar mais valor ainda aos que eu considero mais que amigos, àquelas pessoas em que eu não vacilo um minuto para dar minha vida em troca e tu certamente é essa pessoa. Não é “mariconadas”, é uma simples afirmação do que eu já pensava há muito.A Sandrinha te fez muito bem, virastes um poeta, o amor é lindo, he ,he.Um baita abraço de três voltas,André

07-11-05 Segunda dia 140
Segui para a internet, recebo muitos e-mails de apoio e depois sigo para a prefectura. O marino diz que não chegou nada referente ao despacho, mordo o lábio para não falar besteira de novo, é melhor sair dali.
Caminho de volta ao centro e ligo para o Oficial Miguel Franggi, que o amigo Carlos Font indicou.
Ele diz para eu passar lá na prefectura amanhã...
Volto para o clube, esta seria a noite da “fuga”, mas vários e-mails me aconselhando a ter paciência, um deles em especial, de meu irmão, que quase nunca escreve, me comoveu.
Esta noite voltei para o clube e ficamos assistindo ao show do Maradona e suas entrevistas com Fidel Castro e Mike Tyson.
Fidel é um personagem, história viva. Ele fala do império americano, da nossa eterna dívida externa (dos paises latinos) e de como isto alimenta a riqueza dos americanos de sua política para os latinos...
Mike Tyson é outra figura polêmica e mostrou o seu lado humano, é um tipo muito simpático.
Hoje que descobri que aqui no Uruguai é uma hora a mais que no Brasil. Ficamos tomando vinho e vou dormir perto das 3 h.
08-11-05 Terça dia 141
Acordo cedo e vou à prefectura, o oficial carrancudo que me atendeu no 1º dia diz que não tem nada de novo; peço para falar com Franggi e ele muda de atitude e me põem a par, diz que só ontem (segunda-feira) os documentos foram encaminhados...
O outro oficial falou (no Domingo) que já havia parecer favorável e que segunda ou terça o documento estaria voltando...
Mentiroso, mereceu a afronta que lhe fiz!
Aparece Franggi, ele diz que tenho que esperar, falar com o prefecto...
Mais um burocrata! Achei que ele fosse fazer algo diferente, bater no peito e dizer: Deixa comigo eu vou falar com o prefecto e tentar algo!
Mas é só mais um...
Porque ele iria se arriscar por um estranho?
Tu olhas pra uma pessoa e vê o que ela pode fazer por ti, não vi nada, agradeço e vou embora.Pergunto por perguntar se eu posso seguir de bicicleta...
Dizem que não há problema, eles fazem o despacho. Eles parecem aliviados, duvido que sequer meus documentos tenham sido enviados, iria morrer esperando.
Bem disse o Danilo:
- Como pode esse cara viver tão intensamente e nós não podemos sair daqui?
- Tenemos que hoder el tipo!
É isso aí meus amigos, eu sou um cara livre!
Eu não sou um caiaquista, ciclista, windsurfista, motoqueiro ou alpinista eu sou simplesmente um aventureiro que uso o que posso para “voar” além de terras e através do sempre.
Eu tinha tudo para seguir em frente por água, mas não serão estes homens pequenos de espírito que irão me deter, minha alma é imortal e meus prantos irão ceder...
Se não posso de um jeito, vou de outro, mas com meu próprio esforço.
Vou tentar tudo antes de desistir. Passo no centro de hidrografia que há ali perto.
Descubro que subir o R Negro contra a correnteza e passando por três barragens e ao final teria que ser transportado ao R Jaguarão para chegar na Lagoa Mirim.
Essa alternativa não dá!
Sigo a pé e a idéia de colocar o caiaque num reboque e puxá-lo com uma bicicleta não me sai da cabeça.

