segunda-feira, 15 de junho de 2009

Parte 5 Porto Alegre a Bella Torres (SC) Final










DE PORTO ALEGRE A TRAMANDAI
Pois é amigos! Passou o Natal, o novo ano está aí e o malandro não queria mais continuar, curtindo a família e os amigos.
Acontece que o "Espírito que Manda" encontrou o pelotão escondido atrás de um computador e resolveu acabar com a moleza. Um dos integrantes do pelotão engordou mais de quatro quilos e antes que ficasse uma "porca gorda" foi intimado a voltar para o campo de batalha.
Ganhei uma vela nova da família Picollo, pois a antiga estava toda rasgada depois de seis meses de batalha.
Entre um vinho e outro com o tio Laerte, aparece o Carlos (Milico) e me presenteia com um belíssimo facão de aço inoxidável. O machete colombiano só servia para cortar marijuana e daqui pra frente só terei juncos.
Fiz outra "limpa" nas coisas do caiaque e apronto tudo para mais uma etapa.
Não sei até onde vou, só sei que vou! Foram 28 dias de moleza!

- Tá vendo este balde e o esfregão a seus pés?
- Deixa de moleza e vá lavando este convés!
- Entrei de "gaiato" no navio...
O coração dispara, os níveis de adrenalina sobem e saber que vou retornar pro sufoco (com bilhete só de ida) não é fácil. Odeio despedida, baixa o astral!
15/01/06 Domingo Porto Alegre
Despeço-me da família e sigo com meu irmão e a Laura para o Veleiros do Sul.
Através de Danilo Chagas Ribeiro, deixo uma carta ao comodoro do Veleiros do Sul, sr. Manfred Florique, agradecendo por todo carinho e atenção que recebi destes novos amigos:

Porto Alegre, 14 de janeiro de 2006

ILMO.SR. MANFRED FLÖRICKE
Comodoro do Veleiros do Sul de Porto Alegre:

Às vezes eu me pergunto se viagens de aventura são apenas atos insanos: se isto tudo, meses e meses seguindo caminhos que conduzem ao limite entre sombras e luzes, vale a pena.
As incertezas são muitas, mas uma recepção tão maravilhosa, o carinho e a hospitalidade com que fui recebido pelo Veleiros do Sul, representado pela sua pessoa, fazem com que eu tenha certeza de que nada foi em vão.
Eu queria expressar minha gratidão na mesma dimensão com que fui recebido, mas isto é quase impossível e só me resta dizer um humilde “muito obrigado” e agradecer a Deus por ter conhecido pessoas tão maravilhosas.
Momentos como aqueles ficarão guardados para onde eu for e me servirão de estímulo nas horas difíceis.
A viagem continua até onde eu puder, tenho minhas limitações! Porém eu sigo com a certeza de que tenho uma gratidão e uma simpatia imensurável por esta “família” que o destino colocou diante de mim, a família do Veleiros do Sul.
Levo com orgulho o emblema do clube na coberta de proa que você mesmo colocou.
Muito obrigado, meu amigo!

. .

Sigo com o Paulo para o Veleiros; encontramos o Maktub numa verdadeira "orgia".
O malandro estava bem belo este tempo todo na companhia de várias lanchas, umas loiras, outras morenas.
Pelo menos há um ventinho favorável.
Um baita amigo: meu irmão Paulo Issi - Retornado à peleia na saída do Veleiros do Sul

Passo o farol azul do Veleiros do Sul que tão bem me recebeu e sigo meu caminho mais uma vez. Antes do último pontal o Paulo e a Laura aparecem de novo.
Chego adiante e abro a vela que ganhei do Nelson e da Dircinha Picollo, em substituição a vela do Lenírio, já rasgada depois de seis meses de batalha.
Aprôo direto para a Ponta Grossa e depois para a ponta do Arado.
Ali o veleiro Victor vem na minha direção. São André e seu filho Victor, acompanhados da Dra. Cláudia Barth, irmã de André
.
Eles estão indo para Punta Del Este e se dirigem para o Clube Náutico Itapuã, o mesmo destino que eu.
Mais coincidências: foi da Cláudia que eu li uma matéria no Popa sobre proteção contra os raios solares e danos aos olhos.
Eles vão encontrar com a Tina que dá aulas de vela e a quem conheci com o Rodrigo, do Asterix. A Tina segue com eles para o Uruguai.
Por fim, ela foi paciente do meu irmão, o Paulo.
Parei um pouco adiante na ilha do Chico Manoel, para agradecer ao seu Varli a acolhida na vinda. Encontro também o Sr. Ericelio que conheci no Veleiros, com o Danilo.
Sigo em frente e chego quase junto com o veleiro Victor em Itapuã. Foram justos os 10 min que parei na ilha do Chico Manoel.
André me dá uma coca e ficamos ali conversando.
Foram 5:30 h desde o Veleiros até Itapuã.
Depois sigo para o Clube Náutico Itapuã e encontro Rodrigo que está de aniversário.

Comi uma deliciosa carne do churrasco de aniversário do Rodrigo (quem manda chegar atrasado?) e depois tomei um delicioso mate com Rodrigo e o pessoal dali.
É uma tarde muito quente, a praia está coalhada de gente e um homem foi salvo de morrer afogado ali no canal; já estava no fundo e o funcionário do clube (Solis, o “Pato”) foi lá e o retirou.
Ele diz que já salvou pelo menos três pessoas assim, é um verdadeiro herói anônimo.
Ficamos ali conversando, uma tempestade de verão finaliza o dia enquanto converso com Lala, Artur, Helena e Rodrigo. Tina partiu com Cláudia e André rumo a Punta.
Cláudia diz que já foi presa no Uruguai por não ter dado saída na capitania daqui.
Danilo já havia sido preso por lá por ter utilizado um rádio PX.
Que contraste, um povo tão amigo e hospitaleiro como o uruguaio ser representado por estes caras da prefectura.
Será que eles não se tocam? Por que todo esse rigor com os viajantes?
O pessoal da Argentina também tem reclamações da prefectura uruguaia.
Todos vão embora, deixo o caiaque entre os barcos e vou dormir na pousada ao lado, chama-se Pousada dos Quiosques e Carlos faz um belo desconto para mim.

16/01/06 Segunda 2º dia
Tomo café com Artur que ficou para dar aula sobre materiais e consertos em fibra para os alunos da vela, converso com Roberto e Marisa (de um trimarã amarelo) e parto às 9:35 h rumo à ilha das Pombas.

Chego lá 1 h depois, foi aqui que vim com meu primo Celso (já falecido) agarrados em cepos de cortar lenha. Na volta tentamos alcançar duas bóias de carro que vinham com o vento e a correnteza.
Não consegui alcançar, quase morri afogado e vi meu primo passar pelo mesmo que eu e berrava como um animal, pois estava se afogando também.
No fim ele conseguiu nadar de volta para a ilha e se "borrou" todo quando chegou na praia.
Tivemos que voltar nos cepos de lenha, tive câimbra nas duas pernas, ficamos 7 h dentro d´água e fiquei com o peito pura casca pelo roçar do tronco.
Foi minha primeira "experiência náutica".
A mãe dizia (parodiando Mark Twain) que quem nasceu para morrer enforcado não morre afogado.
Havia uma placa proibindo inclusive de encostar barcos aqui, vi muitas pegadas de capivaras.
Depois fiz uma reta passando por lindíssimas praias no Parque de Itapuã enquanto seguia na direção da Ilha do Junco e do pontal da praia da Pedreira.
Dali toquei direto para o farol de Itapuã enquanto via a praia do Sítio mais para o fundo.
Praia do Sitio Farol Praia do Tigre Praia de Fora

Encontro seu Elói no farol, o Paulo Zabbo não chegou ainda então resolvo seguir até a praia do Tigre onde me choquei com a prancha na viagem de 83, há quase exatos 23 anos... Foi a 1º viagem de windsurf desde Porto Alegre a R Grande (pela margem Leste.
Farol do Cristóvão Pereira 1983

- Senhor estamos penetrando pela sétima vez na Lagoa, ela até parece uma amante...
- Shhh! Não fale nada, é que tenho que passar por aqui para conhecer uma amiguinha dela, uma tal de Lagoa do Casamento.
Cara, acho que ela escutou, pois o vento, que já estava forte e contra, ganhou um aliado.
TEMPESTADE
Um forte temporal pela popa, vindo do morro de Itapuã e outro pela ponta das Desertas, tornavam o avanço sofrível.
As ondas estavam furiosas e eu queria passar a ponta das Desertas para achar abrigo, pois antes delas não há lugar abrigado apenas dunas e campos.
Não deu, é muita força de vento de rajadas e ondas chocando na proa; tive que desistir (às 16:20 h) e ir para a beira. Arrasto o caiaque e vou para a água tomar um delicioso banho nas ondas. A água está quentinha
Fiquei sabendo depois: esta tempestade atingiu o Veleiro Victor que foi “brindado” com um poderoso raio que clareou tudo como um flash dentro do barco. Este é o relato deles:
“Ao chegarmos na baía do Bojuru estava aproximando-se um temporal. Almoçamos e fomos dormir. Neste momento aconteceu algo impressionante e apavorante. Um raio caiu em nosso barco. Era como se tivessem tirado uma foto com flash dentro do barco, mas com uma intensidade luminosa extremamente superior. Mas nada ocorreu além do susto. Com o temporal lá fora não podíamos sair”.
O vento e as ondas fazem a água subir e invadir a praia por cerca de 15 m.
Raios e trovões e eu sem abrigo. Tenho medo de uma chuva de pedras então pego um plástico e vou me deitar por baixo de um tronco atirado na praia enquanto passa o pior do temporal. Vou “comendo” areia ali embaixo, mas só me resta esperar.
Logo a água sobe e alcança o tronco onde estou me abrigando.

- Idiota, tu estavas seguro e tranqüilo em tua casa e o que estás fazendo aqui, embaixo desse tronco como uma besta?
Volto para meu banho de Lagoa, mas começa a ficar frio e o vento contra só faz aumentar. Achei que iria acalmar e daria para ultrapassar a ponta das Desertas.
Brody, faz alguma coisa, logo vai anoitecer!
Desisto de seguir, melhor procurar lugar para dormir .
Caminho até um solitário eucalipto, mas ali é perigoso, não dá proteção contra o vento e o eucalipto é uma árvore que tomba até com espirro.
Ao lado dele tem a copa de um pinus que foi derrubado e protege melhor do vento sul. Então eu armo a barraca por ali, arrasto o caiaque sobre um monte de areia, amarro em um tronco na praia e me preparo para passar a noite.
Agora são 19:17 h, estou na barraca escutando radinho e vendo a chuva.

17/01/06 Quarta 3º dia
Acordo com chuva e vento. Tenho que esperar uma estiada para desmontar acampamento.
Acaba não parando, o vento sul e a chuva forte permanecem; resolvo ficar dormindo, pois estou ultra cansado de ontem. Remar contra vento e ondas não é fácil, ainda mais com a "lua" que estava fazendo.
Depois de quase trinta dias de moleza eu me desacostumei e tenho que recuperar o ritmo.
A chuva só parou por volta de 19 h, resolvi fazer um passeio pelas dunas e encontrei mais de cinco bolas de futebol de couro, algumas em perfeito estado. Depois vi um graxaim entre as dunas, nos campos mais atrás.
O local aqui é bem desolado e o vento sopra sem barreiras. Até tive sorte de encontrar este pinus caído, é a única barreira contra o vento.
18/01/06 Quinta 4º dia Ponta das Desertas

Amanhece sem chuva, arrumo tudo rápido e me mando às 8:35 h contra o vento SE que sopra forte.
Aprendi a sair com ondas e vou me acostumando com o ataque frontal enquanto me desloco para a ponta das Desertas.
Quase duas horas depois chego lá e encosto no banco de areia.
Ali está cheio de gaivotas pousadas, pegadas de capivara, mariscos gigantes e alguns talhamares, aqueles que voam com o bico laranja encostado na superfície da água.
Vejo dois barcos de pescadores fundeados e logo se vão.
Bueno, o tempo está super estranho, vento quase contra e ameaçando mudar.
Resolvo arriscar todas as fichas e tocar direto da ponta das Desertas para a ponta do Abreu, há mais de 20 km dali.

Ainda não estou com um bom astral, mas é melhor agitar as tripas para entrar no clima de guerra outra vez, caso contrário não saio do estado de "boiolez" que o pelotão está.
O vento virou quase contra, as ondas ficaram de proa e aumentando. Na mesma medida o cutuco foi apertando, o rosto se contraindo e o pelotão foi se unindo para vencer o inimigo que só fazia nos golpear.
Descobri por onde entra água no cockpit, é por onde antes era a saída de água da bomba de porão que foi removida em Rosário, Argentina.
Assim que chegar em terra firme vou resolver este problema.
Quero acampar na ilha que há na Ponta dos Abreu onde acampei na viagem de Wind de 83. Era tão deserta e desolada que passei o dia ali, pelado. Uga Buga!
Acontece que as coisas estão super estranhas, o vento contra só faz aumentar e as ondas na mesma medida.
É um verdadeiro jogo de persistência e paciência, tu ficas olhando pro ponto onde queres chegar, ele não se aproxima nunca, tu vês as nuvens ameaçando temporal e os nervos ficam à flor da pele.
Os músculos do rosto se contraem involuntariamente e tu ficas fazendo caretas sem querer.
- Pelotão!
- Huevos! Hay que tener cojones!
As horas passam, tu ficas com medo de que se vier um temporal talvez tu não tenhas forças de conseguir chegar na margem contra o vento. Caso canse e desista de remar, o vento te levará na direção do nada, talvez mais de 80 km nessa rota até a outra margem. Às vezes é melhor não ter consciência dos perigos, mas eu já estou macaco velho nisso tudo e sei muito bem o que me espera se fraquejar.
Nada mais nada menos do que 4 h depois eu chego na ponta dos Abreu. Descanso e como algo entre os juncos.
Só para ter uma idéia: são doze mil (12.000) remadas neste período, a uma média baixa (50 remadas por minuto). Lá perto de Guaíra a média era de 57 remadas/minuto.
Estou exausto e feliz ao mesmo tempo. Eu não posso fazer este tipo de coisa no mar, talvez nem devesse estar fazendo aqui, mas o suco preferido da tripulação é o de Adrenalina e sem ele não podemos viver, a vida não teria graça!
Aqui é um campo entremeado de banhados, juncos, gado e emas. Bem próximo tem um pilar parecido com um cartucho gigante de metralhadora no meio do campo, parece a base de um cata-vento, super estranho!
Às 16 h chego na ilha da ponta do Abreu, circulo de um lado a outro, não acho abrigo na ilha para colocar a barraca. Parece haver mais duas ilhas e umas casas no pontal que parecem abandonadas. Prefiro ficar no mato a ter alguém que pense que estou invadindo ou tentando roubar algo. Assim evito problemas extras.
Tenho que tomar uma decisão e nada mais me resta do que fazer outra travessia para encontrar local abrigado para passar a noite.
E o pelotão se lança novamente, já cansado de seis horas contra o vento.
Sigo para SE por mais hora e meia até chegar na margem tomada de juncos. Avanço sobre eles e chego num barranquinho gramado onde há uma série de pequenos maricás (espinheiros) que abrigam muito bem contra o vento (18 h).
Agora estou com roupa seca e na barraca enquanto aí fora está chovendo.
São 18:56 h, deu tudo certo, graças a Deus!