E-mail Loucura
Carmelo, 08-11-05 Terça dia 141 hora: 12:13h
4º dia de “prisão”
Amigos estou lhes dando esta em primeira mão, não sei se vai dar certo. Fui na capitania falar com os caras, falei com o tal Franggi e senti que estou perdendo tempo!
Eles nem haviam mandado minha carta para o prefecto. Agora corre toda aquela burocracia... Vão se f... Esses fdp enfiem no traseiro a porra da autorização, porque o pelotão farroupilha cansou de esperar estes cornos.
Vou comprar uma bicicleta velha, já acertei com um cara e ele vai fazer o reboque para mim. Ponho o caiaque no reboque e pedalo uns 600 km até o Chui e o ponho nágua, na Lagoa Mirim, num riacho Uruguaio (Arroyo San Miguel) onde ela inicia, há uns 7 km de Chuy. Ali no banhado fica a bici e o reboque.
Tive a idéia ao voltar da prefectura e já agitei tudo, é só esperar arrumar tudo e acho que em 12 dias de viagem chego ao Chui.
Agora sou eu que não quero mais, estou fascinado com essa idéia!
Será uma baita aventura atravessar o Uruguai de bicicleta velha com um caiaque de 5,20 m no reboque.
Bueno, agora vamos executar o plano.
Se eu fosse na camufla, ia dar o “gosto” pra esses cornos me prenderem mais cedo ou mais tarde.
Seria toda a costa, não tenho como cruzar todo o Uruguay sem ser encontrado pelas autoridades, eles têm olheiros por tudo.
Eu ainda não parei para pensar em como será pedalar 600 km com esse caiaque pelas rodovias... De bicicleta... A última foi em 81 até os canyons.
Tenho tudo planejado a la Issi; meter o peito e dar a primeira pedalada, fácil!
A pessoa talvez faça amanhã o reboque com peças velhas, é um tiro no escuro, mas é melhor eu seguir antes que me dê aquela vontade doida de colocar uma bomba ao lado do vaso sanitário del prefecto.
Abraços,
André!

Cara, é uma baita aventura, depois tu coloca na água e segue pela Mirim...
Encontro Hugo pelo caminho, falo de meus planos. A idéia é tão absurda que ele fica falando:
- No, no puede!
- Ele ri, repete “no puede” sem parar, não acredita que estou falando sério:
- Si, se puede! Digo eu!
Explico minha teoria, tenho que encontrar um reboque ou alguém que faça um.
Tentei comprar um reboque de frutas, mas o cara não quis vender, apenas indicou um taller (oficina) de bicicletas, mais para o centro.
Sigo caminhando até o centro, procuro bastante e encontro Mário Pereira, ele diz que faz o carrinho para o caiaque e me consegue uma bicicleta velha.
Primeiro tenho que saber se a policia caminera não vai complicar, senão nem vale a pena começar.
Vou à polícia, consigo o telefone da policia caminera e parece que posso seguir até Montevideo. As coisas estão acontecendo!
Retorno ao taller e digo a Mário para tocar em frente. Fazemos um esboço do reboque e vou providenciar outras coisas.
Volto para o bar de Luis, almoço com ele e Hugo, a gente fica rindo sem parar, eu não consigo me imaginar de bicicleta na estrada com um caiaque de 5,20m no reboque... Dar uma volta até a beira de um rio tudo bem, mas viajar assim...
Ninguém está acreditando!Nem eu!
Digo a eles que agora nunca mais vão me esquecer, serei o cara que chegou viajando cinco meses (4.300 km) de caiaque e que saiu de bicicleta com o caiaque no reboque por 600 km e depois segue por água mais uns 1200 km. É algo tão inusitado, tão de repente que eu fico rindo sozinho. Como é bom ser louco!
A confecção do reboque na oficina de Mário
Imagina na hora de armar a barraca na estrada, tendo ao lado um caiaque e uma bicicleta...
Serão 600 km de aventuras pela frente... Estou quase explodindo de alegria, eu tenho que agradecer aos caras da prefectura. Graças a sua tentativa de me deter eu me tornei maior ainda.
Não sei se vou conseguir, será um problema eu me adaptar a uma viagem assim. Fosse só de bicicleta já seria louco, rebocando um enorme caiaque através de toda a costa do Uruguai...
- Os soldados que restaram do pelotão farroupilha urram de satisfação; novas aventuras esperam nossos heróis.
- Senhor!
- Fale soldado!
- Estamos sitiados aqui, o inimigo nos supera horrendamente em número e em armas.
- Faz cinco dias que estamos sob fogo cerrado, estamos com várias baixas...
- Eles têm navios, helicópteros e outras bases prontas para nos atacar caso tentemos fugir por água.
- Faça um relatório!
- O Ten. Paciência morreu, o Cabo Grana (guita) e o Sargento Tempo estão nas últimas...
- E o comunicado (ao prefecto naval) que enviamos?
- Certamente foi interceptado e eles dizem que está a caminho para nos manter aqui até que acabem nossas provisões.
- Avise a todo o pelotão que haverá uma reunião de emergência!
- Senhores, temos uma missão secreta na cidade de Rio Grande, fora o fato de que por este caminho todas as forças inimigas estarão concentradas e nossas chances serão mínimas de avançar em território inimigo sem sermos descobertos; ainda mais que teremos que viajar de noite e ficar escondidos de dia.
- Isto pode acabar com nossa missão definitivamente. Temos compromisso com nossos leitores e as aventuras não podem parar!
- Recebi uma mensagem do Ten. Paulo Issi e de diversos simpatizantes de nossa causa.
- Não podemos bater de frente com eles agora, seria uma insensatez!
- Mas nós somos homens livres, eles são homens “pequenos”, nunca conseguirão alçar vôo como nós.
- Irão sucumbir como ratos, presos em algum porão de navio, sem nunca poder ver a luz do sol e vivendo de restos...
- A missão que estou preparando para todos não será nada fácil, seguiremos todos juntos pelos campos uruguaios até encontrarmos a Lagoa Mirim. Serão cerca de 600 km, então eu quero que todos ponham o coração nesta missão.
- Ouvi falar que Garibaldi atravessou seus barcos por terra e enganou seus inimigos.
- Vamos fazer o mesmo e atacá-los quando menos esperarem.
- Caso dê certo, conseguiremos vencer esta guerra e voltar aos campos do Rio Grande.
- Homens preparem-se para a batalha!
Por enquanto é só, estou indo à oficina de Mário para ajudar na idéia de como será o reboque. Amanhã envio mais notícias. Um abraço, André!
É isso aí amigos, foi um dia cheio, consegui me livrar da burocracia, descobri que meu documento ainda não voltou (novidade) e que seria útil só até Colonia, ali teria que passar por tudo isto de novo para seguir só até Montevideo.
Quer dizer que estou parado há sete dias para conseguir uma autorização que me permitiria avançar apenas 80 km (até Colônia Del Sacramento) e depois teria que passar por tudo isto de novo...
Ainda tem gente que acha que isto não é burocracia...
Hoje eles exigiram mais coisas e eu fui de um lado a outro atrás de papéis...
Só agora informaram que eu deveria passar na imigração, quantas vezes estive lá na prefectura e eles não disseram isto antes?