19/01/06 Quinta 5º dia
Parto às 9:35 h com início de chuva, extremamente cansado e com vento contra de novo.
Sigo no rumo E-SE na direção do pontal (da ilha) e dali terei uma travessia de mais de três horas contra o vento para Palmares do Sul.
Depois de 1 h passo pela entrada do canal de um levante onde há um barco de pesca verde atracado, mas passo muito longe e sigo em frente.
Ali havia uma casa, mas não sei se estava abandonada.
Sigo por mais uma hora, estou extenuado, quase sem forças para erguer a pá do remo e resolvo encostar um pouco antes do pontal para descansar um pouco.
Começa a chover, estou tão cansado que deito na grama ao abrigo de um maricá e durmo por ali mesmo. Desperto quando a chuva aperta, aliada ao vento.
Resolvo armar a barraca ali mesmo, pois estou esgotado, acho que é estafa!
Talvez tenham sido aquelas 7:30 h remando contra o vento ontem, o que sei é que estou cansado de tudo, perdendo a fantasia e me perguntando se vale a pena continuar. Com paradas e tudo, já se passaram mais de sete meses.
Foram apenas 2 h hoje e resolvo dormir enquanto chove lá fora.
Depois a chuva pára e resolvo fazer uma excursão a pé pela margem rumo ao pontal, mas tem muito banhado e vegetação e resolvo voltar.
Mais tarde resolvo seguir para o pontal pelo meio do campo, primeiro seguindo perpendicular à praia e depois para o pontal.
Encontro a ossada de uma ema, vários ninhos em uma pequena árvore solitária no campo, muito gado e algumas perdizes.
Pontal Ninhos Perdiz Pata de Ema

Chego no pontal, descanso entre os troncos caídos e depois retorno.
Cansei muito, até para caminhar estou cansado. Chegou a dar uma fisgada no abdômen.
O astral não está bom, talvez eu vá só até Torres.
Agora são 17:50 h, estou sentado no caiaque e vendo os bichos do banhado.
Encontrei um crânio de capivara e a tarde toda escutei tiros dos caçadores de marrecas que passam por aqui esbaforidas.
Não tive ânimo de fazer uma travessia de 3 h contra o vento nesse estado de quase estafa. Amanhã vamos ver.

20/01/06 sexta 6º dia
Durma-se com um barulho desses. foi uma sinfonia de rãs, sapos e pererecas agourentas pedindo mais chuva.
- Uéé, uéé!
- VÃO SE RALAR!
Acordo cedo e levo um susto: a água subiu um monte, não tivesse colocado o caiaque sobre um barranquinho agora estaria a ver navios!
Faço o kinojo, arrumo tudo e parto às 8 h tocando direto para umas antenas que vejo do outro lado onde penso que seja Palmares do Sul.
Aqui em frente, há uns 5 km está a Ilha Grande, dizem que é muito linda, mas está fora de rota.
Menos mal que quase não tem vento e o tempo parece firme.
Sigo em frente, espantando bandos de biguás que estavam pousados na água.
Vejo vários barquinhos de pesca ao longe. a Lagoa do Casamento é muito linda e cheia de recantos bucólicos.
Foi por aqui que passou Garibaldi rumo à Lagoa do Araçá e por ali subiu o Rio Capivari até não sei onde e colocou os barcos no campo onde foram arrastados por várias juntas de boi e colocados no rio Tramandaí. Ali um dos barcos naufragou, algumas pessoas morreram. Garibaldi foi resgatado pelo Seival e nele seguiram para tomar Laguna e Anita, "o cara mais macho de Santa Catarina", he, he!
Ainda estou cansado, mas bem melhor que ontem, ainda mais que o sol apareceu e melhorou o astral.
Quanto mais me aproximo da costa, percebo que os barcos se dirigem mais para a esquerda, deve ser para lá a barra do rio Palmares.
Sei que é bem escondida( por causa da matéria do Danilo e da Tina sobre a Lagoa do Casamento) e os barquinhos funcionaram como "track" de Gps e marcaram o "waypoint".
Chique no "úrtimo" ! O pelotão até tem GPS (Grupo de Pescadores Sinalizadores).
Ali na barra tem uma prainha, tenho que tomar um banho de sabonete e fazer a barba para não espantar a população.
Entrada do R Palmares Subindo o rio até a cidade de Palmares do Sul

Ali está cheio de conchas de mariscos gigantes, banhados, mata nativa e bichos.
Que lugar lindo!
Ainda por cima, ao lado da barra do rio, quase ao lado, têm uma série de ilhas e a entrada da Lagoa do Araçá.
- Senhor, e como nós vamos fazer para cruzar o Maktub? Não temos juntas de bois...
- Não se preocupe, temos um touro indomável!
- Senhor, o senhor enganou a Lagoa dos Patos de novo, jurou amor eterno para a Lagoa do Casamento e agora vai penetrar em diversas lagoas, grandes ou pequenas.
- O senhor não perdoa nada...Isso é pecado!
- Aprenda: a nossa vida é muito curta, um flash.
- Nunca se arrependa do que tentou ou realizou, arrependa-se do que poderia ter feito e não fez!

PALMARES DO SUL
É verdade, tenho que subir o rio já sabendo que não existe ligação com as lagoas costeiras, meu próximo destino. Achava que o Rio Palmares ligasse, mas está tapado de aguapés e não liga mais com as lagoas.
Vamos em frente e ver o que acontece.
Começo a subir o rio Palmares que serpenteia entre bosques de mata nativa, pássaros silvestres e garças que se afastam grasnando em protesto enquanto sou ultrapassado por alguns barcos de pesca.
Que lugar lindo, como é que pode haver tanto lugar bonito?
Cada curva de rio é mais bonita que a outra, as boiadeiras estão em flor, e as águas espelhadas contribuem mais ainda para embelezar o que já é belo.
Cerca de uma hora depois vejo um trapiche. Danilo havia dito para eu procurar um tal de Teixeira.
Aceno para um senhor que está sentado a sombra de uma figueira. Pergunto se ele conhece seu Teixeira, ele não escuta bem, diz que seu nome é Carlos e me convida para descansar.
Sua esposa, dona Raquel me oferece água.
Fico ali conversando com eles e o resto da família que mora nas diversas casas do terreno vêm se aproximando e vão, curiosos, observar o caiaque.
Que pessoal gentil, hospitaleiro e amigo!
Em poucos minutos parece que os conheço há horas.
Novas coincidências: o senhor Carlos é o Teixeira (sobrenome) que eu estava procurando e foi a primeira pessoa que eu falei ao chegar na city. Eles conhecem a Tina e o Danilo, foi aqui que eles ficaram. Seu Carlos tem a matéria que saiu no popa.
Conheço Paulo e Godolfin, Leonice, Rose, Carmem (que me deu um delicioso prato de arroz guisado, ovo e salada acompanhado de suco e uvas),
Sérgio e Maristela, além dos netos de seu Carlos: Nicole, Vanessa,Camila, Mano, Roselaine, Renata, Carol, Maiara, Paola, Serginho e Cristian.

Seu Carlos é uma pessoa feliz, vive num lugar maravilhoso, tem os filhos, 17 netos e um bisneto vivendo em roda.
As meninas são lindas e tornam o lugar mais bonito ainda.
Nem cheguei e já adoro Palmares é um local "buena onda" (alto astral).
Muito obrigado seu Teixeira e família, são encontros assim que me devolvem o astral e reforçam as energias para seguir em frente.
Para não passar da conta sigo em frente rumo ao prédio do ecoturismo que fica rio acima. Foi indicado por seu Carlos Teixeira.
Finalmente chego no local, um gramado que vem até a beira do rio passando entre belas figueiras.
Descubro que ali é a secretaria de turismo de Palmares do Sul. A sede está em reformas que Barata, Samuel e Samuca estão fazendo.

Bárbara e Ana Paula são da Secretaria de Turismo e peço ajuda a elas para seguir viagem.
As gurias são super legais, ligam para as outras secretarias e conseguem um caminhão da Secretaria de Agricultura, ele só virá pelas 17:30 h. Dará tempo de comprar umas frutas e alguma coisa de comer no centro.
Chega Diego e outro repórter do jornal da cidade. Eles tiram umas fotos e fazem a matéria. Diego me convida para falar na rádio comunitária e eu topo. Na saída encontro o prefeito, senhor João. Agradeço ao apoio que estou recebendo da prefeitura através da Secretaria de Turismo.
A Ana Paula, que é a secretária de Turismo pergunta se eu não conheço o Dr. Paulo Issi, ela é paciente dele... Ela fala do meu irmão!
Tchê, acho que o mundo é mesmo uma ervilha...
Sigo para a rádio com Diego e ali conheço Lucas. Fazemos a entrevista ao vivo e vou revelando algumas coisas a mais de outras viagens, como "os contatos imediatos" com os caras na selva do Peru.
Foi só uma briguinha de faca no escuro, "cosa poca"!
Saio dali, passo num supermercado e vou retornando quando encontro uma Lan House. Apenas leio os e-mails, dou notícias e saio correndo, os caras do caminhão já estavam me esperando. Fui avisado Por Ana Paula que já estava indo embora e me encontrou pelo caminho.

São eles José e Antônio. Cerca de 18 h partimos sei lá para onde, não sei qual a lagoa para onde vou com certeza, mas dou um jeito de descobrir.
Cerca de 20 km depois seu José me deixa em um pequeno laguinho que se forma numa ponte que liga Palmares a Quintão. Desse laguinho sai um riacho que vai para uma lagoa maior. Vejo as dunas da beira mar e parece que estou ao sul da praia do Quintão.
Pergunto a dois garotos que pescam por ali, mas eles não sabem que Lagoa que é, tão pouco seu José.
Tiro uma foto do amigo e seu caminhão e fico ali, sozinho à beira do caminho.
Preciso acabar, logo com isso... Lembrei de uma música antiga, do Erasmo Carlos!
Empurro o caiaque para o lago e saio remando pelo pequeno canal até chegar na lagoa.
Resolvo atravessá-la, mas (depois de atravessá-la) decido retornar e acampar no interior de um mato de pinus que fica no extremo sul da Lagoa. Para frente só tem dunas e prefiro dormir abrigado.
O caiaque ficou lá na beira, amarrado numa cerca entre os juncos.
Fica escuro mais cedo, o lugar é sinistro e uma coruja fica piando aqui perto..
Ao lado daqui tem um camping, mas resolvo ficar na minha. Fico aqui, encostado em uma árvore, escrevendo o diário e vendo o dia se ir.
Amanhã dou um jeito de descobrir onde estou. Isto é importante, pois assim saberei para onde me dirigir, buscando os canais de ligação entre uma lagoa e outra, escondidos entre os juncos.

21/01/06 Sábado 7º dia
AS LAGOAS COSTEIRAS
Agora são 7:40 h, amanhece sem vento, escrevo sentado ao lado da barraca e recostado em um pinus. Observo o surgimento de um novo dia e me preparo psicologicamente para mais uma etapa: a das lagoas costeiras até Torres.
O kinojo está quase pronto. Estou um pouco ao sul de Quintão.

Parto às 8:30 h seguindo pela margem leste e um pouco adiante reconheço um local que passei de moto há 3 anos para tentar fazer esta viagem em 2004 e que parei na Guarda do Embaú, vindo de Floripa. É que eu já havia comprado este caiaque oceânico argentino e ainda viajava com meu "toco", um caiaque de recreio de só 3 m e quase o dobro de peso do Maktub que tem 5,20m.
Vi uma pequena lagoa (Lagoa da Lavagem) onde há uma reserva indígena. Era por ali que eu pretendia seguir, mas fui largado bem mais ao sul e agora estou subindo para o norte.
Aliás, Palmares está mais ao norte em latitude, mas como eu fui transportado este trecho, fica elas por elas.
Cerca de uma hora depois chego no fim da Lagoa da Porteira, logo depois de passar por um quiosque e alguns veranistas pescadores. Inclusive havia um boludo que passa quase a meu lado com seu jet-ski.
Sigo pelo meio dos juncos, encosto na beira e sigo para umas dunas para ver melhor por onde estou seguindo. Daqui para frente facão e binóculo serão muito requisitados.
Depois de andar de um lado para outro entre os juncos, resolvo parar para descansar, pois já estou enchendo o saco de tanto junco. Eles batem no rosto, espetam, estão cheios de teias de aranha e não deixam o cara ver absolutamente nada, é enervante.

O facão vai ficar desdentado de tanto cortar estes cornos.
Sou obrigado a seguir de óculos, pois corro o risco de levar uma espetada no olho.
Achei uma passagem e fui em frente, achando que tivesse cruzado a Lagoa do Cipó e entrado na lagoa Rincão das Éguas. Essa lagoa tem dois "chifres" e a passagem seria pelo chifre da esquerda, para quem segue para o norte.
Acontece que eu ainda estava na Lagoa do Cipó e não tinha passagem pela esquerda, retorno para o outro lado, o leste e apenas tem um valo seco, de uns 500 m até chegar na outra lagoa.
Tu olhas, dá uma preguiça, mas não tem jeito.
Corto um pouco do junco que cresceu por dentro do valo onde ainda tem água. Depois tenho que seguir puxando com uma corda por dentro do valo agora seco.
Arrastando o caiaque entre a Lagoa do Cipó e a Lagoa Rincão das Éguas

-Senhor, estamos parecendo Garibaldi, arrastando nosso barco pelos campos.
- É verdade, estamos tal qual um touro!
- Como assim?
- Estamos que é só saco e guampa! He, he...

As forças não duram muito, tenho que puxar, descansar e retornar à faxina.
O sol de meio dia contribui para me detonar, mas vou em frente durante cerca de hora e meia até que chego na Lagoa Rincão das Éguas.
- Arre Égua!
Tomei um banho de lagoa, almocei e sondei por onde seguir com o binóculo.
Agora sim eu sabia onde estava!
Sigo em frente rumo a margem oeste, buscando o chifre da esquerda, onde haveria a passagem.
Ao final da Lagoa vejo um galpão grande e uma casa, ambos parecem abandonados.

Desembarco ali, e um enorme cão fila sai e late do galpão. É uma cadela e parece estar com filhotes.
Tem um cheiro forte de bicho morto, é a carcaça de um cavalo quase ali do lado.
Sigo a pé e descubro a entrada de um canal que se perde ao longe, não dá para ver o fim. A entrada está fechada com um dique de pedras. Dentro do canal é impossível, há uma selva de aguapés e se jogar o caiaque ali não consigo sequer tirá-lo de volta.
Pego o caiaque e vou à outra ponta mais a oeste. Passo sobre um arame eletrificado quase ao nível da água e um bicho enorme sai pelo meio dos juncos, penso que é uma enorme traíra.
Encontro outro canal, mas também não vejo o fim, fora o fato de haver cerca eletrificada. Querem matar o pelotão à choque!

CAVALO PODRE
Deixo para decidir amanhã, fortes ventos e trovoadas anunciam outro temporal.
O único abrigo é uma árvore caída ao lado da carcaça do cavalo podre.
Sigo para lá e monto a barraca ao lado da copa da árvore caída. Armei antes em outro local, mas o vento arrancou tudo.
O bom é o "cheiro silvestre" de bicho podre! Show!
Ainda por cima aquele fila cagão fica latindo sem parar, até que eu me irrito, pego meu punhal e corro atrás do bicho que vai se refugiar no galpão.
Ô bicho irritante!
Eu estou quieto aqui no meu canto e ele vem encher o saco. Podia ter colocado a barraca naquele galpão, não fosse ele. O galpão e a casa estão abandonados!
Dureza brody, acho que amanhã vou me ferrar.
Choveu bastante, agora são 20:32 h escrevo e escuto rádio. Amanhã vou levar o dia todo para arrastar o caiaque dentro desse canal cheio de aguapés.
Esta será a última barreira até o final da Lagoa Itapeva, em Torres.
Isto faz parte do meu caminho, mas eu estou extremamente cansado.

22/01/06 Domingo 8º dia
Travessia através dos campos


Amanheceu nublado e resolvo partir logo antes que chova. Chego na barreira de pedras e arrasto o caiaque pelo lado.
Depois arrasto ele por baixo da cerca eletrificada, ao lado do canal.
Decidi que vou arrastar pelo campo, por dentro do canal é inviável, não dará de seguir por ali. Levanto o caiaque pela popa e vou empurrando. A proa desliza pela capim alto e segue por dentro do trilho de bois.Carrego uns 10 a 15 m, paro para recompor a respiração e empurro mais um pouco. Mais um pouco e começo a ficar sem forças, acho que estou em fria, pois voltar não dá.
Só me resta seguir em frente e o pior é que não sei se por aqui chegarei na Lagoa da Cerquinha.
Meu braço esquerdo e a perna direita são os pontos fracos, nunca mais voltarão a ser o que eram antes do acidente, fraquejam muito.
Para piorar, o tornozelo da perna esquerda incomoda um pouco, pois houve fratura por ali também e a platina parece estar com parafusos frouxos. Para falar a verdade a única coisa que restou inteira foi o braço direito!
Amarro uma corda como alça e passo pelo pescoço por baixo da popa, tenho que compensar o braço esquerdo que está rateando e me deixa irritado.
Comecei como touro indomável, passei ao estágio de boi furioso e estou quase na etapa de vaca atolada, cansado e mal humorado.

"TORTA DE VACA"
- Senhor, o senhor está usando algum creme ou cosmético nos pés?
- Não, por que?
- Bem é que está passando esse creme verde entre os dedos dos pés...
- Você nunca viu "torta de vaca?”
- Deve fazer bem para a pele e para as unhas.
- Reparou na linda tonalidade verde-bosta?
- Estas vacas relaxadas têm a mania de deixar “tortas” por onde passam e nós temos que seguir por ali, pois é pelo trilho delas que o terreno é mais firme (fora do trilho o capim é alto e pode haver cobras) e onde o caiaque desliza melhor!
Depois de uma hora recém fiz um décimo do percurso, olho para frente e calculo que talvez não chegue hoje lá na outra lagoa.
Pelo menos o visual é deslumbrante, um passarinho de asas pretas e peito vermelho dá pequenos vôos para cima e retorna para o local de onde saiu.
Tiro umas fotos do bichinho e do caiaque perdido no meio dos campos. Como uns pés-de-moleque para enganar a barriga e fico olhando ao longe.
Pelo menos saí do meio do capim alto e consegui chegar na parte onde o campo é mais baixo.
É brody, estamos em fria de novo, só espero ter forças, pois daqui para frente vou ficar cada vez mais fraco.

REFORÇO NOS PAMPAS
Sem eu perceber, há um cavaleiro do outro lado do canal, é João Carlos, da fazenda Cerquinha que vi com o binóculo lá perto da floresta de pinus.
Ele diz que o bicho que eu vi ontem e que pensei que fosse traíra talvez fosse jacaré. Acho que foi mesmo, pois foi afastando os juncos por onde passava.
Ele pergunta se meu caiaque é muito pesado, digo que nem tanto, pois o estou levando e ele desliza fácil nos campos. Deve ser mais fácil para um cavalo de verdade, he, he.
Ele diz que vai fazer a volta no dique e que vem me ajudar.

- Senhor, conhecemos simpatizantes da nossa causa e o reforço está a caminho!
- É um batedor da resistência de Cerquinha, dizem que vão nos ajudar na travessia.
- Pede que eu espere, pois seguirá até o mato de eucalipto adiante onde cruzará o valo e retorna para ajudar.
João amarra o Maktub a seu cavalo e começa a puxar enquanto sigo a pé, filmando e fotografando, feliz da vida.
Nem acredito!
Morre de inveja, Garibaldi!
Diz a lenda que, ao saber que o pelotão Farroupilha entrara na guerra, Garibaldi disse que o Rio Grande ficaria bem representado. Recebeu seu pagamento em cabeças de gado e seguiu para o Uruguai, peleou pelos Rios da Prata e Paraná e dali retornou para a Itália, onde participou da unificação italiana.
Por isto ficou conhecido como “Herói de dois mundos”!
Êta vidinha monótona, aqui estou eu, com o caiaque sendo puxado através dos campos entre uma tal de Lagoa Rincão das Éguas e outra, chamada de Cerquinha...
Eu começo a rir sozinho, estou nas últimas, mas essa louca aventura não pára de me surpreender!
O Ministério da Saúde adverte:
Ser aventureiro é muito chato e causa extremo cansaço físico!
O Maktub parece estar na água, vai deslizando fácil pelo gramado, entrando e saindo pelos trilhos de vacas, superando pequenos cocurutos e elevações.
O cavalo é muito forte e parece levar o barco sem muito esforço.
Passamos pelo capão onde pensei em almoçar e ele segue direto. Depois o canal faz uma curva para a esquerda e segue na direção de outro capão de eucalipto, já na margem da lagoa. Cerca de uma hora depois ele me deixa ao lado do canal onde não tem mais camalotes.
O coitado do cavalo está banhado de suor.

Muito obrigado João!
João aponta para onde deve estar a ponte que tenho que buscar do outro lado da Lagoa Cerquinha.
Sigo em frente atravessando a Lagoa da Cerquinha, mas começa uma chuva forte e eu só consigo ver juncos e vou costeando os ditos cujos. Chego ao final da Lagoa, tento penetrar entre os juncos, mas parece não ter fim e não consigo ver nada.
A solução é atravessar a lagoa de volta e tentar chegar em uma elevação, para de lá tentar ver com o binóculo por onde devo ir.
Estou encharcado e o vento contra é forte.
Deixo o caiaque na margem e sigo a pé, pelos campos e banhados rumo a elevação.
É um bosque lindíssimo de mata nativa. Aproveito a estiada e a proteção do vento para almoçar e consultar o mapa. Fico muito tempo olhando com o binóculo até conseguir ver onde ficava a tal ponte.
Lagoa da Cerquinha

Tenho que atravessar um mar de juncos na direção de umas antenas e de lá dobrar para oeste. Depois tentar achar o canal entre os juncos.
Atravesso a lagoa pela terceira vez, penetro no mar de juncos até que consigo chegar em terra firme. Ali atravesso o caiaque sobre um pontal até chegar do outro lado.
Essa minha vida de cavalo de carga arrastando o caiaque pelos campos já está cansando.
Além de tudo levei várias espetadas no rosto e cortei os pés nas cascas secas de caramujos que os gaviões deixam por ali.

Eles deveriam colocar as cascas de caramujo no lixo e não deixar atirado por aí, he, he!
Encontro o canal entre os juncos e sigo para a ponte da estrada que liga a Pinhal, onde têm um monte de pescador de lambari. Peço licença para passar entre os caniços da bugrada e sigo em frente, até chegar na Lagoa da Rondinha. Segui costeando a margem leste até entrar na Lagoa de Cidreira.

Bueno. continuo seguindo pela margem leste em direção de um silo quase ao final.
Lá pelas tantas eu vejo umas casas na margem oeste, parece uma vila de pescadores e deve ter um telefone para avisar a turma. Com sorte, posso achar um bar e comprar comida diferente.
Atravesso para lá e descubro que ali é o Lagoa Country Club.
Tem um quiosque na beira. Conheço as irmãs Cláudia e Cíntia, além de André, amigo delas.

É uma turminha super legal. Peço uma porção de batatas fritas, uma cerva gelada e compro uns risólises para comer amanhã.
Ali tem de tudo, canchas de futebol, piscinas, mercado e restaurante.
Compro umas bananas, pão e sorvete.
Sigo em frente, atravessando a lagoa e conseguindo achar o próximo canal de ligação sem muitas dificuldades.
Mas tchê, é muito junco, nunca vi tanto. Tu não enxergas nada e andar entre eles é um risco de furar os olhos.
Não existe ponto de referência.
Na Lagoa dos Patos, na viagem de Wind em 83, por falta de comida, comi raiz de junco com carne crua de cascudo que peguei à facão.
Dizem que foi daí que surgiu um tal de sushi!
O canal é lindíssimo, vai serpenteando entre os campos de grama baixa e passa ao lado do silo que vi de longe.
Havia uma rota comercial que ligava Porto Alegre às lagoas costeiras. Os barcos chegavam até Palmares e dali eram transportados de trem até Osório.
Estou pensando em registrar essa rota que estou fazendo como um trecho comercial para mascates em caiaques que queiram trazer mariscos da Ponta das Desertas até Torres, he, he!
Penso em acampar no mato que existe no fim do canal, já na Lagoa da Fortaleza.
Há uma família ali, eles dizem que tenho que pedir autorização para uma senhora que mora na casa do Chapéu, fazer requerimento em três vias e carimbado por algum burocrata...
Bueno, só me resta seguir em frente, atravessando a Lagoa da Fortaleza no rumo NW, em direção de uma mata nativa que vejo de longe.
Já ao final de dia e depois de hora e meia de travessia chego onde queria.
Uma lindíssima floresta nativa, campos e nada de gente, show! A mata está cercada por uma cerca eletrificada. O cara até tem cerca elétrica em volta da barraca está ficando sofisticado! O único senão é que meu caiaque ficou nos juncos, há uns 500 m de onde estou. Menos mal que ele fica meio mocoseado entre os juncos.

Armo a barraca entre a mata enquanto se aproxima outra tempestade. Dali posso ver o caiaque lá na beira e passo o final de dia olhando as cercanias com o binóculo.

23/01/06 Segunda 9º dia
No Stress!
Amanhece com chuva, ora fina, ora forte.
Bueno, são 9 h estou numa barraca quentinha, protegida do vento e da chuva mais forte, escutando radinho e com água e comida à vontade...
Os pássaros cantam ao redor e eu vou sair na chuva com vento forte e contra pra quê?
Vou é curtir isso aqui, está lindo demais. Se mudar de idéia, aviso!
Houve dia em que tive pressa, queria muito passar o Natal em casa.
Agora mudou tudo, vou curtir mais os lugares como este aqui, pois se tivesse hora marcada, já deveria estar no psiquiatra.
Aproveito a estiada e vou passear pela mata. Descobri um lago perdido entre as matas e uma ema solitária comia por ali entre garças mouras e quero-queros.
Tentei localizar o canal de ligação com a próxima lagoa e não vi nada. Acho que será outro problema.
Almoço o risólises que comprei ontem e faço uma siesta, aproveitando o barulho da chuva na lona da barraca, estressante!

Agora são 14 h e a chuva não pára. Las pelotas se están llenando.
Escuto o forte vento na copa das árvores, mas aqui tudo bem, ele vem do outro lado, o norte.
Parece um dia morrinhento de inverno, até agora só não choveu um dia, desde que saí de Porto Alegre.
Escuto os quero-queros perto do caiaque, vou ver o que é, mas são apenas 3 emas no campo.
Final de dia, aproveito a estiada e vou dar outra caminhada para esticar as pernas. Tem uma planta chamada costela de adão que dá tipo um fruto aonde os pássaros vêm comer. Vi sabiás, azulões e até um sebinho comendo aquilo que parece uma banana. Outros bichos (mamíferos) devem comê-la, pois vi pedaços dela pelo campo. Experimentei um pouco, é muito doce e saborosa.

24/01/06 Terça 10º dia
Amanhece com mais vento que ontem e com chuva forte. Fica assim até perto de meio dia.
Resolvo fazer uma longa excursão por dentro da mata e levo uma mochila com equipamento fotográfico.

Encontro uma infinidade de fungos e cogumelos que crescem entre os troncos caídos. São de uma beleza sem par, diversas formas e cores. A mata é aberta por dentro e sigo maravilhado com as bromélias, parasitas e barbas de pau que colorem o dia chuvoso. Encontro cactos, lebres e mais emas, afora corujões e outros pássaros, como os sabiás que me seguem a distância.
Encontro outra lagoa e sigo até umas dunas.
Retorno para a barraca e estou muito cansado, até para caminhar estou assim, não sei o que é.
Acho que terei que puxar o caiaque pelo campo de novo e isto desmotiva um pouco, aliado a chuva e ao vento forte que sopra contra e sem parar. Procurei com o binóculo e não avistei o canal de ligação com a outra lagoa.
Está havendo uma batalha interna para decidir se continuo a viagem ou não. Decidi que sigo até Torres e lá decido se prossigo a viagem a partir dali em outra ocasião
Para falar a verdade estou desmotivado, talvez seja só o momento, tudo muda conforme o dia.
Uma coisa excelente que eu trouxe foi este facão de aço inoxidável que o Carlos me deu. Ele tem um fio que é um perigo.
Meu punhal agora tem lâmina dos dois lados (feita pelo tio Laerte) e a ponta é perigosa, sorte das sucuris que lá só tinha lâmina de um lado. Dentro da barraca é um perigo só, pois fura tudo o que toca. Aproveito a lâmina para fazer a barba (no seco, é claro), êta índio bagual! Antes fazia com o facão, mas ele perdia o fio na minha cara de pau!
Agora são 18 h, passa seu Clézio (capataz da fazenda Fortaleza) e mais dois peões com seus cães ovelheiros. Ele diz que perto daqui está o canal de ligação, num local bem diferente onde havia em meu mapa. Ele diz que o antigo não existe mais. Se não tivesse falado com ele, certamente teria me ferrado. Um dos cães é lindíssimo, parece um lobo!