Tive que ir ao centro, implorar para que o cara da imigração me fizesse o favor de atender fora do horário e voltar na prefectura para receber o carimbo de liberação, malditos burocratas incompetentes (os da prefectura)! Assim fico livre para viajar amanhã mesmo.
O que importa é que tudo ficou pronto, o reboque ficou pronto de manhã e a bicicleta tá na mão.
Agora é tudo comigo!
As fotos mostram a travessia que fiz no início da viagem e a dificuldade que foi transportar sozinho o caiaque sobre as rochas; uma delas mostra Mario Pereira confeccionando o reboque com restos de bicicletas. Estou partindo esta madrugada, um abraço a todos, André!
Incrível
Amigos, estou aqui (na Lan House)escrevendo para vocês e chega um homem, ele se chama Raul ...
Viu meu caiaque na rua, aqui na frente da internet e vem me oferecer ajuda. Ele conversou com Mario Pereira (que construiu o reboque) e ficou sabendo do meu caso.
Diz que está envergonhado pelas autoridades e pelo que estão fazendo comigo.
Ele diz que eu devo sair de noite e seguir uns 40 km daqui, que ali tem um amigo na prefectura que vai me ajudar a seguir por água. Que se eu chegar a Colônia terá um canal de TV me esperando e eles vão tentar ajudar.
Eu expliquei a ele do meu plano de fuga e que só não fui porque aquele suboficial avisou ao Luis (no Domingo) que havia parecer favorável ao meu documento e que era uma questão de dois dias...
Tudo mentira! O documento nem havia seguido para Montevideo.
Eles estão me matando no cansaço aqui, dizem que é igual em todas as prefecturas, mas Raul fala que não é verdade!
O problema é o prefecto daqui, o comandante de piraguas.
Eu já sabia, o cara daqui não passa de um fdp.
Eu tenho que acreditar mais nos meus instintos.
Agora eu estou fascinado com a idéia de seguir em bici, mas vou à mídia como falou o Juan, tem que denunciar este corno de Carmelo...
Raul vai me encontrar hoje à noite, eu iria sair agora de madrugada na bici, como iria “fugir” na madrugada de terça.
É o que deveria ter feito, mas eu não tinha ninguém me apoiando como agora. Raul chegou um dia atrasado.
Ele diz que se eu mudar de idéia eles dão um jeito com a bici (desfazer o negócio).
É brody, estão gostando desta viagem “normal”?
Acontece que eu estou fascinado com a idéia de atravessar o Uruguai com o caiaque no reboque da bici, acho isto muito mais louco que fazer este pedacinho. O mar eu vou enfrentar mais tarde, é só uma questão de tempo, pois de Porto sigo pra Floripa.
Agora cruzar o Uruguai deste jeito, abandonar a bici e o reboque num banhado e continuar de caiaque... É muito mais adrenalina do que eu imaginava.
O que vocês fariam entre uma coisa e outra?
Aceito sugestões, mas tem que ser em questão de minutos, pois a bici está com o caiaque aí na frente e daqui eu saio logo.
Vou tomar um “porre” de vinho e me mando de madrugada!
Amigos, acho que estou me superando. Isto é mais do que sonhei, to “viajando” brody!
______________________________________________________________________
Danilo
Viu o último e-mail?
Tudo o que dissestes deles e o que eu queria e deveria ter feito estava certo.
Eles mentem, criam boatos e retém documentos, não dá para acreditar em ninguém. A ajuda chegou tarde.
Danilo, tudo o que tu falas sobre as correntes é verdade e pode ser até pior, mas eu queria a chance de ter tentado, só isto!
Acontece que estou fascinado por esta nova aventura a seguir com essa palhaçada que os caras estão fazendo, tira o prazer de fazer as coisas. Achei uma maneira de seguir com prazer, de buscar algo novo.
O olhar da gente nunca pode deixar de buscar horizontes, pois a alegria dos aventureiros é chegar aonde os olhos não conseguem ver!
É Brodinho, é uma decisão difícil que certamente irá mudar o teu destino, porém eu acho que quando tu leres este e-mail tu já terá decidido há muito tempo e já estará longe seguindo o teu destino . Tenho certeza que a tua decisão será por bicicleta , pois depois que tu almeja alguma coisa ninguém tira da tua cabeça ( eu preciso, como diz o nosso amigo Bello). Acho que eu tb decidiria pela bicicleta, pq tu já tem experiência e passado com a magrela, e tb já sabe as dicas necessárias. Além do mais, acho que com a magrela, tu vai variar um pouco mais, digo, sair um pouco da água, andar no chão, porém, deves ter o maior cuidado com o trânsito que é perigoso, e sempre tem um maluco para querer sacanear os aventureiros, só por sacanagem mesmo... Te cuida, fica tranqüilo que tu vai dar um jeito, não te puteia demais pq ai não adianta, ai tu não pensa direito e faz merda... e tu está sozinho, a não ser com a nossa ajuda mental que tb ajuda, porém não resolve. Seja qual for a tua decisão, toma cuidado, vai com calma e nos mantém informados pq estamos muito apreensivos com esta nova situação aí, usa sempre a tua identidade militar para te ajudar e para eles saberem que tu é uma pessoa de bem e influente , bom carinha , um grande abraço, boa sorte, te cuida bastante, boa viagem, Paulo Rojas

Querido cunhado,
Acho que tu és muiiiiiiiiiiiiiiito louco, mas eu gosto destas tuas loucuras, te acho ousado, corajoso e adoro ler teus “causos e histórias”. Se desta maneira tu te sentes feliz vai a luta companheiro “por que não tá morto quem peleia”!!!! Na vida só temos duas escolhas ...Ser Feliz e Ser Feliz... o resto é bobagem. Procura te cuidar, te dar o mínimo de segurança e vá em frente, não esqueça que a tua felicidade estará sempre contigo onde quer que tu estejas e para onde quer que tu decidas ir. Teus olhos podem tudo ver, teu corpo te conduz mas a tua mente é a tua força e é capaz de te levar a um mundo de sonhos e de grandes desafios e aventuras.
Seja feliz e boa sorte,
Beijos, abraços Sandra.

JaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaBuenisimoooooNo pierdas el tiempo con los milicos.Segui como sea.Me da alegria que se te acurra otra manera para seguir.Suerte viejo”QUE SUFRA EL CUERPO Y NO LA MENTE” Un abraso hermano,sin mariconeadas. Ariel

Como vai Issi, fiquei sabendo pelo Marcelo que vc está em viagem por alguns Países, fico muito feliz em saber de seu espírito de aventura! Mas te peço que tome muito cuidado com esse marzão aí a fora! Estou torcendo que ocorra tudo bem com vc, e quando concluir esta aventura não deixe de me passar por e-mail ou através de seu Site as fotos dos lugares por onde vc passou! Espero um dia estar na fila aguardando um autógrafo seu, no lançamento de seu livro narrando suas experiências, suas dificuldades,...Te deixo um abraço forte e que Deus te Ilumine neste longo trajeto!
Márcio Hartmann
Buenisssimoooo!!!!
Beleza irmão que encontró a maneira de concertar a situacao.
Definitivamente vai de bicicleta??? tein facerlo público, sai na media, onde sea a burocracia si tein que acabar!!! os milicos tein que quedar como unos boludos.
Um forte abrazo, Juancho
PD: si precisa de um casquete (capacete), me avisa, ja ja ja.

Oi André,consegui um guia do Uruguai mas o rio Cebollati começa numa região de serra que pode ter (brrr) corredeiras e na parte mais baixa (grrr) aguapés. Melhor seguir teu plano e vir até a lagoa Mirim,pelo que vi no guia tem muita coisa bonita no país.Quanto ao teu currículo, é de fazer inveja em qualquer pretenso aventureiro (menos o acidente).Algumas pessoas com quem falei acham que é loucura mas muitas (como eu) achamos que loucos somos nós que nos viciamos em conforto e nos deixamos prender a monstrinhos criados por nós mesmos,perdendo os melhores anos de vida só em sonhos.Acho que és um exemplo a ser seguido por muitos que dizem não ter nada para fazer ou que precisam ser ricos para viajar ou conhecer coisas diferentes. Meu nome é Henri Saut Laça e sou uma mistura de francês,alemão,inglês etc. Sou completo “analfabeto informático”(estou aprendendo para poder me comunicar contigo) mas mecaníaco desde piá.Quando não estou na oficina (um dos monstrinhos)consertando ou inventando algo,vou para a rua,ou em algum barco ou em trilhas.Detesto políticos,autoridades em geral e lugares com muita gente.Sempre passo as férias com a esposa e filha no nosso “nabo”, o Talha-Mar,navegando pelo S.Gonçalo,rio Piratini e parte da lagoa Mirim .Sou eletrotécnico na Furg a 27 anos e infelizmente também já passei dos 40.Se passares por R.Grande me procura,que te darei o apoio que precisares, também serás bem recebido no Museu Oceanográfico ou no Rio G. Yacht Club, é só dizer que és meu amigo. Caso tenhas interesse acho que consigo que façam uma matéria contigo na tv Furg,deves ter muitas coisas interessantes para contar para esses ecologistas de escritório,a gurizada é que vai gostar. Vou parando por aqui pois também tenho que trabalhar as vezes.Não tenho internet em casa e dependo de conseguir algum computador desocupado mas quem tem amigos tem tudo. Desejo uma ótima viagem,abraços Henri

Só tem merda nesta cabeça!
Paula Bandeira
(como podem ver, algumas ex-namoradas ainda me querem muito, he, he)

Boa Noite Tenente Issi:
Estamos torcendo por ti, diretamente de Londres.
Estamos todos aqui, Ângela, Eduardo, Marta e Julio, os guris estão morando aqui desde o inicio do ano. Estão todos acompanhando tua epopéia farroupilha. Vai repetir Giuseppe Garibaldi, vai levar teu “barco” por terra, repetindo nosso herói farrapo. Que sua ousadia e coragem estejam contigo.
Estamos aqui distantes torcendo por ti.
Quando puderes manda noticias.
E AVANTE E PRA FRENTE BRAVO SOLDADO FARROUPILHA
Ricardo Verdi


Como mandé a Navegando por el Mundo el mensaje de más abajo, el amigo y Dr en leyes, Jorge Escudero Rolon te envia sus saludos!!!!