O dia termina com chuva de novo, estou virando sapo!

25/01/06 Quarta 11º dia
Parto bem cedo e vou até o canal. Ali tem uma pequena barragem e um desnível sob a ponte de troncos. Arrasto o caiaque por fora e jogo ele dentro do valo mais adiante.

Pelo menos não tem aguapés e posso seguir remando por dentro.
O canal serpenteia pelos campos e o gado me observa espantado enquanto passo.
Depois de uma hora chego na Lagoa Manoel Nunes e sigo junto às dunas altas da margem leste até o final.
Cadê o canal e a ponte que deveria haver pelo meu mapa de 26 anos atrás?
Nothing!

Apenas um mar de juncos que atravesso tentando chegar na beira.
Escuto barulho, são peões que cortam junco em algum lugar.
Eles dizem que o canal é mais para a direita. Furo a selva de juncos e encontro o dito cujo, parece que não vai longe, pois é mais estreito que minha régua de alumínio.
Para encontrar este canal tive que utilizar meu GPS (grupo de peões sinalizadores).
Este canal é mais bonito ainda que o outro. Serpenteia pelos campos, matas nativas e cactos. Vejo gado de raça e ovelhas que vem beber água no canal.

Encontro uma alta ponte feita de vários troncos que protegem sua base. Ali tinha uns caras pescando. Cerca de 13 h paro para descansar e almoçar ao lado de uma mata entre as dunas e que protege do vento. Aproveito para filmar e fotografar lindíssimas libélulas pretas e vermelhas entre tantas outras que vivem por ali. Logo depois chego na Lagoa do Gentil.

Dali sigo para NE e atravesso a lagoa. Chego no fim, outra floresta de juncos e pior que as outras, pois agora há uma outra vegetação entrelaçada.
Não tem ninguém para ajudar e só me resta abrir uma picada com o facão. Desembarco ali no meio, com água pouco abaixo da cintura e de cara encontro uma ossada entre os juncos.
Bem que poderia ser de gente, mas era de gado.
Passo ao lado dos restos e avanço com muita dificuldade na direção de um pau de cerca que vi antes de encostar. Lá deve haver terra firme e posso subir na cerca e tentar ver algo com o binóculo.

As cruzeiras adoram lugares assim.
É muito denso e com água. Tenho que cortar os juncos para abrir a picada e também para servir como sinalizador na hora de voltar, caso contrário não acho o caiaque ao retornar. Quase meia hora depois chego na cerca, subo no tronco e consigo localizar o canal de ligação. Está uns 200 m para oeste. Perdi-me na volta e quase não acho o caminho dos juncos cortados. O pior é tu entrares nesta barafunda de vegetação sem saber ou enxergar se houver alguma cobra venenosa no meio da palha.
Nestas horas eu sigo em frente, pensando que se for para ser agora será.
Chego no caiaque e contorno os juncos até encontrar o canal onde calculei mais ou menos que fosse.
Estes canais de ligação são de uma beleza a parte.
Mais adiante encontro outra ponte de troncos, bem mais baixa que a outra.
Têm uns cinco caras tarrafeando ali ao lado. Sigo em frente e alcanço a Lagoa das Custódias ou Dona Antônia.

Agora o vento está mais forte ainda. Tenho que colocar a capa e sigo na direção de umas casas, uma vila de pescadores. Falo com uns piás que estão por ali e sigo para NW, achando que o rio de ligação fosse para lá.
Não era, uma densa vegetação e mais de 1 h de duras remadas contra o forte vento não me levou a lugar nenhum.
Tenho que desembarcar, almoço no meio do mato enquanto chove e busco com o binóculo onde seja a passagem. Ali onde estou não pode ser, o relevo indica que o banhado termina e não tem saída.
A droga é que a água está salgada, vejo cracas nos pedaços de madeira. Isto indica que há ligação com o mar, só não sei onde.
Para minha sorte vejo uma lancha um pouco adiante e o cara indica o lugar certo. Passei direto e não vi. Também pudera, o lugar é tri escondido e mesmo sabendo onde era a entrada, tive dificuldades de encontrar o rio entre os juncos.
Ufa! Que dureza! Até as coisas mais simples estão difíceis.
O ponto de referência é um condomínio de luxo e uma enorme mansão pintada de roxo-boate sinaliza mais ou menos a entrada.
Acho que para isto pintaram daquela cor, serve como sinalizador náutico!
O rio serpenteia entre este condomínio e casas de pescadores.




Canal de ligação Ponte Tramandaí – Imbé Agencia da Capitania dos Portos


Passo pela ponte da estrada que vem da free-way e finalmente chego na Lagoa de Tramandaí.
Ela é rasa até para o caiaque e tem torres de alta tensão. Sigo para a barra do rio Tramandaí onde tem uma ponte que liga a Imbé. César, do barco de passeio Pirata indica onde fica a Capitania dos Portos e me dirijo para lá.
Um temporal se aproxima. Deixo o caiaque quase ali na saída para o mar e falo com o marinheiro França e com o sargento Lopes. Ele presta continência e diz que posso deixar o caiaque ali.
Agradeço muito, agora só tenho que achar lugar para ficar. Quero transcrever o diário para a internet e vai demorar um dia inteiro.
Coloco uma roupa e sigo em direção da ponte, buscando um hotelzinho.
Hoje é quarta-feira, a praia de Tramandaí está vazia, mas todos com quem falo dizem que está lotado.
Começo a desconfiar que é por causa de minha aparência de monstro do banhado, magro, barbudo e cabeludo. Isso que coloquei minha roupa "domingueira" para causar melhor impressão. Parece que não neutralizou e as pessoas estão com medo de mim.
Para piorar chove forte e fico num bar e tomo um sorvete. Aproveito e falo (de um telefone público) com a mãe, minha irmã e meu irmão. A Ângela vem a serviço (amanhã) para Tramandaí e vai trazer a mãe junto. Combinamos de nos encontrar para o almoço. Show!

COINCIDÊNCIAS INCRÍVEIS
Sigo caminhando pelas ruas, procuro hotel barato (parei em vários e todos dizem que está lotado). A chuva aperta e eu corro por uma rua lateral onde tem um hotel enorme (Hotel Alaska).
Acho que ali é caro, mas como ninguém me aceita tenho que sair do sério.
Logo na entrada todo mundo me olha estranho, preciso urgente de um espelho, pois devo estar coberto de sangue ou com uma placa de PERIGOSO pendurada no corpo.
João me atende, diz que tem lugar. Aleluia!
Depois do susto, o pessoal conversa comigo e explico de onde venho, para onde vou e como estou viajando.
E se eu disser que este hotel é o mesmo que abrigou meus irmãos de Rosário (em 2004) quando se hospedaram em sua viagem rumo ao Rio de Janeiro?
Foto que os “hermanos” tiraram ali Foto tirada 2 anos depois...

Marcos e seu Juvenal hospedaram mis Hermanos, explico que meu caiaque é fabricado em Rosário, Argentina), que os conheci em minha pousada na Guarda, que passei pela cidade deles (Rosário) e que lá fiquei 15 maravilhosos dias.
Para completar, Damian (Paco) passou aqui faz poucos dias vindo da minha pousada e regalou o livro Buscando Rumbos que relata a viagem deles.
E aí, como é que se explica tanta coincidência?
É para deixar o cara meio pirado ou não?
Subo para o quarto 319, vou para o banho e quase meto o punhal num indivíduo que estava no banheiro, super mal encarado.
Era minha imagem no espelho, he, he!
Banho tomado, barba feita sigo para a avenida central e fico na lanchonete Branquinha até a uma hora da matina só respondendo e-mails.
Amanhã transcrevo o diário.
E-mails:
Boa tarde comandante André, Ótimas as fotos. Numa delas está nervoso, roendo as unhas ou somente batendo queixo de frio?? Boa sorte. Família Nelson Piccolo

OI ANDRÉ!!!
TU NÃO DESISTE MESMO!! FICO MUITO ADMIRADA DESTA TUA FORÇA DE VONTADE DE ENCONTRAR NOVOS HORIZONTES PISAR OU MELHOR NAVEGAR EM DIFERENTES ÁGUAS!
POR ONDE TU ANDAS AGORA? TOCANDO O MAKTUB? QUE SAUDADES DE ESTAR NA GUARDA, NA TUA COMPANHIA, ACHO QUE SÓ VOU CONSEGUIR TIRAR FÉRIAS EM MARÇO, NÃO SEI SE TU AINDA VAIS ESTAR EM SANTA, MAS MANDA NOTÍCIAS SE TIVER POR AÍ QUERO DAR UMA PASSADA PARA REVER A PRAIA E TU TAMBÉM É CLARO. Sabrina Petry
Beleza as fotos...neste endereço recebi todas....legal a historia do hotel Alasca...o meu povo diz sempre que nada é por acaso...e que o grande espírito está sempre nos dando o melhor encaminhamento em nossas vidas...mesmo não parecendo...resta rezar para ter o entendimento... Um grande abraço
Marcelo karai Ryapu

Oi André
Estamos felizes por mais uma jornada. Que seu caminho esteja livre mas com muitas aventuras. Esperamos noticias
Kátia e Cláudio Barbosa

Bom ter notícias suas!
Já ia ligar para tua mãe para saber se sabiam de novidades.
Não tinha idéia de onde já podia ter chegado pq vc anda rápido.
Com a previsão de alguns dias de vento sul, espero q te ajude a andar bem agora.
Imagino q esses dias de chuva não foram fáceis, mais ainda voltar ao ritmo depois de um mês de "sombra e água fresca"... Mas pelo jeito vc está se reencontrando consigo e retomando a rotina. Vai com Deus, meu amigo! Leva minhas boas energias!
Abraço!
Rodrigo Beheregaray

Bah André, que beleza!
Meu passeio de inflável pelas lagoas acabou não acontecendo por causa da chuvarada. Nesta terça to embarcando a Rio Grande, no veleiro de um amigo. Fico contente que tenha tido sucesso nesse trecho de banhados. E a cavalo... Claro... Quero saber como foi feita a navegação de Palmares pra lagoa, ou seja quem conhecia isso, etc.
Agora tu vai SUBIR o Tramandaí? Passei algumas vezes por ele. Nunca vi muita correnteza. Sabendo "o lado" certo para navegar rio acima, vai que é um dodge... Parabéns por mais essa etapa! Abraço,
Danilo.

Eh cara! Tá faltando pouco hein! Você vai conseguir de boa e com pé nas costas.
Ainda vamos tomar umas para comemorar. Um grande abraço!
Walter

Olá! segue seu caminho com coragem e força, e não esquece que muitos torcem
por ti.
Bjs......Eloísa Rosera

Oi André! Tudo bem carinha? Foi muito legal, ter te reencontrado no Brasil, depois de tanto tempo!!! Foi legal ter revisto tua mãe, tua tia e o Paulo, também. Todos bem e com saúde. São esses momentos que a gente não esquece! Viva a vida!!!! Estamos acompanhando a tua viagem pelo teu diário e as fotos. Fantástico!
Boa viagem, ainda!!!! Te cuida, curte e aproveita os momentos que a vida te oferece!!!! André, abraços "bem" apertados dos "meus 3 homens" pra ti e de mim + um abraço "bem" apertado e umas beijoquinhas. Com carinho, da tua amiga , Joyce

Hola Andre:
Muy buenas las fotos y los relatos,no veo la hora que vengas a
Rosario en la moto y nos puedas contar todas estas cosas en vivo.Sigo
estando agradecido de como fuimos atendidos con jor en tu casa.Te
mando un fuerte abrazo y nos vemos pronto hermano.
NO TE DIJIERON en el hotel Alaska que estuve con Jor una noche.De ahi
me fui a lo de Seldo,hice toda la estrada del infierno,cuando llegue a
Rosario vendi el auto,quedo todo destartalado. jaJAJAJA,UN ABRAZO
HERMANO. DAMIAN EL PACO.


26/01/06 Quinta 12º dia
Tomo café cedo e fico transcrevendo o diário até cerca de 13 h. Depois vou no restaurante Guimarães onde encontro com a mãe e a Ângela. Foi muito bom reencontrá-las. Um belo peixe ao molho de camarão regado a vinho branco que chique!
Volto pra internet e ficamos de nos encontrar a noite para jantar.
Queria partir hoje mesmo, mas há coisas que são extremamente importantes e cada encontro pode ser o último, então vou curtir meu pessoal o máximo que posso sempre que tiver oportunidade.

Se tiver que ficar um dia ou mais só tenho a ganhar, estes momentos são únicos.
De noite nos encontramos de novo, agora em companhia de Madalena e seu filho, João Victor no barzinho 4 Estações (tudo a ver, pois minha viagem atravessou as 4 estações do ano), bem ao lado da barra do Rio Tramandaí.
Que noite mais especial. Mais vinho peixe e a agradável companhia.
Para completar, conhecemos Rogério, um cara gente finíssima e que toca tipo um bandolim com dois furos e dois jogos de cordas, um bandolim duplo que ele toca até de costas, enquanto sua esposa, (uma Uruguaia) canta belissimamente, dispensando o microfone, tal é sua voz.
Volto pro hotel depois das 2 h e recebo dois recados: um de Gustavo Calegari que conheço apenas pela internet e outro de Marcos e seu Juvenal, dizendo que esta diária extra era cortesia pela minha viagem.
Não sei se pelo vinho, mas fiquei emocionado e dormi sonhando que teria forças de ir até Floripa.
27/01/06 Sexta 13º dia
Antes de sair do Hotel Alaska, conversei demoradamente com Marcos, seu Juvenal, Márcia, Rose e demais parentes de seu Juvenal.

Tomei um delicioso chimarrão com eles enquanto mostrava as fotos da sucuri para a turma. Uma das hóspedes diz que ficou apavorada no dia que cheguei, pois eu estava com “cara de bandido”. Inclusive o Marcos confessa que ficou apreensivo quando eu me aproximei do balcão para perguntar se havia vaga no hotel. Todo mundo ali ficou me cuidando quando entrei.
Acabei chegando tarde na internet e não consegui terminar de transcrever o diário.
Almoço na lindíssima casa(?) de Madalena e João Vitor e depois venho aqui para a Branquinha terminar de transcrever o diário para a internet.