From: navemundo ARGENTINA

To: navegandoporelmundo@gruposyahoo.com Sent: Wednesday, November 09, 2005 9:20 PMSubject: [NpeM] Perseguindo horizontes.......

Reenvío el mensaje y las imágenes del amigo André Issi, de Porto Alegre (BR), André, partió desde Brasilia el 18 de junio de este año Remando más de 4.000 km por los ríos de Brasil, Paraguay y Argentina sin tener ningún inconveniente.
El viernes 4 de noviembre, presentó ante las autoridades de Carmelo una nota (se adjunta) solicitando permiso para seguir navegando hasta su país, hoy 9, aun no ha tenido respuesta su petición, han pasado cinco días sin respuesta, ante esta disyuntiva André a decidido continuar..........en bicicleta.
André continuará su travesía por las rutas uruguayas con su kayak sobre ruedas!!!!!
André, con su empuje, pasión y voluntad a toda prueba posiblemente consiga "sortear" las barreras que nos imponen y que hacen cada día más difícil la navegación de nuestras aguas.
Un ejemplo!!!

Saludos/Luis Monsonis


Subject: Re: [NpeM] Perseguiendo horizontes... y defendiendo leyes
Señor Doctor don André dos Santos Issi
(1): Es bueno recordar la advertencia que traen los equipos de radiocomunicaciones (en español): "Revise las leyes para el uso del equipo en las áreas donde usted se desenvuelve".
(2): Después de la batalla de Las Temópilas, los espartanos levantaron allí un monumento a los bravos soldados que con el mando de Leónidas habían caído combatiendo contra los persas. En la placa decía: "Caminante ve a Esparta y diles que aquí hemos muerto por defender sus leyes".
(3): Te deseo el mayor de los éxitos en tus futuras proezas.
Pasarlo bien MPN (Ancorado en Lavalle y Talcahuano)

Luis, no me importo si las personas se mueren por defender sus leyes, lo que me importa es que sean justas y cada caso es un caso.
Hay una cosa que se llama discernimiento y esto estes de prefectura certamente no lo tienem.
Ahora no importa, pero que esto sirva, de alguma forma , para ayudar navegantes impedidos de seguir sus caminos por un bando de burocratas.
No es el caso de luchar por leys, es el caso de discutir se estan ciertas.
Un fuerte abrazo del amigo y saludos a todos del club Sarandi
André!
Hola André!!!, querido amigo!!!!, vos con tu empuje, tus ganas y tu pasión vas a “empujar” las barreras que las autoridades de esta parte del Río de la Plata se encargan de colocar........
André, te felicito, esto que vos comenzás dejará una huella (pegada) en el Río de la Plata, abajo las barreras, el agua es signo de libertad,..........defendamos la libertad de navegar!!!! Un fuerte abrazo. Luis Monsonis

Nota: André, la nota debe haber seguido su camino burocrático, seguramente, las Autoridades están esperando que desesperes y abandones......vamós André!!!!!
Luis Monsonis

navemundo escreveu:
André, gran amigo!!!, por tus relatos, con mucha alegría veo que “la pesadilla” (pesadelo)uruguaya ya paso, me refiero a las autoridades de PNN (Prefectura Naval Nacional), no a los amigos uruguayos que son una gente esplendida, llena de vida y siempre dispuestos a extender su mano a quien la necesite.
André, te reenvío un mensaje de un amigo brasileño del grupo Navegando por el Mundo, grupo al cual pertenezco, el seguro tendrá algo para comentarte o que quiera hacerte algún reportaje.
Si te parece te envío una invitación para suscribirte o sino me pasas a mi el mensaje.
André, te envío un fuerte abrazo, que las estrellas siempre te sigan guiando.....
Saludos/Luis Monsonis

DO CARALHO!!!!!
MANDA VER XIRÚ!!!
BOA SORTE ISSI!!!
Callegari

3 comentários:

Jair Romagnoli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jair Romagnoli disse...

Alquem sabe como trazer um Markopolo II da Weir para Uruguaiana-RS com o menor custo possível?

Maktub - Andre Issi disse...

Olá Remagnoli
Tenho um amigo no face, leonardo Esch que trouxe dois caiaques da weir desde rosário. È só buscar o nome dele no face
Abraço
André