Terminei de transcrever, ainda falta mandar as fotos, são 18:36 e pelo jeito eu não vou mais hoje.
Melhor sair amanhã.
Pois é, aventura é o que não falta e ainda tem muito para a frente.
Quando chegar em Torres vou decidir o que faço.
Vi o mar, não é tão cabeludo assim, mas prefiro ir por dentro, pois não tenho que arrastar o caiaque vários metros todos os dias, é cheio de lugares lindos por dentro e também porque não gosto do mar, isso que já viajei nele de Windsurf e com o caiaquinho antigo, desde o Rio até a divisa com São Paulo (condomínio Laranjeiras). Foi altamente perigoso, mas o nosso pelotão é de guerra e tudo pode acontecer, vamos deixar para decidir quando eu chegar em Torres.
Outro problema sério é que a praia está coalhada de gente e entrar com este caiaque na praia pode causar uma tragédia, pois meu contrôle sobre o barco na rebentação será zero. Um baita abraço do amigo André!
TRAMANDAÍ A BELLA TORRES – SANTA CATARINA
27/01/06 Sexta- feira 13º dia
Depois de almoçar na casa de Madalena, retorno para a internet disposto a terminar de transcrever o diário de qualquer jeito. Fico na internet até às 21h e aceito o convite de Madalena para passar esta noite em sua casa. Sigo a pé e participo de um churrasco feito por Lauro, irmão de Madalena e Rô. A casa é lindíssima, os jardins estão decorados com bonecos representando os reis magos e o interior é um luxo só.
Durmo no sótão depois de curtir minha mãe mais um pouquinho.

28/01/06 Sábado 14º dia
A Ângela me deixa no Hotel Alaska (não quero saber de despedidas), quero agradecer o carinho e a acolhida que recebi destes novos amigos. Márcia, a esposa de Marcos (filha do Sr. Juvenal) me presenteia com uma série de salgadinhos, pães e chocolates. Tomamos um chimarrão e pego uma carona com seu Juvenal até a Capitania dos Portos onde ficou o Maktub.
O marinheiro França me ajuda a levar o caiaque até a beira do rio. Olho para o mar, está calmo, daria para seguir por ali, mas vejo aquele formigueiro de gente (como vou para a beira nas ondas com um caiaque descontrolado entre as pessoas?), a praia é super recuada, teria de arrastar o caiaque por 100 a 200 m sem ter onde dormir tranqüilo. Resolvo seguir por dentro (pelas lagoas costeiras), cheio de matas nativas, privacidade e lugares belíssimos.
Subo contra a correnteza (às 9 h), pois a maré está vazante.
Seu Juvenal me acompanha um pouco em sua caminhonete e parte. As pessoas vão me cumprimentando à medida que subo o rio. Meia hora depois estou passando pela ponte que liga Tramandaí a Imbé onde centenas de varas de pesca disputam espaço.
Só de sacanagem passo entre as linhas e o pessoal se assusta ao ver surgir do nada um “monstra peixe”.
Penetro na Lagoa de Tramandaí e viro para o norte . Vejo muitos abrigos de barcos, tipo palafitas onde os barcos de pescadores ficam suspensos sobre as águas, elevados por rústicos sistemas de roldanas.
Sobre o telhado de brasilit há dezenas de biguás que alçam vôo ao me aproximar.
Cerca de uma hora depois, penetro no rio Tramandaí com correnteza contrária e vento NE (contra).
Há uma infinidade de mansões lindíssimas, todas com seus respectivos decks, barcos e jet-skis.
Pergunto se não viram um casal passar de caiaque, é que o Gustavo Calegari foi para a Lagoa Pinguela com sua esposa, mas como estava enfurnado na internet e na casa de Madalena, não conseguimos nos encontrar. Não o conheço pessoalmente, apenas pela internet. Ele esteve no hotel.
Bueno, fica para a próxima Gustavo. O piá disse que viu eles passarem bem mais cedo, que pena!
Seguindo adiante, onde não há condomínios, as margens são tomadas por capim elefante, capim Santa Fé (tiririca), juncos e o capim palha.
É uma infinidade de canais, flores e pássaros. O movimento de embarcações a motor espanta as aves e os bichos.
Vejo umas flores roxas e um pássaro lindíssimo, metade de cima é vermelha e a metade inferior é preta (cardeal do banhado).
Às 11h 50 min paro em um barranquinho gramado para descansar e comer alguma coisa. Testando o zoom...

Estou escrevendo o diário, são 12:16 h e vou partir às 12:30 h.
Segui até uma ponte antiga, quase ao lado da ponte nova que vem de Osório. Parei no bar do Rildo, tomei uma cerva gelada.
Às 14 h estou entrando na Lagoa do Passo após passar pela ponte da estrada que vem da free- way . Atravesso a Lagoa em 30 min e penetro novamente no R. Tramandaí.
A correnteza continua forte e contra aliada ao vento NE que aumentou.

Fotografo mais cardeais do brejo e sigo em frente por mais 2:40 h (já são 6:40 h remadas).
Chego ao final do R. Tramandaí e paro para descansar e almoçar (num gramado entre os juncos) observando a Lagoa das Malvas quase ao sopé da Serra do Mar. Como é lindo!
Parto dali às 17:30h e penetro na Lagoa das Malvas enquanto o NE fica mais forte.
Sigo para NE em busca do Canal João Pedro (pelo mapa que tenho) e que fica entre os juncos. Vejo lanchas e jet-skis se dirigindo para um determinado ponto, deve ser para lá.
Entrei mais para a direita e depois encontro o local correto. É quase no bico de um pontal ladeado por juncos. Levei 30 min para atravessar a lagoa.
Tchê! Se no rio Tramandaí a correnteza contrária já era forte, no canal João Pedro essa força era cinco vezes maior. Logo na entrada do canal João Pedro há uma lancha fundeada e uma família que se banha por ali.
O impressionante era ver um adulto caminhando contra a correnteza com extrema dificuldade. A força da água era tanta que ele seguia com água pela cintura e ondas se formavam ao redor do corpo. Aliado a tudo isto, sopra um forte NE de proa.
Olho e não sei como vou avançar contra aquilo tudo, ainda mais depois de ter remado 7 h contra vento e correnteza , é “uma pedreira”.
Não fosse querer muito encontrar meu irmão Paulo (que está em Capão da Canoa) neste final de semana, desistiria por hoje.
Remo, remo e não saio do lugar. Um esforço extremamente desgastante e acho que não estou fazendo nem 1 km/h...

OS “LOUCOS” DO CANAL JOÃO PEDRO
Para “ajudar” dezenas de lanchas e jet-skis passam em alta velocidade e dando rasantes no Maktub. Formam ondas contrárias que se chocam no caiaque que quase pára.
Extenuado, mal tenho forças para xingar o esquadrão de cornos irresponsáveis, pois o canal é estreito e sinuoso, os caras vêm com tudo e várias vezes quase fui atropelado.
Um cara desviou de mim (de jet-ski) em uma curva e esqueceu que tinha um piá no reboque.
A bóia (que estava presa ao jet-ski por uma corda) entrou com força no barranco e o piá voôu. Daí vêm mais dois jets malucos e quase se chocam com o cara que voltou para socorrer o guri
Para completar a insanidade destes irresponsáveis entra uma lancha no meio de tudo e se soma a esta barafunda de ondas, ventos, correnteza e loucos...
Espera aí, eu também sou um louco!
Abana pros teus colegas, seu maluco!
No meio de tudo tem uns “normais” que passam lento e param para fotografar e conversar: Gustavo e Henrique de Imbé (lancha), depois foi Edson acompanhado de sua namorada (lancha de alumínio). Matias chega em um jet e paro para conversar.
A quantidade de jet-skis impressiona, deve haver alguém alugando mais para cima. Com certeza não há contrôle nenhum, certamente a maioria nem é habilitada, seja o que Deus quiser!
A tal ponte que cruza de Capão da Canoa para Maquiné (BR 101) não chega nunca; a correnteza e o vento contra só fazem me irritar.
Tenho medo de não conseguir chegar de dia e perderei a oportunidade de encontrar meu irmão, pois ele deve retornar Domingo (amanhã) para Porto Alegre.
Quase me invoco com uns cornos, pois os retardados me vêem de longe e não desviam.
Pelo contrário, aproam na minha direção, passam rente a mim e acrescentando ondas ao meu sofrível avanço. Outros quadrúpedes vêm fazer manobras quase a meu lado, não basta serem imbecis, eles precisam de platéia...
Finalmente, às 19:45 h, depois de mais de 9 h remando, chego ao Clube Náutico da Barra.
Está situada bem ao lado da ponte e possui uma guarderia náutica, lanchonete e um belíssimo gramado.

Sou recebido pela turma de Matias, eles são de Rolante e se empolgam ao saber de onde venho. Tiram fotos comigo e com o caiaque.
Matias me faz um grande favor e liga de seu celular para meu irmão. Ele ainda está em Capão e dará um jeito de passar aqui mais tarde. Valeu o esforço!
Sigo para a lanchonete e falo com os donos (José e Gilmar). Eles são muito legais e permitem que eu deixe o caiaque ali no abrigo das lanchas
Assim eu fico esta noite com meus amigos e retorno amanhã para a lida.
Já noite, chega o Paulo e o Cláudio. Tomamos algumas cervas e seguimos para Capão da Canoa. Dali seguimos para o hotel onde eles estão hospedados. A esposa do Paulo (Sandra) está participando de uma feira de artesanato onde estão expostas uma variedade de artesanatos, pinturas e artigos de decoração.
Fomos jantar no centro e depois retornamos ao hotel, já passando de uma hora da manhã, valeu o esforço para rever meu irmão.
Ele telefona para a mãe e descobrimos que elas ainda estão em Tramandaí.
Para mim foi um dia de 9h de duríssimas remadas, mas para elas é pouco mais de 30 min. de carro. Combinamos de almoçar todos juntos aqui em Capão amanhã.
Assim se foi mais um dia “normal”!

29/01/06 Domingo 15º dia
De manhã fomos à praia e sopra um fortíssimo NE, normal para esta época do ano. Em dias assim nem vale à pena seguir. A praia está coalhada de gente, pois o dia está bonito e o sol brilha forte.
As ondas não assustam, já passei por coisas bem piores. O problema que terei será arrastar o caiaque entre 100 a 200 m todos os dias para dormir entre as dunas ou sei lá onde...
Decidimos que o melhor é a gente se encontrar lá no Clube Náutico, pois o astral ali é muito bom e depois cada um segue seu caminho. Espero todos partirem e só depois eu me vou. Melhor assim, muitas despedidas foram dramáticas e não gosto de passar por isto.
Sigo com Paulo e Sandra e logo depois chega a mãe e a Ângela vindas de Tramandaí.
José e Gilmar se esmeraram e o almoço foi delicioso. A Sandra tem que retornar antes e ali ficamos conversando. Depois que o pai morreu, é a primeira vez (em muitos anos) que ficamos reunidos (sozinhos), a mãe e os filhos.
Aproveitamos e definimos como será o rumo de nossas vidas sem o pai.
Depois eles se vão e fico sozinho de novo. Despeço-me de José, Gilmar, Jack, Bruno, Felipe e Marcos.
Parto só às 17:45 h, o dia se foi, é só para achar lugar para dormir e voltar ao ritmo amanhã.
Quinze minutos depois estou na Lagoa dos Quadros e rumo para NE (no contra vento). Passo por um condomínio onde tem um canal de acesso, seguranças e um farol. Há muitas ondas, mas bem melhor aqui que no mar. Hoje não daria para seguir por lá (por causa do vento).
Vejo pessoas na beira, entre os juncos e sigo mais adiante, quero um lugar onde não haja ninguém.
Penetro entre os juncos e encontro umas árvores bem pequenas quase ao lado da margem e que darão excelente abrigo do vento e de uma provável chuva.
Descubro que minha árvore protetora é um maricá (espinheiro) ao grudar minhas costas nos “benditos” espinhos.
GRRRRRRRRRRRRRR!
Depilei a maledeta com meu facão e armo a barraca embaixo dela (ao lado dos juncos da margem).
Parei aqui às 19:30 h, agora são 20:40 h e escrevo o diário sentado no caiaque enquanto vai escurecendo.


30/01/06 Segunda-feira 16º dia
Amanhece sem vento nenhum, a lagoa dos Quadros está espelhada e sigo rumando para NE.
A serra do mar está ao lado, é lindo de se ver.
Posso ver os carros e caminhões que circulam pela BR 101 entre a serra e a lagoa dos Quadros. Há uma infinidade de lugares bonitos, condomínios e campings. No caminho recolho uma cigarra que está se afogando e a coloco na coberta de proa.
Penetro em um pequeno canal, desço ali e caminho até uma casa de madeira para perguntar onde fica o canal de acesso (rio Cornélios) para a Lagoa Itapeva. Ao lado dela tem uma estradinha de chão que segue para Leste.

Final da Lagoa dos Quadros apontando para a igrejinha de Cornélios onde fica a entrada para o rio de mesmo nome

O rapaz diz que a entrada fica ao lado de uma igreja e que é possível avistá-la da Lagoa.
No caminho de volta, deixo a cigarra em uma arvorezinha ali ao lado. Falo à ela:
- Hoje é teu dia de sorte!
Depois retorno a navegar cuidando um capão ao longe.
Chego na entrada do rio Cornélios (que liga a Lagoa dos Quadros à Lagoa Itapeva) às 11 h e avisto uma ponte ao lado do casario da margem.
Ao lado da ponte tem um barzinho (do Juca). Como o calor está cruel, resolvo comer algo por ali e tomar uma cerveja bem gelada.
Enquanto dona Rosa prepara uma porção de jundiá fritinho, sigo até a pracinha para telefonar e visitar a bela igrejinha do local. O povoado se chama Cornélio e descubro que foi aqui que eu e o Fernando passamos de carro em nossas “exploradas”! Não havia esta ponte (inaugurada pelo governador Sinval Guazelli) e a travessia foi feita em uma balsa rústica movida por bastões de madeira encaixados nos cabos de aço.
Faço amizade com Osmar, tenente Jorge (da Brigada Militar) e Alfredo. Eles são muito legais, um deles tira fotos dentro do caiaque, e depois eles me dão uma garrafa de refri cheia de água filtrada e congelada, ideal para o calor tórrido que está fazendo.

Parto às 12:30 h remando contra a correnteza e sob um sol forte por horas.
Marrecas, maçaricos, tarrãs, jaçanãs, gaviões e quero-queros estão por tudo.
Quase não têm embarcações a motor e há uma paz que contrasta com os loucos do canal João Pedro. Enquanto não houver um acidente fatal (é sempre assim), não haverá fiscalização por lá.
Passo por uma bifurcação e sigo reto. Vejo o gado próximo da margem, muitos estão se refrescando no rio e ficam ali, parados dentro da água.
Tenho que molhar a camiseta seguidas vezes para continuar remando nesta “lua” incandescente.
Por volta de 15 h o canal simplesmente acaba no campo...
Não acredito!
- Seu burro, deverias ter tomado à direita na última bifurcação!

Tento ver se há por perto uma maneira de não retornar, talvez o caminho correto esteja perto; daí é só arrastar pelo campo.
Bueno, é só pegar o binóculo...
- Cadê o binóculo?
- Vasculho o caiaque, removo tudo e não acho...
- Merda!
- E agora?
- Será que perdi lá em Tramandaí ou foi em Capão da Canoa?
- De que adianta agora, sua besta?
- Já está perdido, não tem volta e nós estamos perdidos no campo.
- Que droga, era um dos equipamentos mais importantes e fará muita falta daqui para a frente!
Agora já era, tenho que superar isto, mas que estou irritado ao extremo com isto estou!
São detalhes pequenos como estes que fazem a diferença entre viver e morrer em situações extremas. Basta estar longe da costa e o binóculo é fundamental para ver outro barco ou mesmo diferenciar uma costa com rochas ou areia.
Perdi cerca de hora e meia entre ir e vir até a bifurcação.
Sigo remando contra a correnteza no rio que vai serpenteando pelos campos. Paro em um barranquinho gramado para esticar as pernas enquanto gaviões me observam da cerca do outro lado do rio.
Encontro uns gringos simpaticíssimos (de Gramado) pescando em um barco de alumínio enfiado entre as boiadeiras. Eles iscam fígado de galinha nos anzóis e pescam fartamente enormes jundiás. Tiro uma foto do grupo e sigo meu caminho.

Depois o rio chega numa ponte velha, é a “rota do sol”, que liga Terra de Areia (BR 101) à praia de Curumim.
Ali tem uma verdadeira multidão pescando com varas; são famílias inteiras e parecem todos da serra, a “gringaiada” adora pescar!
Cerca de 500 m depois eu chego na Lagoa Itapeva, a última antes de chegar em Torres. Melhor buscar local para dormir.Ando mais trinta minutos e encosto entre os juncos. Encontrei um lugar lindíssimo, cheio de figueiras com barbas-de-pau e campos.
O final de tarde chega e fico olhando o sol se pôr por detrás das montanhas da serra do mar. Armei a barraca numa clareira gramada rodeado de matas nativas, é lindo demais.
Agora são 20:30 h e vou comer a gororoba.
Estou bem chateado com a perda do binóculo; irá fazer uma falta tremenda!
As saracuras cantam aqui pertinho e o lugar transmite paz.

31/01/06 Terça 17º dia
Parti às 9:05 h com vento SW favorável (aleluia). Aproveito e abro a velinha.
Toco direto acompanhando a margem leste e com um pouco de chuva que vai aumentando conforme avanço, mas não importa.
Vou remando sem parar até às 12:30h. Resolvo deixar o caiaque lá no meio dos juncos e procuro abrigo da chuva numas pequenas árvores na elevação de uma mata nativa. A chuva aperta e os pássaros vêm buscar abrigo onde estou. Há um casal de “viuvinhas”, o macho é todo preto e sua cabeça é branca.
Tem outro que é todo branco.
Entre um pingo de chuva e outro, vou comendo minha ração de guerra (queijo, salamito e chocolate).
Uma hora depois sigo em frente. Passo por um povoado, deve ser Terra de Areia, junto a BR 101. Um pontal de juncos avança para o meio da Lagoa que estreitou bastante.
Resolvo voltar para a margem leste, pois na oeste estão as montanhas (onde vivem as nuvens de chuva).
Meu plano é chegar no fim da Lagoa Itapeva e lá tentar entrar em contato com um conhecido para ver se tem como ser transportado até o rio Mampituba. Dali eu subo por um canal para a Lagoa do Sombrio; depois sigo um canal até outra lagoa e chego no rio que sai em Morro dos Conventos.
Acontece que não sei se haverá passagem por estes canais. Posso ficar sem saída no meio de um campo qualquer e sem ter como ser transportado.
Bueno, primeiro eu tenho que chegar no fim da lagoa Itapeva e depois eu penso no que faço.
Sigo em frente e às 15 horas chego no fim. Meu conhecido (Beto) falou que havia um pequeno canal que levaria até os fundos de sua propriedade, uma banca de pamonha, a Tenda do Beto, na estrada do mar (onde sempre paro pra comer quando viajo de Floripa a Porto Alegre).
Tento penetrar entre um labirinto de aguapés, mas está muito difícil. Tento várias entradas, mas sequer na margem consigo chegar. É um “mar” de juncos e aguapés. Fico mais de uma hora tentando até desistir.
Era o único conhecido que eu tinha aqui perto de Torres!
Tenho que buscar outra alternativa, não sei o que faço.
Vou em frente (para oeste) até encontrar um trapiche de pedras onde há uma família pescando.
Ali não há nada, quase não passa carro, tenho que criar alternativas.
Lembrei das obras de duplicação na BR101, posso falar com os caras e ver se alguém consegue um caminhão para me transportar até o rio Mampituba, cerca de 10 km daqui.
Volto pro caiaque e sigo para o sul (retornando), contorno um pontal e vejo um povoado adiante. Passo por um canal que leva água para uma estação de tratamento.
Caminho feito para chegar a D. Pedro de Alcântara

Vejo as máquinas na BR mas há um problema: a margem é tomada de capim e banhados, além do que fica muito longe de qualquer casa.
Arrasto o caiaque pelo banhado e o deixo entre o pasto. Sigo pelo campo até chegar a um curral, não tem casa por ali então sigo pelo campo até chegar na BR
Já passa de 17 h, falo com os operários, um deles é chamado de “Sadan”. Eles dizem para eu caminhar até um povoado adiante (Don Pedro de Alcântara) e ali conversar com um cara que tem uma caçamba.
Chego a um mini mercado, o cara da caçamba diz que não dará para me transportar. Pergunto ao dono do mini mercado para saber se ele conhece alguém que faça o transporte. Não está fácil!
Um cliente que estava por ali ouviu a conversa, fez muitas perguntas e falou que me transportaria. Seu apelido é Alemão (Adair), diz para eu voltar lá naquele trapiche de pedra (no fim da Lagoa Itapeva) e que passará para me pegar. Ele tem um caminhão caçamba.
Diz que só poderá me pegar mais tarde (antes tem que ir a um velório).
Bueno, a mim só resta acreditar que um cara irá pegar um bicho do banhado (eu) nos confins de uma lagoa às dez ou onze horas da noite.
Caminho pela beira da BR, encontro os amigos da duplicação, atravesso o campo, os banhados e pego meu caiaque.
Remo de volta ao trapiche, foram cerca de 15 km nesta frescura, mais do que eu serei transportado.
Agora são 20:34 h, o Fábio (de Caxias do Sul) e o Mauri (de Canoas) ajudaram a erguer o caiaque e colocar aqui em cima. Eles estavam pescando e já foram embora, está ficando escuro e frio, menos mal que há um “cobertor de mosquitos”.
Não posso armar a barraca e nem sair daqui. É um local isolado, quem será louco de vir até aqui, no escuro, pegar um cara num local deserto e sem conhecer a pessoa?
Ele sequer viu meu caiaque, eu poderia estar mentindo e ser um ladrão!
- Seu burro, tu achas que virá alguém nos buscar?
Só falta chover!
As horas passam, pego a lanterna e faço sinais para os poucos veículos que passam pela estrada de chão. Sequer tem casas por perto, sinistro!
Às 22 h Alemão pára por ali, pergunta (de brincadeira) se não vou assaltá-lo e diz que volta daqui a pouco. Nem acredito que ele veio, já pensava em armar a barraca.
Ele retorna mais tarde, buscamos um tronco no mato para escorar a pesadíssima tampa da caçamba enquanto colocamos o caiaque na tombadeira.
Se aquela tampa soltar (deve pesar uns 200 kg), haverá neguinho morto.
Bueno, Adair diz que é bom cruzar a divisa a esta hora, poderíamos ser parados pela fiscalização se fosse de dia.
Não foi a fiscalização, foi a polícia rodoviária que nos parou, mas eles não viram o caiaque na caçamba.
Adair resolve mudar o local para me largar (iria me largar na ponte da BR 101,divisa de estados RS-SC), é mais fácil na ponte da estrada que liga a Passo de Torres, ali já é Santa Catarina o meu destino...
Ele diz que essa ponte fica sobre o canal que liga o Mampituba com a Lagoa do Sombrio.
Depois de remar um dia inteiro sob chuva, ficar “quarando”por mais de quatro horas num trapiche e zanzar de um lado a outro atrás de transporte, aqui estou eu, seguindo pela noite em um caminhão caçamba para ser largado ao lado de uma ponte desconhecida depois da meia noite...
E eu reclamando dos “loucos” de jet-ski do canal João Pedro!
Chegamos na ponte e minha lanterna resolveu não funcionar mais, tenho que achar lugar para dormir ao lado da ponte no escuro mesmo.
Pior foi descer o barranco no escuro com a “mala” pesada do caiaque, super cansativo.
Agradeço ao Alemão, sei que ele fez este carreto mais para me ajudar. Sem ele ainda estaria lá na Lagoa Itapeva, sem recurso e sem conhecer ninguém.
Armo a barraca ao lado do exíguo espaço entre o barranco e o caiaque. Tenho medo de cair no rio com barraca e tudo e morrer afogado. Nada como “viver perigosamente”.
Chove fracamente, o chão é duro, mas superamos mais um obstáculo.
“Caindo na Real”
Agora tudo isto parece que aconteceu há tantos anos.
Quando a viagem não passava de uma coisa utópica, combinei com o tio Laerte (que faz um vinho delicioso) que a gente acamparia sob uma destas frondosas figueiras, tomaria chimarrão, encheria a cara de vinho e iria mentir e rir muito ao lado do fogo de chão.
Quando lembrei da promessa, liguei (dali de Cornélios) para a tia Zoni (esposa do tio) e ela fez “cair a ficha” da realidade.
Realmente esse encontro entre parentes e amigos seria muito gratificante, mas e depois?
Como seria a despedida, sabendo que eu iria para o mar onde tudo pode acontecer?
Com o passar do tempo é melhor evitar certos tipos de emoções, não seria bom para ninguém.
Melhor é encarar estas “pedreiras” físicas e emocionais sozinho e dividir a alegria com todos no final de tudo. Assim eu não me sinto culpado se ficar no “fundo do poço”.
O meu irmão quase me “espancou” em Porto Alegre quando decidi continuar, eu sei que afeta as pessoas que gosto, mas eu sempre fui assim desde a infância.
Porto Alegre foi uma exceção da regra, estava no meio do caminho e quase sempre foi o ponto inicial e final em outras viagens.
É isso aí brody, esse é o teu destino! Seguir sozinho...
Amanhã é só seguir este canal para o norte (em segurança) mais 30 km e ver o que acontece.
Nunca atravessei uma rebentação em minha vida; o plano é treinar dois dias sem a carga e depois seguir.
Sempre que eu treinei “rolamento” tive dores lancinantes na coluna (por causa da hérnia de disco), por isto evitei treinar.
Vou deixar para utilizar a técnica quando realmente for preciso, se for para ficar “travado” que seja em combate!
Aliás o Bello (que é médico e quase irmão) falou que minha coluna iria travar durante a viagem e eu não conseguiria me mexer. Bueno, já resisti mais de 6000 km, vamos pagar para ver.
Bueno, já são mais de duas horas da manhã eu nem lembro como foi que começou o dia anterior, melhor dormir um pouco.

1º de Fevereiro de 2006 Quarta-feira 18º dia desde Porto Alegre
Sete meses e quatorze dias (224 dias desde Brasília)
Acordo cedo, arrumo as coisas, uma chuva fina molhou a barraca. Levo tudo para baixo da ponte ao lado.
O terreno embaixo da ponte está “minado” pois os mais “apertados” fizeram do local um banheiro.
Há um “perfume silvestre” no ar e tenho que me adaptar ao cheiro enquanto arrumo tudo para partir. Tenho que largar o caiaque ali embaixo da ponte, pois o barranco é alto e ali há uma parte entre troncos onde é menos difícil para baixá-lo.

Escorrego no tronco com limo, mas deu tudo certo no fim.
O dia fica lindo, não tem vento aqui e o rio parece um espelho.
Estou extremamente cansado, talvez pelo dia de ontem, por ter dormido pouco, talvez por estes sete meses e meio de loucuras
Agora é só virar para o norte e seguir seguro por, pelo menos, 30 km.
- Senhor! Olhamos no mapa, estamos praticamente na Lagoa do Sombrio...
- Seguiremos em paz por mais 30 km!
- Soldado, que dia é hoje?
- Quarta-feira, primeiro de Fevereiro de 2006
- Esse é um bom dia para se morrer!
- Como assim?
- Nós não iremos para o norte, vamos retornar ao Rio Grande do Sul (Torres) pelo rio Mampituba e enfrentar o mar.
- Mas assim, de repente?
- E os dois dias de treinamento que iríamos fazer antes de entrar no mar?
- Não haverá treinamento, simplesmente vamos em frente, será nossa última batalha, não quero mais saber de estratégia, estamos todos cansados e fatigados.
- Não me interessa avançar mais alguns quilômetros para o norte, vamos para o mar de uma vez antes que eu desista sem tentar.
- Senhor, teremos que voltar muitos quilômetros para o sul...
- Não importa, vamos resolver logo tudo isto!
É isso aí, resolvi enfrentar o mar de uma vez!
Ou vai ou racha!
As margens estão tomadas por um capim que tem muitas flores brancas. Há uma infinidade de casinhas de madeira com varandinhas onde seus moradores pescam com varas ou tarrafeiam dali mesmo, que moleza!
Há uma ponte quase ao nível da água, tenho que me abaixar para passar. Cumprimento os simpáticos moradores dali e sigo em frente.

Que gozado, estou em Santa Catarina (onde tudo iniciou) o ciclo se fecha!
Fora o Distrito Federal, este é o sétimo Estado brasileiro (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) que o Maktub atravessa, fora Paraguay, Argentina e Uruguay; já temos alguma coisa para contar.
Eu paro pra pensar: saí de Brasília no dia dezoito de Junho de 2005...
Vou em frente, parece que não estou ali, passando casebres, estaleiros e aproximando de Torres.
O pelotão farroupilha está em concentração total, parece que todos sabem que será a última batalha, a última fronteira.
Duas horas depois chego em Torres. Há uma ponte pênsil e uma balsa que liga Torres (RS) a Passo de Torres (SC). Ela é direcionada por cabos de aço que ficam presos nas margens, deve ser para compensar as forças de maré.
Tenho que verificar alguns detalhes antes de entrar no mar.
Encosto na beira, amarro bem o remo reserva na coberta de popa, coloco o colete salva-vidas (não usava desde que acabaram as corredeiras em Goiás).
Resolvo não comer nem descansar, estou muito nervoso e só quero saber de enfrentar meu destino. Resolvo também não telefonar, minha família já sofreu demais.
Entro no caiaque, faço o sinal da cruz e sigo para leste.


A barra do rio Mampituba e o mar sem abrigo do sul Barra vista do morro do Farol


Entramos num corredor de pedras, vejo enormes barcos pesqueiros entrando e saindo.
Estou apavorado, as ondas estão enormes e estouram com estrondo lá na boca da barra, para onde me dirijo. O horizonte se abre...
Bem que o mar poderia estar mais calmo (para uma primeira vez), mas as coisas nunca foram fáceis para o pelotão!
A vontade que tenho é de dar meia volta e retornar ao rio, com certeza vou me ferrar na rebentação (na hora que voltar para a costa).
Acontece que o nosso pelotão tem que abdicar dos instintos de sobrevivência mais primitivos e colocar a causa do Rio Grande acima de tudo.
Algumas pessoas acenam enquanto passo, parece que já não enxergo direito, não reparo em mais nada, apenas o local por onde tenho que passar.
Na boca da barra as altas ondulações estão estourando na barra norte, enquanto que parece haver um ponto onde não estouram, na barra sul.
Aponto para lá mas um barco de pesca entra bem por ali, fico espremido entre as pedras e deixo ele passar.
- Homens, huevos!
- Lembrem de Garibaldi na barra do Rio Tramandaí!
- Mas senhor, ele naufragou e perdeu seu barco, alguns homens morreram!
- Então não lembrem!
O pelotão farroupilha se dirige para o campo de batalha, o troar dos canhões (rebentação) não é suficiente para fazer recuar os nossos heróis que avançam em direção das altas ondulações.
O último farol fica para trás e as ondas estouram ao lado.
Fiquei sabendo depois que havia alguém do corpo de bombeiros ali na barra e que passou rádio para as outras corporações dizendo assim: “...passou um cara de caiaque e sumiu no mar”.
Sigo em frente, afastando da região onde as ondas estouram. Olho para elas meio triste, pois eu não tenho treino nenhum e sei que nunca vou conseguir atravessar uma rebentação assim.
Só consegui entrar no mar por causa da barra do rio. Vou me ferrar na hora que voltar para a costa, eu sei disso!
O meu grande problema não é “tener huevos”, isso o pelotão demonstrou que tem!
O que me falta é técnica e condições físicas (por causa da hérnia de disco e do braço esquerdo, quase reimplantado) para enfrentar um mar assim.
A grande verdade é que tenho minhas limitações físicas e que não adianta eu lutar infinitamente contra elas. Eu sofri um grave acidente automobilístico e as conseqüências decorrentes dele afloram em momentos radicais. Brabo é ter que admitir isto!
Por outro lado tenho que lembrar tudo o que fiz depois dele. Quando estava no hospital, os médicos falavam que havia possibilidade de perder o braço, não sabia se voltaria a caminhar... Aventuras de novo, UTOPIA!
Eu não perdi o braço, voltei a caminhar e saí pelo mundo a perseguir horizontes (como fazia antes).
Foi minha maneira de homenagear aqueles que me salvaram e aos que torceram por mim.
Acho que fiz valer a pena!
Essa é do filme “O Resgate do Soldado Ryan”! Ele foi salvo por um grupo de soldados e todos acabaram morrendo para salvá-lo. Antes de morrer o sargento falou:
- Faça valer a pena!
Eu não tenho mais saco para ficar esperando três a quatro dias que o mar melhore para poder continuar (como foi na viagem com o caiaque antigo de Floripa até a Guarda em 2004).
Bueno, bem ou mal nós passamos a zona de rebentação e o pelotão continua seguindo para leste, quanto mais longe da costa melhor.
Me acalmo o suficiente para tirar uma foto rara: os paredões de Torres vistos do mar!

Percebo que minhas horas aqui no mar estão contadas então eu me afasto em torno de 1 a 2 km para não ouvir mais nada, deixa para combater quando chegar a hora.
Começo a remar para nordeste e o Maktub sobe e desce imensas ondulações. Olho para o lado, vejo um barco de pesca ao longe, na linha do horizonte. O mar fica verde...



Sozinho no mundo e na imensidão do mar Last photo in the sea

Para a costa há dunas e algumas casas. É legal (e assustador ao mesmo tempo) estar navegando pelo mar com este caiaque. Já havia navegado uma vez em windsurf (viagem do Rio de Janeiro em 1985) e duas (Rio de Janeiro – São Paulo em 1996 e Florianópolis – Guarda do Embaú em 2004) com o caiaquinho antigo pelo mar.
Afastado de tudo e todos o que mais chama minha atenção é o silêncio e as altas ondulações, lembro da tempestade durante a noite no mar, na viagem do Rio de Janeiro com o outro caiaque. Aqui no fundo está calmo, mas eu sei que o bicho vai pegar quando eu voltar para a costa.
Enquanto o Maktub segue em frente vou escutando minhas músicas preferidas mentalmente: (Knocking on Heaven’s Door - Guns N’Roses, Wish you Were Here- Pink Floyd, Stairway to Heaven- Led Zepplin, Let it Be - Beatles, Smaointe - Enya e Redemption Song - Bob Marley).
O pelotão não se importaria de morrer se escutasse estas músicas nos momentos finais, não estaríamos mais no corpo, mas “viajando pelo espaço”.
A diferença é a costa, era muito bonito no Rio de Janeiro e em Florianópolis (a ilha), aqui é uma linha reta, sem baías e difícil para encontrar lugar para dormir.
Sigo mais afastado da costa e sinto um misto de paz e apreensão. No começo dá um nervoso, mas depois o cara vai se acostumando a estar ali sozinho, é só tu e Deus!
- Senhor, a tripulação está cansada e apreensiva, até quando vamos sobreviver?
- Quantos quilômetros faltam para chegar a Florianópolis?
- Cerca de 200 km, no máximo em uma semana!
- E quantos foram de Porto Alegre até aqui?
- Cerca de 300 km, mais a parte terrestre (cerca de 25 km)!
- E se a gente não seguir em frente?
- Senhores, reunião no portaló!
- Estamos reunidos aqui no mar para decidir se continuaremos essa luta que atravessou o coração da América e que se arrasta através dos tempos.
- Acho que estamos enfraquecidos (pelos combates da vida) e sabemos que não iremos conseguir romper a rebentação, podemos fazer esta parte mais tarde ou buscar novos horizontes e batalhas, acho que todos estamos fartos de água, ainda mais que aqui é tão feio, não me sinto motivado.
- O sonho acabou!
- Como é que se desiste tão perto assim, de repente?
- Da mesma maneira que tudo começou... De repente. - Sem pedir nem dever nada a ninguém.
Resumindo: Enchi o saco de quase morrer, estou cansado e não me sinto motivado.
Sei lá, a verdade é que minha paciência chegou ao fim, não vou ficar três a quatro dias parado em um mesmo lugar esperando que o mar me deixe seguir em frente.
Já percorri mais de 6.050 km, 200 km não vão provar ou desmentir coisa alguma.
Seria apenas para ter um palco iluminado no fim e nosso pelotão não precisa disto.
Estamos aqui apenas pela alegria da aventura e quando ela acaba, nada mais faz sentido, tenho que ser coerente comigo mesmo.
Iniciei isto tão sozinho como estou terminando, a única diferença é que em Brasília estava o meu amigo Aldo.
Bem ou mal voltei a Santa Catarina remando, é algo que me enche de orgulho e nada vai apagar tudo que foi feito.
Converso comigo mesmo:
- Brody, tu não irás te arrepender depois?
- Negativo! Estou bem ciente do que estou fazendo e não irei me arrepender depois, acho que fomos vitoriosos. Voltamos a Santa Catarina remando...
- Estou em paz comigo mesmo!
Bueno, parece que está tudo acertado comigo mesmo, é cedo ainda, poderia seguir adiante, mas resolvo ir para a costa assim que encontrar um povoado onde possa deixar o caiaque e ser resgatado ou pelo Robson ou pelo Aldo.
Ao mesmo tempo não pode haver gente dentro da água onde eu escolher para voltar para a costa, sei que o caiaque ficará sem contrôle nas ondas e pode matar algum banhista se for jogado pelas ondas sobre alguém.
Avisto um povoado, mas há pessoas no mar. Resolvo passar um pouco da praia onde há uma guarita de salva vidas. Depois da guarita parece não haver ninguém, só terei certeza quando me aproximar da costa.
Vejo um telhado escuro com algo escrito em cima, ali diz:
Bella Torres
I la nave va!
Vejo uma guarita de salva-vidas e em frente dela há banhistas. Avanço mais para o norte na direção do prédio de telhado escuro. Lá não tem ninguém na água, passo do prédio e embico na direção da costa.
As ondulações estão grandes e estouram com violência, mesmo longe da praia.
Vou me aproximando...
- Senhor, consegue ouvir os canhões?
- Sim, preparem-se para viver ou morrer, vamos tomar aquele povoado!
- Evitem os civis, eles são simpáticos à nossa causa!
- Calar baionetas, todos a seus postos de combate!
- Soldados, lembrem do Rio Grande e coloquem o coração na ponta da lança!
As paredes de água crescem atrás de mim e o caiaque toma velocidade. Escoro o remo para mantê-lo perpendicular à onda.
Outra onda se aproxima, o caiaque corre de novo e despenca, estamos agüentando o ataque. Consegui surfar em três delas!
O inimigo bombardeia sem parar e nossos heróis tem apenas a coragem...Só isto não basta!
Uma onda despenca bem nas minhas costas ao mesmo tempo que somos arremessados para a frente e envolvidos por uma barafunda de água.
O caiaque vira! Tento ou não tento o rolamento?
Abro o manual:
1º incline o corpo para a frente com o remo paralelo ao barco
2º segure uma das pás com a mão esquerda ao mesmo tempo que estica o braço direito puxando sobre a cabeça a pá direita. Ela tem que estar perpendicular à superfície e bem rente à água.
Acontece que estou de cabeça para baixo num turbilhão de água salgada; antes da 3ª instrução já abandonei o navio!
Brody, cai fora! Deixa que o caiaque vai para a beira!
Saio do caiaque e vejo uma onda atrás de outra estourando sem parar.
Meu plano é nadar ao lado dele e deixar que as ondas o levem para a costa. Está muito fundo e estamos bem longe da praia.
Então ficamos assim, com um pouco de contrôle mas sem contrôle, entende?
Para piorar, vejo duas crianças se dirigindo para o mar bem para onde o Maktub está sendo levado.
Nado um pouco, tento empurrar o Maktub, mas não é fácil avançar para a praia
- Merda, esses pentelhos tinham que entrar justo agora?
- Senhor, o soldado Maktub está morrendo e eles não param de atirar.
- O cabo de segurança do soldado Remo rompeu e ele está lutando com as ondas!
- Agora duas crianças entraram no fogo cruzado, se não fizermos nada elas podem morrer!
Não posso seguir o plano original e deixar o barco seguir nas ondas, tenho que segurá-lo para que não atinja as crianças.
Primeiro eu nado atrás do remo e depois tento alcançar o barco no meio da barafunda de ondas. Coloco o remo dentro do cockpit e tento manter o contrôle da situação.
Está perigosíssimo ao lado do barco, são quase 80 kg sem controle e estou só com a cabeça fora da água. Com a mão esquerda seguro o caiaque emborcado tentando deixá-lo de bico para a praia.
KNOCKING ON HEAVEN’S DOOR
Uma onda enorme levanta a mim e ao caiaque como se fôssemos nada.
Sem poder ver coisa alguma, despencamos na onda e como estou de colete (mais leve), sou jogado para a frente do caiaque. Mal tenho tempo de subir e pegar ar. Outra onda levanta o caiaque e o arremessa para cima de mim.
Isto não foi o pior, ele entra de bico na minha cabeça e não vi mais nada. O impacto foi muito forte e quase “apaguei”.
- Acertaram o tenente Issi!
- Ele morreu?
- Tu esqueceu que ele é “High Lander”?
- Ele está ferido no campo de batalha, mas não podemos ajudá-lo!
- Está cercado pelo inimigo que tenta abatê-lo de qualquer jeito!
- Acho que dessa vez ele não escapa...
- Pode vê-lo?
- Está escuro demais para ver, a grande nuvem negra já o envolveu...
- Já está batendo na porta do céu...
- Veja...
- Não acredito... Ele ainda está lutando!
Engana-se quem pensa que tudo acabou!
Um filho do Rio Grande não se acovarda diante da morte.
Mesmo ferido em combate o tenente reage e reagrupa o pelotão para enfrentar o inimigo...
- Soldados, não recuem, lutaremos até o último homem!
- Continuem peleando, o pelotão nunca se rende!
- Vamos tomar aquela praia!
- Tentarei salvar os soldados Remo e Maktub, dêem cobertura...
Diante de tanta coragem e desprendimento de seu comandante (que os levou tão longe), aos homens só resta combater com orgulho e valentia...
Os homens lembram da saudação dos gladiadores aos imperadores de Roma antes dos combates (AVE CESAR MORITURI TE SALUTAM) e a repetem ao seu comandante:
- Comandante, os que vão morrer te saúdam!
Na popa do caiaque há uma ferragem de alumínio que segura o leme. Foi essa ferragem que me acertou um pouco acima do olho direito e esmagou a orelha do mesmo lado.
O leme (de fibra de vidro) bateu no meu rosto e se partiu.
Ao ver o Maktub ferido desisto de me vingar!
Sequer tenho tempo para pensar ou sentir dor, vejo o caiaque se dirigindo na direção das crianças e nado para segurar o corno. Enfio o remo dentro do cockpit.
Ele rola como um jacaré e quase me atinge de novo. Berro desesperado para as crianças saírem da frente, mas os pentelhos ficam só olhando e não se mexem.
Acho que não me escutam pelo barulho das ondas.
Consigo tomar pé e aceno para que saiam da frente, eles olham para mim e saem correndo.
Os pestes estão com medo de mim e não do caiaque...
Só então eu vejo que há bastante sangue no meu colete e que o mar está lavando
Essa ferragem cortou acima do supercílio, esmagou a orelha e o leme se partiu no meu rosto
Leme Antes Depois Ficou no 1 x 1


Consigo chegar na beira e eles vêm oferecer ajuda.
Fazem caretas que eu tenho que me segurar para não rir. Depois aparece uma gatinha tão linda que quase faz o olho bom saltar fora da órbita.
Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Parece que tem um lobo na praia, he, he!
Ela pergunta se eu não preciso de nada...
Ai Jesus!
- Bem que um “cafuné” não seria mal. Acho que estou precisando de um “colinho”, he, he!
Depois chega seu Arlindo e Guilherme. Viro o caiaque para esgotar a água e levá-lo um pouco mais para cima.
Abro os compartimentos estanques, não entrou uma gota de água, achei que tivesse perdido a filmadora.
Chega Rafael, ele é bombeiro (salva-vidas), diz que os bombeiros de Torres me viram saindo no rio Mampituba e passaram rádio. Rafael me procurava com o binóculo, mas como eu estava muito para fora eles não me viram passar em frente a sua guarita, apenas quando cheguei à praia.
Ele pede para examinar o ferimento, diz que é bem profundo e que terei que levar pontos.
Eu só ri e disse que cortava do outro lado mas não tomaria injeção.
Que fique a cicatriz como mais uma “medalha” de batalha! É só mais uma...
Chega o colega dele, é Borges. Eles são muito legais.
Resolvo registrar a chegada e tirar uma foto com a turma que me recebeu. Eu sonho em tirar uma foto ao lado daquela gatinha (tirei várias), mas a menor dá um jeito de se meter no meio em todas as fotos. Que raiva, grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Que viagem! Terminou como começou, emoções para ninguém botar defeito!

Bueno, bem ou mal eu consegui sair dessa.
Não foi dessa vez,
ACABOU!
- Senhor, nós perdemos?
- Soldado, nós somos como os guerreiros farroupilhas.
- Gente assim nunca perde, dá exemplo!
- Certamente seremos lembrados nos lábios de algum velho nos galpões de estância por onde passamos.
Haveremos de nos encontrar além de terras e através dos tempos!
Essa viagem não poderia terminar sem essa “experiência” nas rebentações. Eu tinha que passar por isto e parece que tirei um peso dos ombros.
Agora posso dormir em paz... Até a próxima viagem, he, he!
Hasta la Vista!
(Clique 2 x)  (clique 2 x)


Recuerdo de meus amigos Rafael e Borges na ida a Araranguá Remendo sem pontos nem injeção


Corpo de bombeiros de Araranguá Aldo Speck e caiaque na pousada da Guarda do Embaú



O INÍCIO O FIM
18 de Junho de 2005 1º de Fevereiro de 2006

Outra coincidência: terminei de transcrever o diário hoje, 18 de Junho de 2006. Exatamente um ano depois de ter iniciado a viagem em Brasília...
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Impossível é só uma palavra que usam os homens fracos para viver facilmente no mundo que receberam sem atrever-se a explorar o poder que têm para mudá-lo.
Impossível não é um fato, é uma opinião!
Impossível não é uma declaração, é um desafio!
impossível é potencial!
Impossível é temporal!
IMPOSSÍVEL É NADA!
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E-Mails:
Issi meu irmão é o comandante do pelotão do Corpo de Bombeiros de Araranguá onde fostes alojado....Kemper.....hehehehe..que coincidência...beijos! Cristina Kemper
Obs. Cheguei a agradecer ao comandante de Araranguá pelo alojamento na corporação (suíte com ar condicionado e TV) e nem sabia que era irmão da Cristina. Eu a conheço há 15 anos... Ela é paciente do consultório e uma grande amiga!

HOLA ANDRES:
ESTA DEMAS QUE TE FELICITE Y DEMAS ESO DALO POR HECHO,TE CUENTO QUE ESTAMOS MUY CONTENTOS QUE YA ESTES EN TU CASA,FUERON 7 MESES Y MEDIO QUE NOS HICISTE VIAJAR JUNTO A VOS,FUE VERDADERAMENTE ESPECTACULAR,Y SOS UN EJEMPLO DE VIDA, BUENO AHORA TE ESTAMOS ESPERANDO QUE VENGAS EN MOTO COMO LO PROMETISTE,UN FUERTE ABRAZO TU HERMANO DE ROSARIO.
Paco Vignati

Vi las fotos!!!!, Que le hace una mancha mas al tigre...Queria
felicitarte por el viaje que ya debe de estar concluyendo y que
seguramente como todos nosotros ya debes de tener varios mas en
mente... Un abrazo grande Aldo D’Angelo

Querido amigo
que bom receber notícias tuas .
adorei o texto e gostaria que me mandasse as fotos.
aquela tua com o corte na cabeça sempre me impressiona.
ontem fez um ano que meu pai faleceu, por isso, fiquei com o coração apertado ao ler da primeira reunião de família com teus irmãos e tua mãe.
fica com o meu carinho e saudade
Não consegui estudar antes de ler teu diário..
sensacional...escreves muito bem ..e toda vez que as consultas ao pelotão entravam em cena meu coração batia mais forte..
impressionante a força que a palavra escrita tem, ainda mais na voz de um amigo!
espero ver teus textos compilados num belo livro de aventuras ..livro com fotos é claro..
pois apesar da idade..ainda gosto de livros com fotos.realmente tu és um Louco..
mas o que seria da vida sem os Loucos..
Então brindemos................Tu és o meu herói número 1!! Grande abraço
Kátia Cunha
Conclusão: vaso ruim não quebra, pode ficar tranqüilo que nada vai te acontecer! Tua morte vai ser eletrocutado no liquidificador. hahahaha, boa sorte tranqueira. até mais, Robson.
Dai irmãozinho, seja bem vindo a civilização novamente, sei que vai levar tempo para voltar a normalidade do dia a dia que vc tinha antes da sua viagem, mais logo já estarás acostumado e no nosso ritmo. Pena que não deu para continuar depois do acidente, também não sei qual é a sua idéia, se vai continuar onde parou ou deu, chega e zé fini, descanso merecido.
Na Guarda a gente se cruza e colocamos o papo em dia OK, um grande abraço e agora vai curtir um pouco o astral da Guarda que ta muito bom valeu.
Um grande abraço do amigo Jorge.
P.S. só pra lembrar o Samuel (meu filho) já esta na área.
Andrezão
Acabei de ler o teu diário livro neste domingo e tive certeza de duas coisas: a primeira é que tiveste 2 anjos da guarda te cuidando em todas as quedas e acontecimentos que teriam matado um simples mortal: o primeiro é o teu pai, também um guerreiro, que te estendia a mão e te jogava para cima sempre que necessário. O segundo anjo da guarda é o teu filho ou filha que vai ainda nascer e que deseja continuar esta saga. Cara, tenho certeza de que um filhote agora seria uma nova aventura para ti, para ensinares o que tens no interior e contar para ele ou ela todas as aventuras que tu já fizeste, para poder te acompanhar em outras tantas e para poder fazer as dele (ou dela) dando seqüência a tua vida e a do teu pai. Carinha, eu tenho uma filha de 3,5 anos e relutei muito em aceitar e tomar esta decisão, mas hoje eu olho nos olhos dela e no seu sorriso e sei que ali está a minha maior aventura: ensinar outra criatura que é parte tua a seguir viagem. Estava conversando um dia com um amigão e ele me disse: e quando tu ficar velho quem vai ficar contigo, quem vai te escutar, quem vai dar continuidade aos teus sonhos? Fiquei muito tempo com estas perguntas na cabeça até que cai na real e, é claro, tendo ao lado a mulher certa, me atirei na aventura. André, pude te conhecer na intimidade e tenho certeza que seria uma ótima para ti. Pense nisto caro amigo pois estas certezas eu tive ao ler tuas notas: tu passaste por tantas que tinha que ter alguma coisa querendo que continuasses nesta terrinha mais algum tempo. Concordas?
Um abração e logo passo por aí.
Aristeu C. Kautzmann Filho

Hola André !!
Desde la Tapera te mandamos un fuerte abrazo de parte de todos los muchachos.
vi las fotos , el corte parece bastante grande .
entonces vas a terminar el viaje ahi?
Hubiese sido mejor esperar a que el mar este un poco mas calmo , pero ya se como es eso, cuando uno tiene ganas de salir al mar, no importa nada.
Pero bueno , me pone muy contento que la estes pasando bien , y espero que nos veamos pronto
un fuerte abrazo
Diego Ross

Oi Danilo, A viagem terminou como começou, sem muito alarde, conversando comigo mesmo. Já não havia mais fantasia, objetivo ou ideal.
Simplesmente eu iria prosseguir para dizer que havia feito, e não preciso disto, ter que provar algo para alguém que não seja eu mesmo.
Eu nunca ganhei nada (nestas viagens) além de amigos e isto foi o que realmente de valor eu encontrei.
Adorei ter partilhado isto tudo com pessoas como tu e o Rodrigo, foi emocionante e aquela manhã de 18 de Dezembro quando os conheci pessoalmente foi inesquecível, um verdadeiro caldeirão de emoções. Aquilo é o que eu gosto, o que aprendi que realmente vale a pena. Ir 100 ou 200 km a mais não fariam diferença, pois eu sei muito bem que sempre haverá o dia seguinte: o anterior se torna apenas mais uma boa recordação. Um grande abraço. Muito obrigado por tudo! André!

Oi André, estou chegando de Rio Grande. Todos gostaram de te receber por lá. O Guto (comodoro) comentou tua estada. E o Henry Talhamar também. Disse que dormiste no Nabus Horrendus dele. Gente boa aquela. Quanto ao mar, que posso te dizer, a não ser que já fizeste bastante? Fico contente em saber que chegaste em casa são e salvo e ainda feliz. Certamente foi uma grande aventura com um saldo muito positivo, não só para ti, mas para tantos quantos souberam dela. Trouxe entusiasmo, emoção e alegria a muita gente. Ensinou que a gente consegue o que almeja, por mais avantajado que possa parecer. Ensinou também que em um mundo de tanta tecnologia para a navegação é possível navegar milhares de milhas sem usar sequer cartas náuticas. Foi um grande prazer para mim poder ter acompanhado tua aventura. Parabéns por ter finalizado a jornada e espero que possas vir a mostrá-la através de um livro.Quando vieres a Porto Alegre, me procura, por favor. Se quiseres escrever tuas impressões para o popa, será um prazer publicar. Pensei em uma abordagem sobre o prazer da aventura, da conquista, de vencer as dificuldades, essas coisas. Abraço, Danilo.

Amigo André...sos parte de nuestra familia...guardamos un gran recuerdo en nuestros corazones...
Tengas muy buena vida: Tu hermano Ernesto...

Pois é já tive por aí (Tramandaí)!É uma viajem esses juncos, tu pode balizar as entradas pelas árvores do horizonte, os pescadores sempre deixam uma ou duas árvores, ou estacas em pé pra isso. Descobri isso na 2 vez que eu fui, na primeira me perdi feio!
Fomos no hotel e na Branquinha (a Lan House de Tramandaí) 2x cara, e não te achamos, ao menos não te reconheci, uma pena! Eu e a Lucina, minha mulher, saímos tri entusiasmados de bicicleta pra te conhecer e não te vimos.
Na hora que tu telefonou eu tava acabando de preparar o caiaque pra ir de Imbé até a lagoa da Pinguela, fiquei tri atrapalhado. Tu deve ter feito esse mesmo trajeto no Rio Tramandaí, só que foi pra Lagoa dos Quadros, nós, no final do rio, dobramos a esquerda e passamos mais 2 lagoas ( VENTO, ONDAS E JUNCOS.....) até um camping na Pinguela. Eu vi que tu te esfolou na cara e quebrou o leme, cara..... tá novo?
Abraço,Callegari

LEVANTA GAUCHO O MINUANO ESTÁ CHAMANDO
E O RIO GRANDE PRECISA ESCUTAR...
O RIOGRANDE, SANTA CATARINA O BRASIL E O MUNDO PRECISAM SABER,
QUE SOMOS BRASILEIROS POR OPÇÃO E GAÚCHOS DE NASCIMENTO,
OBRIGADO ANDRÉ POR ME LEMBRAR DESSAS PALAVRAS
QUE TANTO OUVI DE MEU QUERIDO TIO E SOGRO
POR QUE NÃO DIZER MEU PAI DIMAS COSTA,
TUA RAÇA E DETERMINAÇÃO TEM QUE SER ENALTECIDA E GRITADA PELOS QUATRO CANTOS DO MUNDO,
QUE SIRVA DE EXEMPLO PARA NOSSOS FILHOS NETOS E TODOS OS GAUCHOS DE VERDADE, POR QUE BASTA DE FALSOS HEROIS ESTRANGEIROS, POIS TEMOS EM NOSSA TERRA NOMES COMO TU ANDRE E TANTOS OUTROS OBSTINADOS LUTADORES E GUERREIROS PERSEGUIDORES DE SEUS SONHOS E IDEAIS,
MUITO OBRIGADO.
TCHAKA



# posted by Corpo de Bombeiros de Araranguá @ 8:55 AM 1 comments links to this post
Domingo, 17 de Dezembro
Quinta-feira, Novembro 09, 2006

Aventureiro visita o Corpo de Bombeiros de Araranguá


André Issi é conhecido por suas diversas viagens pelo continente. No início desse ano ele completou uma travessia que levou 7 meses pelos rios brasileiros e Argentinos a bordo de um caiaque, e sozinho.
Sua partida se deu em Brasília - DF, passando pela Argentina e terminando no município de Passo de Torres - SC, quando ele resolveu sair das calmas águas dos rios e adentrar ao oceano pela primeira vez. Quando os Guarda-vidas viram o mesmo passando pela barra de Passo de Torres logo o perderam de vista. Então acionaram os demais postos de salvamento avisando do acontecido. Algum tempo depois ele foi avistado no Balneário de Bella Torres, onde sofreu um acidente devido ao mar revolto, que resultou em um corte no seu supercílio, e uma avaria na caiaque que encerrou a viagem.
Foi atendido pelos Guarda-vidas do Corpo de Bombeiros de Araranguá que atuavam naquela praia, os quais, além de prestar os primeiros socorros, ainda ofereceram uma carona a ele e a seu caiaque até Araranguá, onde no quartel do Corpo de Bombeiros ele tomou banho, se alimentou, e acabou dormindo para só no outro dia seguir viagem até a praia de Guarda do Embaú, onde ele é dono de uma pousada chamada MAKTUB.
A recepção oferecida pelos bombeiros naquela ocasião o agradou tanto, que ele hoje, quando estava retornando de uma viagem que fez até a Argentina em uma moto 125 cilindradas, o solitário aventureiro retornou ao nosso quartel para mais uma vez agradecer seus novos amigos.
Nos mostrou suas novas fotos ainda informou que pretende ir, acredite se quiser, até o Alaska.
Já seria muito, mas André pretende fazer o percurso montado em um cavalo.
Boa sorte ao nosso amigo, que largou sua almejada profissão de Cirurgião Dentista para percorrer o mundo atrás de aventura.

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Domingo, 17 de Dezembro